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Resgatando a Trégua de Natal

Entre as trincheiras, de onde os inimigos britânicos e alemães disparavam seus rifles durante a Primeira Guerra Mundial, ficava a chamada Terra de Ninguém. Presente em qualquer guerra com confronto direto, esse espaço que separa os inimigos costuma ser deserto, vazio de vida, e uma sentença de morte para aqueles que se arriscam a tentar atravessá-lo, já que costuma ser palco de fogo cruzado intenso.

Na primeira Guerra Mundial, isso era especialmente mais evidente, pois ela ficou marcada como a guerra das trincheiras, que eram aqueles locais onde os soldados de infantaria se abrigavam, e quando percebiam uma oportunidade, se erguiam o mínimo suficiente para alvejar qualquer coisa que se movesse no lado oposto do campo de batalha.

Ainda no começo dos confrontos, as forças alemãs, de um lado, e as francesas e britânicas, do outro, se encontraram na Bélgica, onde iniciaram os ataques. Com a chegada do frio em meados de outubro de 1914, que já anunciava a rigidez do inverno naquele ano, os dois lados recuaram levemente, no sentido de poupar forças, e manterem-se abrigados em suas trincheiras. Perto do fim de dezembro, no entanto, algo surpreendente aconteceu em vários frontes de batalha, em especial ali, em Ypres, no território Belga.

Contam às dezenas de relatos que das trincheiras britânicas e francesas, percebeu-se um cessar fogo mais longo que o de costume por parte dos alemães, o que os motivou também a pararem os seus ataques. Ouviu-se de lá, do território inimigo, o entoar de canções natalinas em alemão, e soldados que já bebiam e comiam de maneira desatenta, pouco se preocupando com sua segurança. Oficiais ingleses então ergueram-se sobre as trincheiras desarmados, com os braços estendidos segurando placas que diziam “Merry Christmas”, ou “Feliz Natal”, em português. A resposta veio logo em seguida, com os alemães erguendo os dizeres “Thank you”, em agradecimento pelos votos. A partir dali, em Ypres, soldados, sem ordem direta de seus comandantes, passaram a atravessar a terra de ninguém desarmados, para levar presentes simbólicos aos seus adversários, como fumo, bebida, e o que mais tivessem à mão.

É verdade que aquele clima fraterno não esteve presente em todas as frentes de batalha, mas, contam os registros históricos que essa trégua temporária aconteceu em tantas partes da Europa, naquele primeiro Natal da guerra, que se tornou um evento sem precedentes, e até hoje carente de explicações práticas. Porém, isso não foi capaz de acabar com a guerra, que seguiu pouco depois do ano novo em alguns lugares, ou mesmo a partir do dia seguinte após o Natal. Mas naquele momento, que ficou conhecido como a Trégua de Natal, a confraternização foi tão íntima entre os inimigos, que até uma partida de futebol fez parte da celebração. Pouco importa quem fez mais gols naquele dia, pois a vitória alcançada ali superou o campo.

Podemos acreditar que os soldados, naquele momento de conflito, cultivavam Valores Fraternos relacionados ao Natal, superiores ao desejo de guerrear, e isso, certamente pode nos ensinar algo.

Nos vemos, hoje, em situações cada vez mais delicadas, que nos desviam do sublime caminho da paz, e nos empurram para fora do nosso ponto de equilíbrio. Seja no trabalho, quando temos um prazo apertado para terminar alguma tarefa, ou algum projeto. Na escola, quando estamos tendo dificuldades em entender alguma matéria, e não conseguimos explicar bem nossas dúvidas aos professores. Ou mesmo em nossa família, que pode exigir algo de nós, que simplesmente não sabemos como responder à expectativa no momento. E quando nos desequilibramos, e saímos do melhor caminho, frequentemente perdemos o controle, e nosso aspecto mais emocional acaba sufocando a razão e assume o controle na hora de se tomar decisões.

É comum acreditarmos que o nosso lado racional é o mais frio e indiferente em nós, e que o emocional é aquele que nos torna mais Humanos. Porém, na verdade, se dermos ouvidos à razão, ela nos dirá que perder a cabeça com alguém no trânsito, por exemplo, não é a melhor resposta. A razão também nos dirá que o Natal sempre marcou nossas Vidas como um momento de União e de Amor ao próximo. Talvez, no coração daqueles soldados, esse tenha sido o fator que se sobressaiu à violência da guerra.

Quando deixamos nossas emoções no controle, elas poderão nos dizer que aquela pessoa que nos fez alguma crítica, não merece mais nosso carinho. Ou poderá dizer que o professor que exige muito de nós e nos faz estudar mais não gosta da gente, quando o racional diria que, na verdade, isso mostra que ele se importa ainda mais com nosso sucesso do que poderíamos imaginar, pois quer nos ajudar a ir mais longe.

Emoções não devem ser vistas como vilãs, pelo contrário, elas dão sentido a tudo o que experimentamos. Elas evidenciam nossa experiência Humana. Mas, assim como uma peça de Shakespeare, elas oscilam entre tragédia e romance, Amor e ódio, com muita intensidade, e muita velocidade. Todos nós, em algum momento, vamos sentir algum tipo de emoção negativa, mesquinha e egoísta, pois ainda não somos grandes mestres, capazes de controlá-las com precisão. Podemos ser no futuro, sim, mas hoje é importante reconhecermos que somos pequenos aprendizes nessa arte do autodomínio. Calar as vozes que nos estimulam a entrar em conflitos, a nos distanciar das outras pessoas, a permitir que a separação aconteça, é o primeiro passo para ouvirmos melhor as vozes do Amor, da Compaixão, do Perdão e da Esperança. 

https://www.youtube.com/watch?v=_Zcp1EPZAj8&t=13s

Como numa banda, muitos instrumentos tocam ao mesmo tempo, e nossa atenção costuma ser trazida apenas para um deles por vez, sendo normalmente o que soa mais alto, ou que se comunica melhor conosco. É comum percebermos mais voz na música, pois queremos entender a letra. Numa canção instrumental, ouvimos mais a melodia, por exemplo. Assim, se não direcionarmos nossa atenção para os outros instrumentos, não saberemos o quão completa aquela obra é, e até onde sua Beleza pode alcançar. Assim é na Vida. Se dermos atenção somente ao que se destaque, sempre ouviremos a raiva, a tristeza profunda e a angústia, entre tantas outras vozes muito mais numerosas do que os Sentimentos elevados que deveriam nos orientar. Mas, ao nos concentrarmos o suficiente, podemos ouvir coisas lindas, como a Trégua de Natal, que provou que o Amor é capaz de vencer a guerra, se insistirmos bastante. Ouvir a voz do seu coração, guiada pela razão, é entender o Bem, e também praticá-lo. Não há nada mais racional do que ser uma Boa pessoa, pois como disse Platão, só os Justos conhecem os prazeres ideais, de ser Bom, e de fazer o Bem. Ouça o que há de melhor no mundo, e torne-se o que há de melhor em você. 

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