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O Deus Vulcano: o forjador das formas

  Roma foi o maior império que o mundo antigo conheceu. Por mais de mil anos, foi nesse Estado, originado na região do Lácio, que a cultura latina alcançou seu apogeu. Esta civilização deu forma a diversas instituições. Formas que, de alguma maneira, usamos até hoje. A proeminência das leis na regulação das relações sociais, aspectos artísticos, o idioma, a filosofia e tantos outros elementos culturais da Roma Antiga continuam a influenciar o jeito como vemos a Vida e moldamos o mundo. Roma deu cara ao mundo Ocidental! Forjou nosso tempo nas oficinas dos seus ferreiros. No fogo de uma potência civilizatória e militar, legou ao mundo as principais armas com que enfrentamos hoje o desafio de viver em sociedade.

Mas, todo bom ferreiro, quando golpeia o metal, já tem a imagem da espada pronta em sua mente. Seu trabalho é dar Vida a uma ideia, materializá-la no mundo concreto, no mundo das formas. No caso de Roma, isso não foi diferente. A antiga civilização construiu sua história inspirada por ideias que, considerando tudo o que esse povo conquistou e fez, deveriam ser grandiosas. 

Quais as ideias que moveram esses  homens e mulheres? Uma das melhores fontes para entendermos como aquelas pessoas viam a Vida e estabeleciam as relações entre si são os seus mitos. Eles fornecem chaves psicológicas para os conhecermos melhor. Entre os mitos que mais influenciam qualquer nação estão suas crenças religiosas. Elas penetram tão profundamente na psique dos Seres Humanos que é difícil encontrar a origem dessa necessidade de religar-se com o Sagrado. E já que estamos falando do poder romano para plasmar formas, obrigatoriamente, temos que falar de Vulcano.

Vulcano era o equivalente a Hefestos, Deus grego ferreiro e responsável por fabricar as armas dos demais Deuses e Heróis Humanos. Os raios que Júpiter (o Zeus romano) usava saíam de sua oficina; o elmo alado e as sandálias de Mercúrio, as armas usadas por Eneias e Aquiles, também. De todos os Deuses romanos, Vulcano é o único que, após ser exilado do Monte Olimpo, consegue retornar, glorioso, e viver entre os Deuses.

Homero, o grande poeta da Ilíada e Odisseia, atesta que Hefestos nasceu da união de Júpiter com Juno. E por ser muito feio, sua mãe o atira do Monte em direção à Terra. Por conta da queda, ele fica coxo e passa a mancar para sempre. Caído no mar, Tétis e Eurínome, filhas do titã Oceano, ajudam-no. Ele é criado numa atmosfera de felicidade, brincando com golfinhos e pérolas, até que um dia descobre os restos de uma fogueira de pescador, com carvão ainda em brasa. Fascinado pelo brilho do fogo, ele recolhe aquela chama até a gruta em que vivia, no fundo do oceano. Pouco a pouco, ele descobre o poder transformador do fogo e começa a criar itens a partir de pedras e outros materiais. Sua mãe de criação, Tétis, certa vez foi participar de um jantar no Monte Olimpo vestindo um colar feito por ele. Juno, admirada, perguntou à ninfa dos mares onde poderia obter um igual. Desconfiada do nervosismo da ninfa, Juno descobre que aquele bebê que havia rejeitado há anos era hoje um habilidoso ferreiro. Imediatamente, exige seu retorno.

Todavia, Vulcano resiste afirmando que “não tinha mãe” e resolve vingar-se. Envia de presente à esposa de Júpiter uma belíssima cadeira feita de prata, ouro e ornada com madrepérola. Maravilhada, a Rainha-Deusa se senta no mimo e descobre que caíra numa armadilha. Molas escondidas e outros apetrechos prendem-na firmemente. Somente Vulcano poderia libertá-la, mas ele se recusa. A situação só se resolve quando Júpiter entra em cena. Ele oferece Vênus, a mais bela e desejada entre as Deusas em casamento, em troca da liberdade de Juno. Dessa forma, o rejeitado Deus do fogo volta ao Monte Olimpo triunfante, provando seu valor como ferreiro e casado com a Deusa mais cobiçada.

Esse mito ajudou Roma a construir-se. No seu mito de origem, o Troiano Eneias é ajudado por Vulcano a vencer a terrível batalha contra Turno, o rei dos Rútulos. Eneias é o herói que funda a ideia de Roma, apesar da cidade passar a existir apenas algumas centenas de anos depois, com os gêneros Rômulo e Remo, que são descendentes da linhagem de Eneias. Ao chegar na região do Lácio (na Península Itálica), o jovem guerreiro troiano precisa de novas armas para combater esse terrível inimigo. Vênus, a deusa do amor e mãe de Eneias, pede ajuda de Vulcano, o seu marido, para que seu filho possa combater de maneira equivalente e assim é feito: Vulcano forja toda a armadura de Eneias, além de sua lança, escudo e espada. Essas armas mágicas, literalmente divinas, dão o caminho para a fundação de uma das civilizações mais importantes que já existiram.

Não pensemos, portanto, em Vulcano como um deus menor ou mesmo que era visto como “chacota” entre outras divindades. Essa é uma visão equivocada e que pouco revela acerca dos símbolos que essa divindade possui. Visto isso, devemos nos perguntar isso: se um mito, escrito há alguns milênios pode nos ensinar algo? Acreditamos que sim. Isso porque uma mitologia não trata apenas de uma história, mas sim de ideias que estão no cerne da psique humana e constitui uma realidade interna. Nesse aspecto, podemos entender as ideias por trás dos símbolos que estão no mito e compreender muito mais do que apenas relações superficiais entre divindades e suas narrativas. Para deixarmos mais evidente essa ideia, pensemos no Ser Humano como um filho de Vulcano, feito à sua imagem e semelhança (e, de fato, é das forjas de seu equivalente grego que nasce a primeira mulher, Pandora). 

 Sejamos francos, não somos perfeitos. Todos nós possuímos defeitos e debilidades, representado pela deficiência de Hefesto. Há em nossa personalidade pontos nublados, em que a luz de nossa Fraternidade, nossa Coragem, nossa Tolerância e nossa Generosidade são substituídas pelo monstro do egoísmo que jazia adormecido em nós. A representação de Hefesto como esse Deus “coxo” nada mais é do que a demonstração de que a humanidade tem também debilidades, mas que essas não são um empecilho para se alcançar o seu lugar no Olimpo. As debilidades existem, na verdade, para que possamos reconhecer nossas virtudes e usá-las para nos desenvolvermos. A queda de Hefesto é, em síntese, a queda do ser humano em seus aspectos mais instáveis. Nossa saga principal é buscar o retorno a nossa origem divina, que em Hefesto é representada por toda sua jornada de conseguir provar seu valor diante dos demais deuses.

Nós, seres humanos, caídos no mar da matéria, possuímos duas escolhas: submergir até as profundezas e viver desconhecendo nossas origens divinas, entretidos com o brilho ilusório de joias sem valor ou nadar até a praia e encontrar a fonte de Poder e Luz que nos lembrará do nosso destino: sermos plasmadores de formas Boas, Belas e Justas! 

Há, em Platão, grande filósofo grego, uma proposição poderosa: todas as coisas que nascem neste mundo são sombras, formas que tentam concretizar ideias de um outro mundo: o das ideias. Nesse mundo localizado além da realidade física, estão todas as ideias e, no topo delas, está a ideia do Bem. Assim, a ideia primordial, ponto de partida e destino de toda a Humanidade, seria o Bem (não é à toa que fizemos uma websérie sobre essa Virtude). Pensem um pouco: como será que esse arquétipo, tão Justo e Belo, encarnará entre nós?

Respeitamos todas as crenças. Como falamos, são elas que constroem a realidade. Mas gostamos de pensar que seremos nós que daremos nascimento a ela. O Super Homem – modelo de Poder, Justiça e Integridade – não nos será enviado dentro de um berço intergaláctico para nos liderar e inspirar. Como o Deus do Fogo, teremos que conquistar o retorno ao Monte Olimpo por nossos próprios méritos. E isso se faz usando nossas próprias mãos, no trabalho sagrado de ser ponte entre o Bem e a Humanidade. Faremos isso encontrando a forma perfeita para cada expressão da Vida.

Quer seja em seu casamento, quer seja no seu trabalho. Mesmo que você seja um médico ou um soldado. Ainda que você more no Morumbi ou na comunidade mais pobre da sua cidade. Até mesmo para escrever e ler esse texto. Há sempre uma forma perfeita. Nosso desafio é encontrá-la e realizá-la, porque será ela que ajudará a trazer o Bem para existir entre nós.

Não tenha medo de brincar com fogo! Só essa força da Natureza, verdadeiro elemento transmutador, pode tornar água em vinho, ou chumbo em ouro. Mas não nos referimos a um fogo externo. Dentro de cada um de nós, há um pequeno pedaço de carvão em brasa. Um fogo que precisa, antes de qualquer coisa, realizar uma mudança em nós mesmos, iluminando os cantos escondidos da nossa personalidade, onde quase não é possível ver a Beleza que há em cada Ser Humano. Se o encontrarmos, poderemos fazer uma fogueira que incendiará o mundo. E, como Vulcano, poderemos nos Unir às mais belas expressões da nossa Humanidade.

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