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Entenda o significado do Ramadã

A vida é marcada por ciclos. Desde o movimento de rotação e translação da Terra até o modo como organizamos nossa rotina, estamos vivenciando repetições. Entretanto, ao contrário do que o senso comum diz, essas repetições não são, necessariamente, iguais. As comemorações, por exemplo, são vividas todos os anos, mas quem as celebram certamente não são as mesmas do que há anos passados. Dizemos isso porque vamos evoluindo à medida que vivemos e, naturalmente, somos diferentes em cada um desses momentos. Como exemplo, basta pensarmos em nossa data de aniversário: geralmente refletimos o que aprendemos ao longo de um ano e como essas experiências foram importantes para a nossa existência.

Essa ideia de evolução e maior percepção da Vida ao longo dos ciclos não é, entretanto, algo que acontece apenas em nosso aniversário. A bem da verdade, quando buscamos compreender celebrações religiosas percebemos que há um sentido profundo por trás das festividades que ali são vividas. Comumente, momentos como a Páscoa ou o Natal estão sendo vividos de maneira inconsciente, ou seja, não estamos compreendendo os símbolos por trás daquelas comemorações. Muitas vezes pensamos apenas nos presentes que receberemos ou nos ovos de chocolate que iremos comer no domingo de Páscoa. 

Para os verdadeiros devotos, aqueles que compreendem e vivem a religião de modo intenso, esses são momentos especiais e cheios de sacrifícios e reflexões. Para os cristãos, por exemplo, a quaresma é um momento especial, de abdicação de alguns prazeres da “carne” em nome de uma Vida Espiritual. Do mesmo modo, em outras doutrinas religiosas há períodos de purificação, que seus praticantes se propõem a se abster de alguns aspectos da vida cotidiana. Pensando nisso, hoje faremos uma reflexão acerca do “Ramadã”, o mês mais importante no calendário islâmico. 

Nos últimos dias as redes sociais ficaram agitadas com o uso inadequado de “figurinhas” relacionadas ao Ramadã. O uso das figurinhas deveria ser para que as pessoas se informassem sobre esse período tão importante na vida dos mulçumanos, porém, não foi bem isso que ocorreu. A maior parte das publicações usando a figurinha nada tinham a ver com o Ramadã, mas as pessoas passaram a utilizá-las como uma estratégia de alcançar um maior número de pessoas com suas publicações. A maior parte delas, a bem da verdade, não agiu de má fé, pois pensaram que as figurinhas eram apenas mais uma tendência na rede social. 

As imagens lançadas na rede social foram três: uma mesquita, uma lua crescente e um copo de chá com tâmaras. Mas qual a relação destes elementos para o islã? 

A mesquita é o templo sagrado do islamismo, na qual milhares de mulçumanos se reúnem para suas orações e adoração a Alá; já a lua crescente é o símbolo da religião islâmica e guarda um significado muito especial: ela simboliza a Renovação. Se pensarmos nas fases da lua, entenderemos que ao sair da fase nova, a lua crescente inicia um novo ciclo. Para além disso, as estrelas e a lua representam a noite, que durante o Ramadã é o período em que os mulçumanos podem fazer refeições; o copo com chá e tâmaras são alimentos que os mulçumanos podem consumir ao ao fim do dia para a quebra do jejum.

Visto essa questão, nós da FeedoBem resolvemos criar esse texto visando explicar para entendermos melhor o que é o Ramadã, sua origem e seus símbolos. Acreditamos que quando conhecemos o significado profundo desse período podemos nos relacionar melhor e tratar de forma respeitosa os seguidores da fé islâmica. 

Primeiramente, é importante entendermos um pouco sobre o que é o Ramadã e sua origem. Para os mulçumanos, o Ramadã é o nono mês do calendário lunar islâmico e foi nesse período que o Alcorão, o livro sagrado do islamismo, foi revelado a Maomé. Por esse acontecimento é que define-se o Ramadã como o mês em que a fé islâmica mais é exercitada. 

A tradução da palavra “Ramadã” significa “Ser ardente”, talvez o que explique a dedicação fervorosa dos mulçumanos nesse período. Para além disso, o Ramadã é um mês voltado para a prática de jejuns, desde abdicar-se de comida e água, até de relações íntimas. Para os mulçumanos o jejum é um dos cinco pilares da religião islã, junto com a declaração de fé, a peregrinação para Meca, as orações diárias e a caridade. 

Um fato interessante sobre o Ramadã é que ele é o único mês nomeado no Alcorão, o que constata sua relevância para o islamismo. Um outro ponto que precisamos compreender é acerca da duração do Ramadã. Como o calendário islâmico é baseado no movimento da lua, o Ramadã não possui datas fixas, visto que se baseia nas fases lunares. Seu período, portanto,  é de 29 a 30 dias e pode ocorrer em diferentes épocas do ano “comum”, que no caso seria o calendário gregoriano, baseado no movimento de translação da terra. Em 2021 o Ramadã começou no dia 13 de abril e se estenderá até o dia 12 de maio.

 Mas afinal, o que se faz nesse período?

Tratando de maneira mais específica, os jejuns praticados pelos mulçumanos não são de alimentos, como o que se costuma pensar. Muito menos são de maneira integral, ou seja, por dias a fio, mas vamos por partes. O jejum deve ocorrer entre a alvorada e o pôr do sol, ou seja, enquanto for “dia” os mulçumanos não podem tomar água e comer, nem ter relações íntimas ou fumar. Suas refeições passam a ocorrer no período da noite, sendo esse um modo de purificar seu corpo ao longo do dia. Do mesmo modo que ocorre no físico, os mulçumanos devem buscar ao máximo evitar pensamentos de crítica e emoções negativas, pois esses elementos também mancham a pureza buscada pelos islâmicos. Ao mesmo tempo, Virtudes como a Generosidade são amplamente exercidas nesse período, sendo uma prática comum entre os mulçumanos, pois não basta apenas evitar fazer o mal para se tornar puro, mas sim praticar de maneira verdadeira o Bem. 

Essa ideia de purificação é recorrente dentro das religiões. Ela se faz fundamental, visto que normalmente acabamos por “sujar” nossa Alma com maus pensamentos, sentimentos e ações. Somos escravizados por vícios, hábitos e, na grande maioria das vezes, agimos de modo automático, ou seja, não pensamos antes de realizar uma ação. Todos esses aspectos, no curto e no longo prazo, acabam por nos afastar de uma Vida Espiritual e se faz necessário, de tempos em tempos, uma purificação. Por isso, esse é um período importante para os mulçumanos, pois é uma maneira de reconectar-se com o Divino. Para isso, não pode-se macular essa relação com atitudes que sejam grosseiras ou pensamentos nefastos. 

Nem todos, porém, são obrigados a praticar o jejum. Mulheres grávidas, crianças, pessoas com doenças terminais e enfermos, por exemplo, estão dispensados de suas obrigações no Ramadã. Entende-se que essas pessoas precisam se alimentar bem para manter (ou retornar) o corpo saudável. Entre os jovens, a primeira vez que lhes é concedido o direito de praticar o jejum no Ramadã é visto como um rito de passagem para a vida adulta. 

Durante o Ramadã, os mulçumanos exercem suas funções diárias normalmente, ou seja, trabalham, estudam e praticam atividades igual aos outros dias do ano. Há alguns países, entretanto, que diminuem a carga de trabalho para que não haja necessidade de quebrar o jejum ou problemas decorrentes dele. Ao cair da noite, entretanto, a rotina dos fiéis tem uma leve mudança. Primeiramente eles quebram o jejum com o Iftar, uma refeição, geralmente leve, para recompor suas energias. Em seguida, dedicam grande parte da noite para orar, o que normalmente faz com que as Mesquitas fiquem cheias e sejam um ponto de encontro dos mulçumanos. Culturalmente vão-se as Mequitas para fazer as orações, porém há quem as faça em casa. Após suas orações, uma grande refeição é realizada, geralmente junto aos seus familiares ou mesmo nas Mesquitas, de maneira coletiva. 

Esses aspectos acabam por aproximar e renovar os laços familiares dos fiéis. Todos esforçam-se para uma convivência agradável e pura, guiados pelo sentimento de União que esse período do ano proporciona. A caridade também se expressa ainda mais nesse período, pois as Mesquitas oferecem refeições as pessoas que não tem condições financeiras de comprar seus alimentos. Essa prática, que é um dos preceitos do islã, não se restringe a atuação das Mesquitas, mas abrange todos os mulçumanos que se sintam na obrigação de ajudar seus companheiros de fé. 

Para alguém que não tenha uma ligação com a religião islâmica, talvez o Ramadã pareça algo muito radical, até mesmo possa pensar que é uma forma de fanatismo religioso. Porém, se observarmos a ideia por trás da sua prática perceberemos que é uma maneira de fortalecer a Vontade e a vida espiritual dos seguidores do Alcorão. O jejum, de maneira ampla, pode ser pensado como uma prática de exercer o autodomínio sobre nosso corpo e mente. É, em última instância, colocar-se diante das suas necessidades e ser capaz de não atender os instintos em nome de algo maior. 

Visto isso, o Ramadã, assim como outras celebrações religiosas, não deve ser encarado somente a partir da sua forma, ou seja, daquilo que objetivamente é feito nesses períodos. Acima de tudo existem as ideias que movimentam tantos fiéis em busca de se tornarem Seres Humanos melhores.

Por fim, ao entendermos isso certamente seremos pessoas mais tolerantes e teremos o Respeito como uma Lei em nossa Vida. Já não importará qual religião, cultura ou nacionalidade da outra pessoa, mas sim sua Essência Humana. A isso chamamos de Unidade, ou seja, enxergarmos toda a Humanidade como nossos irmãos de jornada, que até podem parecer diferentes de nós em seu modo de agir, mas ainda continuam sendo Seres Humanos que compartilham do mesmo destino que o nosso. Se conseguirmos alcançar essa percepção sobre as outras pessoas, passaremos a compreender e acolher mais e, consequentemente, julgar menos os demais. Busquemos, enfim, a Unidade.

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