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O que move os Samurais?

Platão, filósofo grego, deixou como legado para a Humanidade uma interessante teoria: a teoria do mundo das ideias. Essa teoria conta que todo o mundo visível e concreto, este que sentimos e percebemos com os nossos 5 sentidos, é fruto de um mundo invisível, ideal e perfeito, na qual ele chamou de mundo das ideias. Neste mundo habitam as referências mais perfeitas de tudo o que existe no mundo manifestado. Platão nos conta que por trás de uma flor, por exemplo, existe uma ideia perfeita de flor e por trás do Homem, do mesmo modo, existe uma ideia perfeita de Homem. 

Partindo disso, podemos fazer o seguinte exercício simples de reflexão: imagine um Homem mau, quais são suas características? O que ele faz? Como ele fala? Ele pensa em si mesmo ou nos demais? Ele é útil para o mundo ou ele o atrapalha?

Agora imagine um Homem bom, um Homem que seja uma inspiração para você e para toda a Humanidade. O que ele faz? Como ele contribui para o mundo?

A ideia do Bem, segundo Platão, deveria ser uma meta, a direção pela qual o Homem mau deverá caminhar para se aproximar desta conduta perfeita, da ideia de um Homem de verdade. Mas como alcançar essa meta sem ter um meio de discernir entre o Bem e o mal? Para resolver esse problema muitos grupos criaram Códigos Morais e Princípios que os ajudariam na sua conduta. Um dos mais famosos Códigos Morais advém do Japão, mais precisamente dos Samurais, e hoje falaremos um pouco sobre o estilo de vida desses homens.

Os Samurais viveram na época do Japão Feudal e formavam uma espécie de guarda pessoal do senhor da corte imperial. A palavra Samurai é derivada de “saburai” que vem de “sabuna” ou “estar ao lado”, em outras traduções se pode definir como “servo”. Os Samurais recebiam treinamentos através das Artes Marciais, porém, assim como os velejadores, deveriam navegar sua conduta em direção a uma estrela, ou como costumavam chamar: um Código de Honra.

Mas o que significa Honra? 

Ao contrário do que já se ouviu falar, Honra não tem a ver com orgulho. Honra está relacionada com a capacidade de se manter íntegro diante de quaisquer circunstâncias. É como um metal que não oxida, uma água que não se contamina, algo que não se macula, nem destrói. Tem, acima de tudo, relação com Integridade, Moralidade e Pureza. 

Já um código nada mais é do que um conjunto de leis. E para ser um Samurai deveria-se cumprir com o chamado Bushidô. “Bushi” quer dizer guerreiro e “dô” caminho, literalmente “caminho do guerreiro”. Este código deveria ser vivenciado, pois para um Samurai não bastava apenas ler aquelas ideias, mas sim cumprir com os ensinamentos dos Mestres. Os que não exercitavam seu Código Moral eram chamados de “tontos que cheiram livro velho”. 

Em resumo: você só sabia de fato de algo se mostrasse em ações, caso contrário, não sabia. Como dizia Wan Yang Ming, um filósofo chinês: “saber e fazer são a mesma coisa”. Além disso, este Código de Honra deriva das doutrinas do Xintoísmo, Budismo, Confucionismo e o Zen, devendo ser estritamente respeitado e seguido. 

O código do Bushidô é composto por 7 itens, que são:

  • Justiça e Moralidade

Um Samurai jamais poderia exercer um abuso de poder, nem usar a sua força e habilidades para benefício próprio. Ou seja, ele estava a serviço de causas nobres e justas e não de si mesmo. Portanto, nas suas atividades práticas de cobrança de impostos ou até de aplicação de punições, deveria manter claro o senso de equilíbrio para não pecar pela escassez ou pelo excesso. Para exemplificar a ideia de Justiça, pode-se citar a retirada da katana da bainha. A katana, que é a espada usada pelos Samurais, representava a própria Alma do guerreiro, devendo então receber o máximo zelo e respeito, além de jamais ser desembainhada por um motivo vão, apenas para cumprir com a Justiça. Morihei Ueshiba, fundador do Aikido, diz: “Clara como o cristal, aguda e brilhante, a espada sagrada não admite lugar para alojar o mal”. 

  • Compaixão e Benevolência

É comum associar a imagem de um Samurai com a de um homem forte e bruto. Porém, para os Samurais o homem mais forte era aquele que sabia dosar a sua força e ter tanto domínio dela, que soubesse colocar seu coração à frente das suas atitudes. Então a Doçura, a Gentileza, a Cortesia e a Benevolência para com as mulheres, os mais velhos, as crianças e todos os demais seres, era um dos princípios mais importantes para o Samurai, tal como também ensina o Budismo. A brutalidade é um descontrole da força, própria dos animais. Um homem forte é aquele capaz de dominar a si mesmo e ter tamanha força (especialmente interior) que pode ser Gentil e Benevolente. 

  • Polidez e Cortesia

Poderíamos associar este item ao bom trato das coisas, aos gestos de cuidado, higiene e ordem. A katana jamais era embainhada com sangue para que não enferrujasse, além disso os Samurais recebiam treinamento para aumentarem seu nível de cultura, não apenas nas técnicas de Artes Marciais e luta, mas nas estratégias de guerra, na filosofia, na história, na religião e nas Artes. Um guerreiro que pratica a Cortesia não luta de costas com seu adversário, luta com seu adversário nas melhores condições e de frente. Um guerreiro cortês trata bem as pessoas que passam pelo seu caminho. Viver a Cortesia é perceber o Espírito, “kami”, como os japoneses falavam, presente em todas as coisas. E se todas as coisas possuem um Espírito, têm vida, e merecem o melhor trato possível. 

  • Honra

Miamoto Musashi, um dos mais famosos Samurais de todos os tempos diz: “A vida de alguém é limitada. Mas a honra e o respeito duram para sempre”. Essa ideia da Honra está diretamente conectada à frequente lembrança da morte pelos Samurais. Não por acaso, um dos seus símbolos, para representar a fragilidade e efemeridade da vida, era a flor de cerejeira, que tem sua floração durante apenas um dia no ano. Para os Samurais era preferível a morte do que viver sem Honra, o que é revelado historicamente por uma prática chamada Seppuku, um corte no abdômen que o Samurai poderia realizar em si mesmo por decisão própria, caso fosse covarde ou transgredisse alguma das normas do Bushidô. Ao fazer esse sacrifício, os Samurais “recuperariam” a sua Honra perdida. 

  • Coragem heróica

A constante lembrança da morte levava os Samurais a serem altamente Corajosos. O Valor e Entrega por seus princípios era mais valioso do que viver a qualquer preço, e isso os levavam a uma alta capacidade de enfrentar os perigos sem medo de morrer. Essa postura destemida frente aos perigos  gerava uma força e invencibilidade, uma vez que com uma mentalidade de que nada poderia detê-los a cumprirem com a sua missão poderiam encarar quaisquer desafios.

  • Sinceridade/ Honestidade

A palavra de um Samurai deveria ter tanto valor que uma frase que pode exemplificar isso é essa: “Quando um Samurai diz que fará algo, é como se já o tivesse feito. Nada nesta Terra o deterá na realização do que disse que fará”. Ou seja, dissimulações ou omissões eram contra o Código dos Samurais, dizer a Verdade sempre era uma questão de Honra, mesmo que isso pudesse prejudicá-los.

  • Lealdade

Este Princípio se refere principalmente à Fidelidade para estarem à disposição de seus governantes, daimyos e sobretudo ao Imperador. E Lealdade não apenas aos seus governantes, mas aos seus próprios Princípios. Podemos ter como imagem de lealdade os cães. Um bom Samurai era antes de tudo um servo, estava à disposição para servir e ser útil. 

Por fim, podemos resumir este Código em uma frase inspirada no Bushidô: “Os homens devem moldar o seu caminho. A partir do momento em que você vir o caminho em tudo o que fizer, você se tornará o próprio caminho”. Este Código é a Alma de um Samurai, imaginemos dias que se iniciam e Homens se lembrando dessas ideias, Homens diante de lutas e se lembrando delas, Homens diante das pessoas e se lembrando delas… Estes eram os Samurais. Quando se visse um verdadeiro Samurai, se veria expresso em suas atitudes estas ideias, porque elas estavam consigo interiormente a todo o tempo. 

Esse Código foi capaz de alimentar e inspirar uma nação durante séculos e tem tamanha Atemporalidade que nos inspira até hoje. Ele nos revela que as verdadeiras mudanças ocorrem de dentro para fora e, em alguma medida, existe algo dentro de nós que diz: também quero ser um Samurai, também quero que essas ideias vivam dentro de mim, também quero me tornar um homem ou mulher que contribua para o mundo. E essa Atemporalidade não morre com a história, pois pode ser resgatada e vivida se eu ou você quisermos mostrar isso ao mundo, em ações concretas. 

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