O meio ambiente precisa ser salvo pelo ser humano. Esse é um fato, visto que nossas ações continuam a devastar ecossistemas e acelerar o aquecimento global, um fenômeno natural que está sendo antecipado por conta de nosso modo de vida. A poluição de rios, lagos e o crescente número de gases poluentes na atmosfera não são efeitos de outras espécies a não ser da nossa.
A situação agrava-se pelo fato de que construímos um modo de vida que depende do alto consumo de combustíveis fósseis e, naturalmente, do desequilíbrio ambiental. Será possível, então, combater a crise ambiental que vivemos sem mudar radicalmente nossa forma de vida?

Um exemplo alarmante são as queimadas na Amazônia que, ano após ano, ocorrem de maneira desastrosa e geram graves consequências ao nosso país – e ao mundo. Muitos de nós, que não estamos diretamente ligados a esse problema por não morar na região, muitas vezes ficamos chocados com as notícias que nos chegam, mas, infelizmente, rapidamente esquecemos da gravidade dessa situação e passamos para outra pauta do noticiário. Será que podemos ajudar a diminuir esse mal que consome a nossa floresta, uma das maiores do mundo?
O jogo dos discursos sobre a Amazônia
Apesar do choque que as imagens sobre as queimadas na Amazônia nos causam, devemos apontar que o discurso ambientalista não é o único que há sobre esse tema. Há quem defenda a necessidade de queimada das áreas para a produção, uma vez que é preciso limpar o pasto antigo para uma nova safra. Além disso, também nota-se que as queimadas, uma vez fora de controle, também prejudicam muito os fazendeiros que perdem parte do seu gado e obtêm prejuízos.
Quem está correto? É evidente que estamos no meio de uma troca de discursos: de um lado, um grupo que tem como foco principal os bons resultados na economia; e do outro, um grupo que busca um equilíbrio na preservação do meio ambiente. Entretanto, se num primeiro momento parece uma escolha “simples”, devemos considerar que o mundo não pode ser explicado apenas por dois lados de uma mesma moeda, logo, há muitas nuances em cada um destes pontos que devem ser levados em consideração.
Um exemplo é o de que se não pensarmos na economia do nosso país, que em grande parte depende da produção agrícola dessas regiões, podemos colapsar nosso sistema financeiro, gerando um problema em toda nação e atingindo milhões de pessoas. Esse é um grave problema, sem dúvidas, e que tem como causa a sustentação de uma economia bilionária em apenas um pilar, quando, a bem da verdade, poderíamos diversificar nossa produção em mais setores.
Por outro lado, a destruição de áreas cada vez maiores pode, de fato, gerar um grande problema mundial, uma vez que a Amazônia é uma das maiores florestas ainda com um relativo estado de preservação. A pressão mundial em torno da sua manutenção é válida, porém, não devemos nos furtar de notar que essas mesmas potências preocupadas com o meio ambiente também, ao seu modo, destruíram suas próprias reservas ambientais em prol de uma economia robusta.
Entre tantas notícias de jornais, posts em redes sociais e pronunciamentos oficiais das autoridades, relatórios de ongs e tratados ecológicos internacionais que movimentam bilhões de dólares, o difícil é encontrar alguém que realmente esteja preocupado com a ecologia. No vídeo abaixo, o biólogo e embaixador do ecoturismo brasileiro, Richard Rasmussen, faz uma análise sobre a situação das queimadas na Amazônia.
Tudo isso, sinaliza a confusão generalizada das nossas concepções a respeito do nosso meio ambiente. O desafio de cuidar das poucas reservas naturais existentes no mundo e de pensar em estratégias de preservação dos ecossistemas, sem desconsiderar a importância do desenvolvimento tecnológico, é uma tarefa muito mais árdua do que se pode supor.
Por um lado, as crenças no uso indiscriminado dos recursos naturais já nos demonstraram que o seu potencial de renovação não é algo realizável em uma escala de tempo útil para a média de expectativa de vida humana. Ou seja, se continuarmos a insistir na prática de determinados comportamentos diante da Natureza, há indícios de que em algumas décadas nossa situação pode se tornar crítica, pelo menos nos meios urbanos. Logo, não é possível mantermos o mesmo estilo de vida e consumo desenfreado sem afetar diretamente o nosso planeta.
Por outro lado, há um grave tom alarmista e, em algum grau, um terrorismo midiático que declaram que “O fim está próximo”, com a mesma convicção de um líder de seita apocaliptica. Tal estratégia de informação serve para assustar as pessoas e, consequentemente, torná-las facilmente manipuláveis, afinal, quando estamos com medo, tendemos a agir de modo a buscar a nossa preservação. No entanto, não podemos nos deixar enganar e pensar que tais ações são fruto do acaso, mas sim uma receita várias vezes usada na história para conduzir a população a interesses particulares.

Indo além das opiniões: o que podemos fazer para ajudar o meio ambiente?
Percebemos que os vários debates acerca do tema têm sido carregados de palavras acusatórias, trocadas por representantes de grupos que se consideram portadores da solução mágica para todos os problemas. Mas, Independente da corrente política, da religião ou da classe social a que pertencem esses representantes, no fundo, há um acordo tácito e unânime de ambas as partes no que concerne à necessidade da preservação da Natureza, e que precisam encontrar formas eficazes para se evitar os desmatamentos ilegais e as agressões sofridas pelas reservas naturais.
E é esse ponto que une a todos, que nos interessa para fazermos as reflexões sobre a nossa relação com o planeta. Afinal, mesmo que possamos ter posições diferentes quanto ao assunto, todos nós vivemos no mesmo planeta, pois precisamos do mesmo oxigênio e dependemos, necessariamente, de um meio ambiente que seja propício à vida humana. Logo, a causa da preservação ambiental não se trata de uma preocupação de uma classe específica, mas sim de toda a humanidade.
Diante dos vários conceitos no dicionário sobre o termo Meio Ambiente ou Ecologia, há uma analogia que sintetiza ambos os conceitos: a análise das relações de correspondência mútua entre os seres vivos e o meio social, econômico ou moral nos quais estão inseridos. Para alguns, pensar na Ecologia é pensar no propósito do equilíbrio entre o homem e o seu meio de convívio natural, ressaltando que o indivíduo é um nó de relações para todos os lados e entre todas as cadeias de seres vivos.
Porém, muitas vezes temos a impressão de que o homem moderno está fora deste sistema, está separado da Natureza. Alguns pensam que ele está acima dela, como se fosse um consumidor e o meio ambiente, o fornecedor de seus produtos. E outros, igualmente radicais, pensam que estamos abaixo da Natureza, e que o Ser Humano é uma doença para o planeta.

Há 400 anos, construímos um tipo de sociedade que montou um modelo de desenvolvimento civilizatório que tinha como objetivo as práticas sistemáticas de extração e acúmulo de recursos da Terra. Sem dúvidas, os valores e as ideias que levaram ao avanço tecnológico das sociedades modernas se sustentam na crença de dois infinitos: infinito desenvolvimento rumo ao futuro e o infinito dos recursos naturais. Estamos chegando à conclusão de que ambas suposições eram ilusórias, pois nenhum recurso é eterno.
Nós já sofremos a extinção de várias espécies de nossa fauna e nossa flora. Da mesma forma, seria ingenuidade acreditar que o tipo de desenvolvimento linear e crescente poderia universalizar a mesma qualidade de vida para todos. Mas será possível um mundo com quase 10 bilhões de pessoas vivendo o mesmo padrão de consumo dos americanos, por exemplo?
Assim, o que nos restou como consequência desses valores alimentados por centenas de anos foi uma sociedade confusa, estéril e aterrorizada diante das consequências cada vez mais letais que as condições climáticas podem desencadear.

Um debate doloroso, onde todos falam e ninguém escuta, atravessa friamente as nossas relações pessoais em busca por culpados; porém, isso não nos dará, como não tem dado, as soluções para estas e as outras questões vindouras. Na verdade, é preciso focar nas coisas que mais nos unem, e não mais nas coisas que nos separam. E se tem uma coisa que nos une é a nossa condição humana, independente de qual ponto do globo terrestre nos encontremos, independente da cor que carregamos sobre a pele, independente de nossos gostos ou militância política. Ou seja, a condição de “Ser Humano” nos une uns aos outros e também aos outros seres vivos.
Para a filosofia clássica, o conceito de ser humano está ligado a um ser que carrega em si a capacidade de compreender e conectar-se à Natureza, expressando assim uma relação harmoniosa com os demais seres, ou seja, o Ser Humano não é um alienígena dentro do planeta, mas sim um ser natural, que tem um papel a cumprir dentro do plano da Natureza.
Frente a essa perspectiva, o esperado de nossa espécie é que, assim como os demais seres que habitam o planeta, fôssemos capazes de contribuir para a manutenção de um ecossistema e não destruí-lo. Basta observarmos o mundo natural e percebermos que nenhuma espécie, seja vegetal ou animal, busca destruir o ambiente em que está inserido, mas sim ajudar em sua preservação. Nós, por outro lado, assumimos uma atitude antinatural ao buscar um consumo desenfreado, e que está custando a morte de outros seres e ecossistemas. Não é evidente que estamos indo contra o curso natural de uma vida harmônica?
O que podemos aprender com esse olhar? Primeiramente, podemos refletir que a vida só é possível e viável se for pensada do ponto de vista de Unidade, que se expressa através da multiplicidade, da mesma forma que os órgãos dentro do corpo são diferentes entre si, mas cada um cumprindo um papel fundamental para a saúde do organismo. Portanto, não existe o humano separado do meio ambiente, mas existe o humano experienciando o sistema natural e que, assim como os demais seres, está conectado e sofre os impactos das ações e reações.

Agora, nos resta compreender qual é a natureza humana e qual é o nosso papel dentro do todo. Isto as antigas tradições também nos ensinam: da mesma forma que as plantas fazem fotossíntese, os animais vivem seguindo os seus instintos, as águas seguem o seu ciclo natural, e cada um destes elementos cumpre com um papel único e fundamental. Dessa forma, cabe ao Ser Humano, dentro dessa cadeia, se nutrir de forma responsável dos recursos da Natureza, mas principalmente oferecer ao mundo algo que só ele pode desenvolver… As Virtudes.
É possível que todas as nossas práticas desastrosas frente à poluição das águas, à nossa falta de capacidade de gerência dos nossos lixos, aos desmatamentos das nossas matas e suas queimadas, à perda crescente da nossa fauna e flora, além da nossa intolerância com a opinião diferente e dos sentimentos de ódio pelo nosso semelhante, sejam só a ponta do “Iceberg”. Diante desses pontos, a maior catástrofe do nosso ecossistema provavelmente seja a perda da nossa “Humanidade”, o que aponta para a nossa própria extinção.
Urge levantarmos uma bandeira de luta pelo resgate da natureza humana, um resgate das Virtudes, uma bandeira em que a fraternidade seja a nossa palavra de ordem, em que a generosidade seja partilhada com todos os seres, para que, assim, o Homem e o meio ambiente voltem a ser um só.