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Samsara – A Vida e seus Ciclos

Já percebeu a importância dos ciclos em nossas vidas? Assim como na Natureza, toda a existência é composta por vários ciclos. Por exemplo, em tudo que pulsa vida há um nascer, um desenvolver e um morrer e, como anéis que se entrelaçam, não sabemos exatamente o momento em que deixamos de ser crianças e passamos a ser jovens, depois adultos e posteriormente anciãos. A Natureza e seus muitos ciclos nos ensinam sobre o tempo justo para cada coisa, pois há tempo para plantar, há tempo para colher e há tempo de seca, onde não haverá colheitas por algum motivo. Compreender tudo isto não só apenas nos ajuda a se integrar ao fluxo da vida e a iluminar as nossas próprias experiências, mas nos dá mais poder sobre as circunstâncias e adversidades pelas quais somos acometidos.

Acreditamos que desde o nosso nascimento até a nossa morte, vivemos e nos desenvolvemos a partir de experiências que nos conduzem a uma evolução de consciência. Passamos por várias estações na Natureza, na caminhada individual e na vida como um todo. São muitas Primaveras, Verões, Outonos e Invernos que, se forem bem compreendidos, nos ajudarão a entender e a aplicar valiosos conhecimentos à nossa existência. Na verdade, em nosso íntimo, sabemos que o mais importante não é o que vivemos em si, mas o que aprendemos e assimilamos, tendo em vista que são os nossos saberes que nos levarão ao amadurecimento individual. Eles são fruto dos resultados das sínteses que recolhemos dos mais diversos momentos de nossa caminhada e fazem parte do grande fluxo da roda que move a vida. Vários filmes já nos trouxeram essa temática como reflexão. Dentre eles podemos citar o “Samsara”, um filme de 2001 e o  “Primavera, Verão, Outono, Inverno e… Primavera”, de 2003. Ambos fazem uma linda abordagem sobre a vida, os seus ciclos e a necessidade vital que temos de cada um deles.

Samsara é um filme com produção e roteiro do hindu Pan Nalin, cineasta autodidata que sempre trabalhou fazendo documentários sobre lugares exóticos para TVs estrangeiras. O longa-metragem de poucos diálogos e exuberantes imagens do Himalaia, narra a trajetória de um monge entre a sua evolução espiritual e os prazeres do mundo. Mesmo vivendo em um monastério desde os seus 5 anos de idade e, tendo vários conhecimentos, experiências com meditação, etc, o monge, por nome de Tashi, não consegue ter paz de espírito e a coisa só piora após conhecer a jovem Pema, por quem acaba se apaixonando. Entre o desejo de possuir uma vida comum na satisfação de vários desejos e a busca por sua caminhada espiritual, Tachi terá que vencer a si mesmo e a toda ordem de pensamentos para encontrar a sua Paz Interior. 

Diante disso, o monge precisou experienciar diversos momentos bons e ruins para fazer as suas escolhas e tomar as suas decisões de maneira consciente. Para que as novas ideias, pensamentos e sentimentos possam nascer é preciso que haja o fechamento do ciclo dos anteriores, só assim podemos elaborar novas sínteses necessárias para as próximas fases. Por isso que o monge Tashi precisou solucionar todas as suas dúvidas ou ideias sobre a sua caminhada espiritual para que pudesse seguir em frente. 

Já o filme “Primavera, Verão, Outono, Inverno e… Primavera” é uma produção sul-coreana e tem como diretor e roteirista  Kim Ki-duk. Como o título já sugere, o longa faz um pertinente paralelo entre as fases da vida e as estações do ano. Assim como no filme anterior, Samsara, o longa narra a vida de um monge que vive com o seu mestre em um templo, desde muito cedo. Mas, aos 17 anos acaba se apaixonando por uma mulher e após iniciar a sua vida amorosa acaba por decidir se afastar do templo e mergulhar na vida material. 

Ainda quando criança, o monge aprendeu com seu mestre a importante lição de que são nos pequenos atos que podemos ter consequências para toda a nossa vida. Assim, ao tomar a decisão de mergulhar na vida secular, o monge passa a conhecer e a experimentar todas as ordens de desejos, prazeres e emoções como as paixões, os ciúmes, as dores, os medos e toda a forma de luxúria, até quando se cansa dos sofrimentos e ilusões e decide voltar para o monastério e continuar a sua caminhada espiritual. 

As obras citadas acima nos trazem preciosos ensinamentos sobre os diversos momentos da vida. Tendo em vista que a mesma é movida pelos seus constantes ciclos de começos, finalizações e novos renascimentos. Tal percepção  nos traz a evidência de que tudo o que nasce morrerá, dando sequência ao próprio fluxo da vida. É assim na natureza e é assim com os nossos processos interiores. Quando passamos a compreender isso, a nossa capacidade de enfrentar os nossos desafios diários é muito grande. Por exemplo, a mudança para um novo emprego, a transferência de um setor de trabalho, a mudança de moradia para uma nova cidade ou o término de relações que há tempos não cumprem mais o seu propósito, entre tantos outros processos, já não passam a nos assustar tanto. Desta forma,  passamos a nos posicionar com gratidão a tudo o que nos acontece e de maneira leve nos abrimos às novas possibilidades que a vida irá nos trazer.

Para o Budismo Tibetano, tudo segue o seu caminho de evolução, e com a Humanidade não é diferente. Assim, cada indivíduo precisa trilhar a sua caminhada evolutiva de maneira consciente e individual. Entretanto, a trilha a ser percorrida passa, necessariamente, pela roda do Samsara, a mesma que nos conduzirá ao caminho da plenitude mais profunda e ao encontro com o nosso Ser. A roda do Samsara significa que, enquanto não evoluirmos a nossa consciência, estamos presos à perpétua repetição do nascimento, da vida e da morte, dentro de um espaço de tempo entre o passado, o presente e o futuro. Esta Filosofia defende que para se alcançar a Verdade sobre a nossa Essência ou a Sabedoria Existencial, precisamos trilhar os estágios das “Quatros Nobres Verdades” sobre a vida. 

A primeira Nobre Verdade é o reconhecimento da existência da dor. Pois, para essa tradição a dor existe e, sem dúvida, desde que nascemos até a nossa morte sentiremos dores. Entretanto, precisamos aprender a ver a dor não como uma punição, mas como um veículo de consciência. Por exemplo, quando sentimos uma dor física, em geral, a mesma representa uma sinalização de que há algo de errado em nosso corpo e precisamos tratar. Assim também é a vida, todas as vezes que há um certo desconforto, uma dor psicológica, deveríamos ficar atentos para identificar a origem e tratar a sua causa. Por isso, deveríamos olhar a dor não como algo sofrível, mas como um mecanismo que pode nos comunicar e nos alertar que há algo de errado acontecendo e assim precisamos atuar.

A segunda Nobre Verdade fala sobre a causa ou a origem da dor. Para essa corrente do Budismo, a origem de todas as nossas dores está em confundirmos a realidade com a ilusão, daí se deriva a nossa tendência de querermos possuir eternamente os objetos que estão destinados a extinguir-se por natureza. Por exemplo, quando canalizamos as nossas energias para as coisas materiais, colocando nelas o nosso sentido de vida, nos angustiamos por algo que nunca teremos e não podemos possuir, pois naturalmente, um dia as coisas materiais vão se acabar. Já a terceira Nobre Verdade fala sobre a cessação da dor, pois, acredita-se que quanto menos apego e menos desejos tivermos pelas coisas, mais podemos canalizar essas energias para o desenvolvimento de uma vida interior e, consequentemente, maior a possibilidade de cessação das dores que sentimos. Por fim, a quarta e última Nobre Verdade nos fala a respeito do Nobre Óctuplo Caminho, conduta moral que nos ajudará a chegar à Sabedoria. Assim, segundo o Budismo, para percorrer este caminho o indivíduo precisa desenvolver retas opiniões, retas intenções, retas palavras, reta conduta, retos meios de vida, reto esforço, reta atenção e reta concentração. Então, o indivíduo que conseguir superar esses quatro estágios, conseguirá superar a roda do Samsara e se libertará da Lei dos Ciclos, chegando à Sabedoria e se iluminando como o Buddha. E, como esse é um caminho que exige uma caminhada longa, talvez venha daí a possibilidade das reencarnações.

Embora possamos imaginar, a princípio, que a proposta que o Budismo Tibetano nos oferece é um caminho de regras morais que podem ser difíceis de serem praticadas em nossos dias, há que perceber que as ideias que essa teoria nos traz nos convocam para um caminho transcendente, que eleva o indivíduo ao melhor de si mesmo, a sua imortalidade e, portanto, escapa às regras morais circunscritas dentro do espaço e do tempo. O que se observa é que grandes homens como Jesus e Budha que por aqui passaram, deixaram-nos pistas sobre a nossa eternidade e nos apontam caminhos para como encontrá-la. Assim, como atados por duas pontas, divina e material, transitamos entre essas duas realidades que se entrelaçam e perpassam nossa existência. Como numa ponte, uma pode nos conduzir até a outra, pois, são através de nossas experiências materiais, das sínteses que fazemos ao longo dos momentos bons e ruins da vida que aprendemos sobre a necessidade da nossa evolução espiritual, para quem sabe um dia, roçar com os dedos das mãos a Sabedoria. 

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