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O que você tem a ver com as queimadas na Amazônia?

Nos últimos dias uma coisa ficou evidente: desta vez, as chamas da Amazônia se espalharam por todo o mundo…Pelo menos no mundo virtual. Atualmente nenhum dos lados políticos nega que temos um problema, ou uma situação a ser analisada com cautela, acontecendo na maior floresta tropical do planeta.

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Fogo consome uma área na região de Novo Progresso, no Pará. Foto: Leo Correa/AP Photo

Nós ficamos entre uma “troca de tiros” de discursos: de um lado, um grupo que desconsidera a preservação ambiental em nome de bons resultados na economia. E do outro, a postura arrogante e hipócrita de alguns líderes europeus que pensam ter autoridade moral para dar ordens sobre preservação ambiental, sendo que em seus próprios territórios, e em suas colônias, o mais difícil é encontrar um ecossistema que não foi convertido em riqueza para a metrópole.

Entre tantas notícias de jornais, posts em redes sociais e pronunciamentos oficiais das autoridades, relatórios de ongs e tratados ecológicos internacionais que movimentam bilhões de dólares, o difícil é encontrar alguém que realmente está preocupado com a ecologia.

O biólogo e embaixador do ecoturismo brasileiro, Richard Rasmussen, faz uma análise sobre a situação das queimadas na Amazônia.

Tudo isso, sinaliza a confusão generalizada das nossas concepções a respeito do nosso meio ambiente. O desafio de cuidar das poucas reservas naturais existentes no mundo, pensar em estratégias de preservação dos ecossistemas, sem desconsiderar a importância do desenvolvimento tecnológico, é uma tarefa muito mais árdua do que se pode supor.

Por um lado, as convenientes crenças do uso indiscriminado dos recursos naturais já nos demonstraram que o seu potencial de renovação não é algo realizável em uma escala de tempo útil para a média de expectativa de vida humana. Se continuarmos a insistir na prática de determinados comportamentos frente à Natureza, há indícios de que em algumas décadas, nossa situação pode se tornar crítica, pelo menos nos meios urbanos.

Por outro lado, os discursos emocionados, as pesquisas supostamente científicas, a ação de grupos políticos e o terrorismo midiático que declaram que “O Fim está próximo”, com a mesma convicção de um líder de seita, não passam de estratégias de manipulação, conduzida por grandes grupos de interesse. Nesses tratados internacionais, cada país que participa se compromete com centenas de bilhões de dólares em investimento para preservar o meio-ambiente. Isso nos dá a impressão de que doaremos dinheiro para a Mãe Natureza, quando na verdade, esse dinheiro será movimentado por empresas que trabalham no ramo da energia renovável, da sustentabilidade, etc. Mas claro que os veículos de mídia que são controlados por esses mesmo grupos não vão explicar dessa forma.

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Percebemos que os vários debates acerca do tema, têm sido carregados de palavras acusatórias e inquisidoras trocadas por representantes de grupos que se consideram ter a solução mágica para todos os problemas. Mas, Independente da corrente política, da religião ou da classe social a que se pertence esses representantes, no fundo, há um acordo tácito e unânime de ambas as partes no que concerne à necessidade da preservação da natureza, e que precisamos encontrar formas eficazes para se evitar os desmatamentos ilegais e as agressões sofridas pelas reservas naturais. E é nesse ponto que une a todos, que nos interessa para fazermos as reflexões sobre a nossa relação com o planeta.

Diante dos vários conceitos no dicionário sobre a palavra Meio Ambiente ou Ecologia, há uma analogia que sintetiza ambos os conceitos: a análise das relações de correspondência mútua entre os seres vivos e o meio social, econômico ou moral nos quais estão inseridos. Para alguns, pensar na Ecologia é pensar no propósito do equilíbrio entre o homem e o seu meio de convívio natural, ressaltando que o indivíduo é um nó de relações para todos os lados e entre todas as cadeias de seres vivos. Porém, muitas vezes temos a impressão de que o Homem moderno está fora deste sistema, está separado da Natureza. Alguns pensam que ele está acima dela, como se fosse um consumidor e o meio ambiente o fornecedor de seus produtos. E outros, igualmente radicais, pensam que estamos abaixo da Natureza, e que o Ser Humano é uma doença para o planeta.

Queimadas na Amazônia espalham fumaça pelo mundo.
Foto Marizilda Cruppe/Greenpeace

Há 400 anos construímos um tipo de sociedade que montou um modelo de desenvolvimento civilizatório que tinha como objetivo as práticas sistemáticas de extração e acúmulo de recursos da Terra. Sem dúvidas, os valores e as ideias que levaram ao avanço tecnológico das sociedades modernas se sustenta na crença de dois infinitos: infinito desenvolvimento rumo ao futuro e o infinito dos recursos naturais. Estamos chegando à conclusão de que ambas suposições eram ilusórias, pois nenhum recurso é eterno.

Nós já sofremos a extinção de várias espécies de nossa fauna e nossa flora. Da mesma forma, seria ingenuidade acreditar que o tipo de desenvolvimento linear e crescente poderia universalizar a mesma qualidade de vida para todos. Mas será possível um mundo com quase 10 bilhões de pessoas vivendo o mesmo padrão de consumo dos americanos, por exemplo? Assim, o que nos restou como consequência desses valores alimentados por centenas de anos foi uma sociedade confusa, estéril e aterrorizada diante das consequências cada vez mais letais que as condições climáticas podem desencadear.

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Um debate doloroso, onde todos falam e ninguém escuta, atravessa friamente as nossas relações pessoais em busca por culpados, porém isso não nos dará, como não tem dado, as soluções para estas e as outras questões vindouras. Na verdade, é preciso focar nas coisas que mais nos unem e não mais nas coisas que nos separam. E se tem uma coisa que nos une é a nossa condição Humana independente de qual ponto do globo terrestre nos encontremos, independente da cor que carregamos sobre a pele, independente de nossos gostos ou militância política, a condição de “Ser Humano” nos une uns aos outros e também aos outros seres vivos.

Para a filosofia clássica, o conceito de humano está ligado a um ser que carrega em si a capacidade de compreender e conectar-se à Natureza expressando uma relação harmoniosa com os demais seres, ou seja, o Ser Humano não é um alienígena dentro do planeta, mas sim um ser natural, que tem um papel a cumprir dentro do plano da Natureza.

O que podemos aprender com esse olhar? Certamente, temos muito a aprender com as tradições antigas. A vida só é possível e viável se for pensada do ponto de vista de Unidade que se expressa através da multiplicidade, da mesma forma que os órgãos dentro do corpo são diferentes entre si, mas cada um cumpre um papel fundamental para a saúde do organismo. Portanto, não existe o humano separado do meio ambiente, existe o humano experienciando o sistema natural e, assim como os demais seres, está conectado e sofre os impactos das ações e reações.

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Agora, nos resta compreender qual é a natureza humana, qual é o nosso papel dentro do todo? Isto as antigas tradições também nos ensinam: da mesma forma que as plantas fazem fotossíntese, os animais vivem seguindo os seus instintos, as águas seguem o seu ciclo natural, e cada um destes elementos cumpre com um papel único e fundamental, cabe ao Ser Humano, dentro dessa cadeia, se nutrir de forma responsável dos recursos da natureza, mas principalmente oferecer ao mundo algo que só ele pode desenvolver… As Virtudes.

É possível que todas as nossas práticas desastrosas frente à poluição das águas, à nossa falta de capacidade de gerência dos nossos lixos, aos desmatamentos das nossas matas e suas queimadas, à perda crescente da nossa fauna e flora, além da nossa intolerância com a opinião diferente e os sentimentos de ódio pelo nosso semelhante, sejam só a ponta do “Ice Berg”. A maior catástrofe do nosso ecossistema, provavelmente seja a perda da nossa “Humanidade”, o que aponta para a nossa própria extinção. Urge levantarmos uma bandeira de luta pelo resgate da natureza humana, um resgate das Virtudes, uma bandeira onde a fraternidade seja a nossa palavra de ordem, onde a generosidade seja partilhada com todos os seres, para que assim, o Homem e o meio ambiente voltem a ser um só.

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