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O que pensamos ao observar o Universo? A rotação dos planetas ao redor do Sol, assim como os sistemas solares girando em torno do centro da Via Láctea nos passa a impressão de Harmonia, uma dança cósmica que tem movimentos precisos e ordenados. De igual modo, quando observamos a Vida em nosso planeta é possível perceber Harmonia e Sincronicidade: as sementes que germinam na primavera, criam raízes e desenvolvem-se no verão, passam a ter suas folhas amareladas no outono e, finalmente, caem no inverno até que, na próxima estação, floresça novamente. 

Toda a Natureza segue esse ritmo inteligente e incessante. Olhando por esse ponto de vista, fica difícil acreditar que tudo seja obra do acaso, ou que toda a Harmonia que encontramos, em diferentes níveis, é o resultado de uma combinação improvável. Por isso que nas antigas tradições e nas religiões atuais se fala acerca de uma Inteligência Cósmica, que ordenou e construiu o Universo tal qual o encontramos. 

Na tradição Hindu, por exemplo, temos o Deus Brahma que através da sua respiração criou o mundo; para os cristãos, Deus passou 6 dias construindo o Universo e todas as suas partes e no 7° dia ele descansou. E assim, se nos debruçarmos sobre cada civilização, perceberemos essa mesma ideia. 

Hoje conheceremos um pouco mais sobre uma dessas Divindades Criadoras do Universo: o Deus Ptah, da Civilização Egípcia. 

A palavra “Ptah” pode ser traduzida como “escultor” ou “abridor”, por isso sua ideia está relacionada com a criação e construção. Ptah seria aquele que “abre” o mundo, que o inicia, de igual modo seria aquele que o constrói. De acordo com o mito de criação egípcio, Ptah seria então o Deus-escultor, criador das diferentes formas de Vida e de Deuses. Ele seria filho de outros dois Deuses, Nun e Neunet, que representariam o aspecto masculino e feminino, e seriam Divindades subjetivas, ou seja, que não faziam parte da existência em si, mas habitavam fora dela. 

Essa não é uma ideia tão simples de entender, portanto, precisamos aprofundá-la. Para os egípcios, o Universo e, necessariamente, a Vida estariam dentro de uma bolha. Nun e Neunet existiriam antes do Universo ser criado, habitando em outro plano que não é concebível de descrição por nós, uma vez que estamos dentro do Universo e limitados a ele. 

Nesse contexto, Ptah nasceria dessa união, tendo em si os Princípios masculino e feminino e estaria incumbido de criar o Universo (a bolha), assim como os seus elementos. Mas como ele criou o mundo? Conta o mito que o Deus gerou o Universo a partir do seu pensamento, que se originou do seu Coração e se concretizou a partir de sua voz. Simplificando essa ideia, o Universo teria sido criado a partir de três atributos, que podemos resumir em pensamento, sentimento (o Coração) e a ação (a palavra ou verbo). É interessante notarmos que o Coração é quem gera os pensamentos, no sentido de que lá reside a Vontade; a partir disso se gera um pensamento, ou seja, uma organização, um modelo e esse é executado a partir da palavra, do dizer.

Mais uma vez essa não é uma ideia fácil de entender, porém se observarmos a nós mesmos perceberemos que essa relação do sentir, pensar e agir está conosco a todo momento. Quando queremos tirar férias, por exemplo, o que fazemos? Tudo começa no nosso Coração, no desejo de descansar, relaxar, ter um lazer, enfim. Desse desejo passamos a organizar a viagem: olhamos preços de hotéis, passeios, transporte e tudo que seja necessário para podermos ter uma estadia tal qual desejamos. Depois que temos esse planejamento em mãos, o que nos falta? Fazer a viagem! Ir ao embarque, pegar um avião ou outro transporte, e, enfim, viver aquilo que desejamos e planejamos. 

Nesse exemplo simplório podemos observar como esses três atributos dão nascimento a algo que desejamos. Salvaguardando a comparação, o mesmo Princípio rege a Criação do Universo para os egípcios: Ptah desejava o Universo, logo, organizou-o de maneira inteligente e deu as mais variadas formas ao Cosmos. Conjugando diferentes materiais como a pedra, a madeira e o metal ele teria dado forma ao mundo que conhecemos. Além disso, de acordo com alguns escritos, Ptah teria sido responsável por moldar o faraó Ramsés II, o mais longevo governante da História do Egito. Outro personagem importante da História do Egito, o famoso Vizir Imhotep, seria filho direto do Deus-construtor. Imhotep entrou para a História como o primeiro grande engenheiro, médico e mago do Egito. Esse caráter o tornou famoso, uma vez que ele planejou e construiu uma das mais famosas pirâmides do Egito. Por isso contava-se que ele era um filho direto do Deus Ptah. 

Essa relação do Deus com Imhotep nos mostra como Ptah estava diretamente associado aos arquitetos, construtores e artesãos, uma vez que todas essas atividades lidam com a construção ou fabricação de algo. Ptah recebeu cultos de diversas cidades, mas principalmente em Mênfis, a primeira capital do Egito. 

Segundo algumas fontes, Ptah era casado com a Deusa Sekhmet e juntos tiveram dois filhos: Nefertum, representado pela flor de lótus, e Mahees, que seria uma Divindade guerreira. Entretanto, como já falamos, o fato de Ptah criar o Universo o faz, por consequência, ser o patriarca de toda a existência. 

Pensando sobre sua representação, esta evoca tantos símbolos quanto os mitos que o rodeiam. Em geral, Ptah foi apresentado como um homem de tonalidade verde, envolto em uma roupa branca, com uma barba curta e um cajado formado pelo Ankh e o pilar de Djed e o Cetro. São, de fato, diversos elementos e todos eles constituem um atributo importante do Deus. Falaremos a seguir sobre seus símbolos.

A cor verde representa a fertilidade e o renascimento. Essa cor também é utilizada para representar Osíris, o Deus do mundo dos mortos egípcio. Mas a relação de Ptah com a fertilidade está no fato dele ser o criador de todas as formas, logo, fazendo o que existe nascer. Outro aspecto que reforça essa ideia no Deus é ele ter consigo o Ankh, ou Chave da Vida, um outro símbolo importante do Egito no qual já falamos aqui na Feedobem. A chave Ankh vai representar a União do mundo espiritual, metafísico, com o mundo material, o qual conhecemos tão bem.

Abaixo da chave Ankh, está outro símbolo importante para o Egito que é o pilar de Djed, que também já falamos sobre. O Djed representa a estabilidade e o equilíbrio em diversos planos: físico, energético, emocional e mental. Também podemos relacioná-lo com os quatro elementos primordiais, terra, água, ar e fogo. Nas antigas tradições, cada qual à sua maneira, se referiam aos elementos como partes do Ser Humano e constituintes do mundo. O cetro, por sua vez, é um símbolo de poder e Divindade, sendo segurado sempre por Deuses ou pelo Faraó, que, na cultura egípcia, era um representante direto da Divindade. Ptah, portanto, ao segurar o cetro com o pilar de Djet e o Ankh é o portador desse equilíbrio entre a matéria e o espírito, uma vez que a molda. A combinação desses três elementos apresenta Ptah como o Senhor, o Rei do Mundo. 

Todos esses símbolos revelam a força e a importância do Deus Ptah. Mas qual a razão dele ser tão relevante dentro da civilização egípcia? Pensando sobre isso, podemos refletir sobre a Natureza do Ser Humano e a ideia de construção. Apenas nós somos capazes de construir algo conscientemente. Apesar de existirem animais, tal qual o João-de-barro, que fazem moradias e construções, essa ação é instintiva e com uma finalidade específica. Nós, por outro lado, somos capazes de fazer templos, casas, arenas, enfim, diversos tipos de construções de acordo com uma necessidade básica ou para a contemplação dos Mistérios. 

Essa capacidade de conscientemente construir uma Ordem, que se transforma em aldeias, vilarejos e cidades, nos aproxima dessa Inteligência Criadora do Universo. Nos parece que ao realizarmos o ato de construir podemos compreender um pouco mais do Divino. Talvez essa seja a razão para que tantos Deuses construtores tenham lugar nas antigas civilizações. Afinal, criar algo consiste em retornar aos atributos que já citamos por aqui, representados no mito de Ptah: pensamento, sentimento e ação. 

Por fim, essa conexão Atemporal, que é própria da Natureza Humana, nos aproxima dos Deuses. Nesse sentido, é possível entendermos o papel primordial de Ptah como construtor do mundo, moldando suas diferentes formas e a razão pela qual ele foi adorado no Antigo Egito. O Ser Humano, ao seu modo e tamanho, também tem o papel de construtor, se não de grandes cidades e civilizações, ao menos da construção de si mesmo todos os dias. Assim, ao passarmos a viver essa constante construção, estamos evocando o Deus-criador que há em nós, colocando-nos à serviço da nossa melhor parte. Que possamos, portanto, unir o sentimento de sermos melhores a cada dia para que nossas ações reflitam o caminho de construção que desejamos seguir. 

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