Uma antiga frase diz que a única coisa permanente na vida é a mudança. Ou seja, não há como impedir o movimento natural que nossa existência desenvolve e, por vezes, essas mudanças são físicas. Podemos mudar a cor do nosso cabelo, a maneira como nos comportamos, mas também podemos mudar de cidade, estado ou país.
Deslocar-se de um local da terra para o outro, porém, não é algo novo. Em verdade, desde que o Ser Humano existe estamos em constante movimentação. Chamamos esse movimento de migração. Graças às grandes migrações a espécie humana pôde ocupar todos os continentes da Terra, além de desenvolver uma forte troca cultural. Atualmente isso ainda ocorre com muita frequência, sendo resultado de uma série de fatores que nos leva a sair da nossa zona conhecida e arriscar-se em novos horizontes.
Pensando sobre essa questão, o dia 18 de junho marca a comemoração de uma das migrações mais famosas da nossa história: a Imigração Japonesa. Hoje, portanto, falaremos um pouco sobre ela e suas consequências para o Brasil.
Para conhecermos a história da imigração japonesa no Brasil precisamos retornar ao ano de 1908, no porto de Santos. No dia 18 de junho o navio Kasato Maru atracou no porto paulista com cerca de 780 imigrantes que deixaram o Japão e vieram construir uma nova vida nas terras brasileiras. Essas pessoas, em geral camponeses com poucos recursos, foram estimuladas a virem para o Brasil devido às mudanças ocorridas politicamente em seu país. Vale lembrar que no final do século XIX o Japão passava por uma série de transformações, tanto políticas quanto sociais. A famosa “Era Meiji” abriu o Japão ao mundo, fenômeno antes inimaginável se observarmos as relações do Japão até então. Além disso, uma série de reformas e novos impostos fez com que boa parte da população rural se dirigisse aos centros urbanos, o que gerou uma superpopulação em algumas cidades japonesas.
Visto esse cenário, tentar ganhar a vida em outro país não se mostrava uma ideia distante. Mas por que os japoneses escolheram o Brasil? Para responder a essa questão precisamos observar o que também ocorria com o Brasil no final do século XIX.
Como bem sabemos, esse período é de grande importância para o nosso país. Após mais de 300 anos o Brasil finalmente abolia o flagelo da escravidão, garantindo liberdade à sua população. Além disso, o fim da monarquia com a proclamação da República em 1889 foi um dos marcos políticos do nosso país. Esses dois fatores culminaram no incentivo da vinda de estrangeiros ao Brasil, algo que o nosso próprio governo fez.
Os grandes produtores de café, que outrora usavam mão de obra escrava para produção de seus grãos, precisavam de trabalhadores para suas fazendas. Junto a uma tentativa de embranquecimento da população, optou-se por estimular a vinda de europeus e asiáticos para o nosso país. Nesse contexto, italianos, alemães e japoneses que buscavam recomeçar suas vidas viram no Brasil uma oportunidade excelente de construírem uma nova vida e assim o fizeram.
A adaptação japonesa ao Brasil sem dúvida passou por grandes desafios. Imaginem chegar a um novo país, com uma língua e modo de vida completamente diferente, e ainda assim buscar encaixar-se nessa nova dinâmica social. Hoje, como podemos observar, os japoneses estão bem adaptados ao nosso estilo de vida. Se formos ao bairro da Liberdade, em São Paulo, poderemos constatar facilmente isso. Lá encontram-se não apenas imigrantes do Japão, mas diversas culturas asiáticas em um dos maiores bairros da capital paulista. Não por acaso São Paulo tornou-se uma cidade conhecida pelos seus imigrantes: sejam japoneses, italianos, sírios ou libaneses, é nela que se concentra o maior número de imigrantes do Brasil.
Entretanto, para além das motivações históricas e questões geográficas, podemos refletir sobre as grandes contribuições dessa onda migratória japonesa ao nosso país. Se prestarmos bem atenção podemos aprender Valores importantes com a cultura japonesa, ao qual se destacam sua Disciplina, seu modo de Vida Cerimonial e sua Harmonia. Bem sabemos que esses aspectos culturais não foram transmitidos à nossa cultura, mas não por falta de tentativa desses homens e mulheres imigrantes, senão pelo simples fato de não buscarmos absorvê-la. Logo, todos esses fatores, que em geral respeitamos e admiramos, poderiam passar a ser nossos se nos dedicássemos para tal.
Quem de nós, por exemplo, não lembra da Copa do Mundo de 2014, em que a torcida japonesa, após o jogo, recolhia todo o lixo do estádio? Esse respeito ao meio ambiente e essa postura ativa arrancou aplausos de todos nós e foi inspiração para que pudéssemos tomar atitudes similares. Esses exemplos Morais, muitas vezes, são vistos como contribuições mais importantes do que a própria culinária japonesa, tão integrada ao nosso estilo de vida atual.
Há quem não goste, mas certamente todos nós já provamos, ou tivemos a oportunidade, de experimentar as iguarias da culinária nipônica. De igual modo é provável que você já tenha assistido algum “anime”, um desenho animado japonês. Mesmo que não seja da sua preferência, essa relação entre as culturas brasileira e japonesa se conectam por muitas vias, o que mostra uma benéfica relação nesses 113 anos de conexão entre o Brasil e o Japão.
Devemos muito ao povo japonês e a sua atitude de migrarem ao Brasil. Muitas gerações dedicaram-se e ainda dedicam-se a tornar nosso país mais próspero e rico, assim como o Brasil se tornou um lar para todos aqueles que um dia precisaram se lançar pelo Oceano Pacífico até os nossos portos. Essa atitude nos faz lembrar que a mudança é uma necessidade da Vida e que, por vezes, devemos assumir os riscos que envolvem migrar para outro local.
Apesar da saudade e de todas as adversidades, a Vida é sempre Justa e Inteligente em seus meios. Cabe a nós aprendermos a seguir as mudanças e transformar a nós mesmos a partir desses movimentos, afinal, a maior e mais significativa mudança que existe está dentro de nós. Portanto, que nesse 18 de junho seja um Feliz e Próspero Dia da Imigração Japonesa, comemoremos!
