A Lenda de Korra: O Que Essa Animação Pode Ensinar Sobre Identidade e Mudança

Quantas vezes pensamos que animações como A Lenda de Korra são feitas apenas para crianças? Essa obra, no entanto, ensina lições profundas sobre identidade e mudança. É natural que, devido ao seu estilo e formato, cheguemos a essa equivocada conclusão; pois, quando mergulhamos para além do verniz superficial que compõem tais obras, percebemos que suas reflexões são tão profundas quanto uma obra clássica. A Lenda de Korra, uma animação lançada entre 2012 e 2014, é um destes casos.

Capa da animação: Avatar a Lenda de Korra
Capa da animação: Avatar a Lenda de Korra

Não é possível, entretanto, falar de A Lenda de Korra sem nos ambientarmos ao universo a que ela pertence: A Lenda de Aang, ou, simplesmente, Avatar! Em um mundo fantástico em que muitas pessoas dominam elementos da natureza como a água, o fogo, a terra e o ar, surge, a cada cem anos, um Avatar, alguém capaz de dominar todos os elementos e ser o regente do mundo, levando a humanidade ao seu caminho espiritual. Entretanto, em um cenário em que o Avatar desaparece, ocorre um caos político em que um grupo de pessoas tenta dominar os demais. O mundo entra em desequilíbrio e é o papel do Avatar retornar ao equilíbrio.

Criada por Michael Dante DiMartino e Bryan Konietzko, a série rapidamente mostrou que não se tratava apenas de uma continuação da história de Aang, o Avatar que restaurou o equilíbrio do mundo, mas de uma obra com identidade própria, com temas mais maduros e questionamentos que ressoam fortemente na sociedade contemporânea. Assim, Korra fala muito mais com os adultos do que necessariamente com os espectadores infantis e pode ser uma grande referência de conduta para todos nós, aprendendo assim com seus erros e acertos. 

Vale destacar que, naturalmente, por ser uma série focada para o público infanto-juvenil, A Lenda de Korra é um show à parte de animação, com lutas e movimentos que enchem os olhos dos que adoram esse universo. Reforçamos, mais uma vez, que sua grande virtude está nas lições aprendidas e não na maneira que tecnicamente foi executada a série. Mais do que lutas épicas e dominação dos elementos, A Lenda de Korra nos convida a refletir sobre identidade, equilíbrio emocional, política, espiritualidade e o peso de carregar responsabilidades.

O universo de Avatar

Como já apontamos, Korra é a sucessora de Aang, o protagonista da série anterior (A Lenda de Aang), e representa a nova geração de Avatares. Ela nasce na Tribo da Água do Sul, já dominando três dos quatro elementos desde pequena, revelando assim sua natureza para ser a nova regente do mundo. 

Korra crianca

Apesar do seu talento para dominar os elementos da natureza, Korra precisa ser educada para se controlar, afinal, continuava sendo uma criança. Assim, em muitos momentos, Korra possui muita força e determinação, porém, também é cheia de impulsividade, orgulho e vaidade. Nesse sentido, Korra precisa aprender a lidar não somente com os elementos da natureza, mas consigo mesmo. 

Além disso, há diferenças gritantes entre Aang e Korra, devido ao próprio tempo em que vivem na série. Enquanto Aang precisa lidar com um mundo em guerra, extremamente dividido e com nações dispostas a subjugar outras, Korra vive em um mundo de relativa paz, que está aprendendo a apreciar a calmaria. Porém, esse mundo em transição exige sabedoria nos momentos de tensão para aprender a lidar com diferentes reivindicações e pontos de vista. No mundo de Korra, os vilões não são tão fáceis de detectar e se misturam na multidão, diferente de Aang que sabia com quem precisava lidar desde o começo.

Korra e Aang
Korra e Aang

O que podemos aprender com Avatar?

Embora seja uma animação voltada inicialmente para o público jovem, A Lenda de Korra não hesita em abordar temas complexos. Ao longo de suas quatro temporadas, vemos Korra enfrentar não apenas vilões externos, mas também inimigos internos: o medo, o trauma, a dúvida e a perda de identidade.

Cada temporada traz um antagonista diferente, com ideologias distintas. Seu primeiro desafio, por exemplo, é Amon, líder do Movimento Igualista, que quer eliminar a dominação dos elementos para garantir igualdade; afinal, em um mundo em que há pessoas que dominam os elementos e outras não, quem não possui essa habilidade está sempre a mercê daqueles que são capazes.

Amon, Líder dos Igualitários.
Amon, Líder dos Igualitários.

Podemos perceber que há um ponto de relevância no argumento do vilão, o que muitas vezes pode nos levar a concordar com sua perspectiva, apesar dos seus métodos serem malignos. O pensamento de que “o fim justifica os meios” perpassa toda a série e aparece em vários antagonistas, o que torna a narrativa da série mais complexa e profunda, nos levando assim a questões pertinentes nos dias atuais.

Como toda saga heroica, cada vilão faz Korra crescer espiritualmente, fazendo-a perceber seu papel no mundo e ganhar maturidade. As lutas e desafios enfrentados a tornam forte não apenas no sentido físico, mas também na sua moral e espírito. Nesse aspecto, a série dá profundidade até mesmo aos antagonistas, pois apesar de cumprirem com o papel de vilão, eles ajudam a jornada de Korra a se desenvolver, deixando de lado o aspecto “tradicional” do vilão que é maligno apenas pelo prazer de ser.

Todos esses aspectos demonstram como A Lenda de Korra é mais do que uma continuação digna de A Lenda de Aang. Esse é um grande conflito entre os fãs da série, que muitas vezes não entendem bem a ideia de fazer uma nova sequência do universo de Avatar e comparam, naturalmente, as duas histórias. Deixamos claro, entretanto, que Korra não é uma mera continuação, mas, sim, uma história própria, capaz de inovar e trazer elementos novos e ainda mais profundos do que o primeiro Avatar

Korra representa uma nova era: mais conectada com as emoções, mais aberta à mudança e mais preparada para enfrentar um mundo em constante transformação. E talvez seja isso que todos precisamos aprender: a lidar com o novo. 

Korra

Quantas vezes rejeitamos as novidades e ficamos presos em um modo de pensar, sentir e agir que é pouco adequado ao mundo atual? Isso não significa abraçar o novo a qualquer preço, mas entender que a mudança é uma parte indelével da evolução, ou seja, que só pode existir uma melhora quando há, necessariamente, uma mudança. Não precisamos mudar algo fora, que é o mais fácil e simples, mas, sim, algo dentro de cada um de nós, como fez Korra ao longo de sua jornada. Cada novo desafio existe para que possamos aprender, e só isso.

O verdadeiro domínio, por fim, não é está em controlar o fogo, a água, o ar ou a terra, mas, sim, em compreender a si mesmo e caminhar com equilíbrio, mesmo em meio ao caos. Por isso, insistimos em apontar que A Lenda de Korra não é apenas a continuação de uma história e muito menos uma animação feita somente para crianças. Acima de tudo, a saga dessa heroína inspira uma nova geração a buscar força, sabedoria e coragem.

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