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O mito de Fílis e Demofonte, uma lição sobre o Amor

Todos nós conhecemos um pouco de mitologia. Talvez por um gosto pessoal ou por terem nos contato quando criança, o fato é que essas lendas estão presentes em nosso cotidiano. A grande maioria das pessoas, entretanto, não acham essas histórias relevantes, por isso as tratam como mentiras ou apenas como “coisas que se contavam para explicar o mundo quando não se conhecia a verdade”.

Ainda hoje essa é uma visão recorrente sobre os mitos das mais diversas civilizações, entretanto, é um equívoco pensar assim. Os mitos, para além de qualquer coisa, guardam em si ideias e símbolos sobre a natureza do Ser Humano e do Universo. Sendo assim, essa é uma chave interessante de se buscar ideias e conhecer um pouco sobre a cultura que produziu aquele mito. 

Pensando nisso hoje falaremos do mito de Fílis e Demofonte, uma das mais belas e trágicas histórias da mitologia grega. 

Conta o mito que Demofonte, filho de Teseu, o rei de Atenas, estava voltando da Guerra de Tróia quando sua embarcação parou no reino da Trácia. A pausa deveria ser apenas para reabastecer os navios e continuar seguindo rumo a Atenas, afinal, haviam 10 anos que o príncipe tinha sido lançado na guerra e não retornava. Entretanto, enquanto os marinheiros abasteciam o navio com suprimentos, Demofonte passeava pela região e acabou conhecendo Fílis, a filha do rei. 

Os dois jovens se apaixonaram tão rápido quando seus olhos se cruzaram que, levados pelo sentimento, buscaram rapidamente um acordo para se casarem. Demofonte, sendo filho de um rei poderoso, não tem dificuldade para firmar o acordo com o pai de Fílis, que concorda com o casamento da filha. Porém, o jovem não poderia ficar muito tempo na Trácia. Seu pai, Teseu, esperava ansiosamente notícias do filho e era justo não fazê-lo esperar mais.

Diante dessa situação, Demofonte pede que Fílis aguarde por quatro meses até o retorno do príncipe ateniense. A jovem concorda e diz que esperará seu amado, e assim, os navios gregos se lançaram ao mar rumo a Atenas.

O tempo, não tendo outra coisa a se fazer, passou. A cada lua cheia as esperanças de Fílis e a expectativa do retorno aumentavam. A jovem ficava olhando o horizonte todos os dias esperando algum sinal de um navio vindo de Atenas. Porém, passaram-se os dias, os meses e nenhum sinal de Demofonte e suas embarcações.  Se passaram os quatro meses pedidos pelo príncipe e nenhum sinal do seu retorno. Ainda assim, Fílis mantinha-se firme e à sua espera.

O tempo continuava passando e cada dia a mais a esperança da jovem Fílis diminuía. Sentindo-se enganada, ela passou a acreditar que as promessas de Demofonte foram feitas da “boca para fora”, apenas para iludir e conseguir deitar-se com a princesa. Se sentindo triste e desonrada com a situação, a jovem resolve tirar a própria vida como sinal do seu desgosto pelo que lhe aconteceu. Observando tudo do Olimpo, os Deuses se apiedaram de Fílis e não permitiram que a jovem morresse, mas sim a transformaram em uma árvore frondosa, de frente para o mar. 

Mais alguns meses se passaram e Demofonte finalmente retornou. Porém, ao saber do trágico fim de sua amada, o príncipe foi até a sua árvore e a abraçou com todo o Amor do seu Ser. Nesse momento, a árvore, ou melhor Fílis, começou a desabrochar suas flores e a seiva escorreu por todo seu tronco. Os amantes, enfim, puderam ficar juntos.

Como todo mito, sabemos que não é possível acessar suas ideias mais profundas se apenas observarmos a história de modo literal. Ou seja, é preciso enxergar seus símbolos para extrairmos as suas lições principais. O primeiro símbolo que podemos trabalhar nesse mito é o próprio Amor. Há, em toda mitologia grega, diversos mitos que falam sobre o Amor e todos com finais bem distintos. Alguns são “felizes” e outros são trágicos, porém, há uma percepção interessante até mesmo nesses finais que não parecem ser o esperado. 

No caso do mito de Fílis e Demofonte, os jovens se apaixonaram perdidamente logo ao se verem. Caíram de Amor e tomaram a decisão apressada de casarem-se para firmar esse compromisso. O Amor, entretanto, não se caracteriza por ser rápido. Rápida é a paixão, o desejo. O Amor tende a lentamente ir penetrando em nossos corações e ir fazendo sua morada. Desse modo, a ação de Fílis e Demofonte é movida, inicialmente, por uma forte paixão, ardente ao ponto de quererem se casar. Fruto do imediatismo, durante todo o mito esse será um símbolo de como decisões apressadas e impensadas podem ter resultados catastróficos.

No mito, a pressa de Demofonte por partir e o fato dele não cumprir com o combinado fez com que Fílis se sentisse traída pelo seu amado, achando que cometeu uma decisão terrível e, por culpa dessa decisão, resolveu tirar sua vida. Em nossa vida cotidiana também cometemos erros parecidos com os dos personagens. Quem de nós, por exemplo, nunca tomou uma decisão no “calor do momento”? Ou nos apaixonamos perdidamente por uma pessoa e depois percebemos que o que sentíamos não era Amor? 

De maneira geral, tomamos decisões apressadamente. Vivemos em um mundo que nos exige, cada vez mais, agilidade em nossas escolhas, porém, quando não fazemos isso da maneira correta a chance de nos prejudicar e prejudicar os demais é alta. O preço por uma decisão errada, por vezes, pode ser alto demais e no caso de Fílis o seu arrependimento a levou até a morte.

Esse, portanto, é um primeiro ensinamento que podemos extrair do mito. Porém, há ainda mais aspectos que podemos pensar e refletir. Ainda sobre o Amor, vale a pena enxergar a decisão de Demofonte ao encontrar a árvore na qual Fílis havia se transformado. O seu gesto de abraçar e acolher revela que o Amor do jovem estava para além dos aspectos físicos de Fílis, ou seja, sua beleza material. A paixão, por se basear apenas em aspectos externos, tende a ser condicionada pelo físico. Nos apaixonamos à primeira vista, por exemplo, por pessoas que nos atraem fisicamente. Desse modo, a paixão de Demofonte chegou até a condição de Amor quando este continuou a amar Fílis mesmo ela sendo uma árvore.

Essa é uma outra característica do Amor que vale a pena refletirmos: o Amor não está baseado em aparências. Quando amamos alguém não importa seu aspecto físico, sua condição ou se ela nos ama “de volta” ou não. De fato, o Amor não se preocupa com limites e pode ser expressado a todo momento. Portanto, Fílis ter se transformado em uma árvore não foi impeditivo para que Demofonte continuasse a amando. O reflexo desse Amor fez com que a árvore desabrochasse suas flores, ou seja, fez com que a vida fluísse dentro de si.  

Algo similar acontece quando amamos alguém: a pessoa amada passa a ganhar energia, vida. O Amor proporciona essa troca benéfica de energia entre as pessoas e as fazem florescer. Basta olharmos para o rosto de uma criança que é amada pelos seus pais e perceberemos que a alegria e a felicidade transbordam por ela. Assim somos nós quando tocados pelo Amor, seja do nosso namorado (a), ou esposa (o) ou dos nossos pais. 

A história de Fílis e Demofonte, portanto, não se trata apenas de um mito sobre uma trágica história de amor. Além disso, eles nos ensinam que Amar está acima das aparências e que necessita de tempo para florescer. As expectativas, que quando não controladas nos causam ansiedade, podem ser uma péssima companhia para o Amor, pois nos preocupamos tanto com a correspondência das nossas expectativas, que esquecemos de cultivar o Amor em nossas ações diárias. 

No fim, que possamos aprender a fazer nosso Amor pela Humanidade crescer. Sei que é uma tarefa difícil, não é mesmo? Mas é o que nos cabe fazer enquanto Seres Humanos: Amar a todos. Se conseguirmos olhar para as pessoas ao nosso redor sem julgá-las pelos seus aspectos físicos e nos relacionarmos com cada uma a partir do que elas têm de melhor, é possível que consigamos fazer florescer o mais belo que há em cada homem e mulher que encontrarmos em nosso caminho. Que o mito de Fílis e Demofonte nos ensine a isso: Amar sempre, sem pressa, sem expectativa, mas nunca deixar de Amar.

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