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O que a mitologia galesa nos ensina sobre a sabedoria que ajuda a romper com as ilusões em que vivemos?

Você já ouviu falar da mitologia galesa? Advinda de um dos povos mais antigos do continente europeu, os gauleses estavam espalhados pelo velho continente, estabelecidos em regiões que atualmente são a França, a Suíça, a Bélgica e o Reino Unido. Apesar das milhares de tribos que constituíam esse povo não serem unificadas, por muitos séculos os gauleses predominaram na Europa, colocando medo até mesmo nos poderosos romanos. Conta-se que na época da República Romana, por volta do século IV a.C., uma invasão de gauleses conseguiu saquear a cidade de Roma, um feito que só aconteceria novamente na decadência do império, quase mil anos depois. Assim, por muito tempo os romanos alimentaram em seu imaginário que o povo gaulês era imbatível e, por isso, os romanos não se atreviam a investir contra o seu território.

Mas como um povo tão conhecido e temido na antiguidade é tão “desconhecido” nos dias atuais? Apesar de pouco exaltado pelo senso comum, provavelmente você já assistiu a algum filme, série, ou mesmo já viu um símbolo que esteja relacionado diretamente com os gauleses e sua mitologia. Um exemplo clássico foram os quadrinhos de “As aventuras de Asterix e Obelix”, que, posteriormente, tornaram-se um desenho animado. A dupla dinâmica que se tornava invencível ao tomar sua poção mágica, o famoso néctar, e assim combatia as legiões romanas que tentavam usurpar seu território. Sem saber, estávamos consumindo um pouco da mitologia galesa, na qual o alimento divino era produzido pelos druidas em seus caldeirões. Essa cultura, ligada à natureza e com seus elementos mágicos, não apenas serve para alimentar nossa imaginação, mas também para compreender o estilo de vida e as ideias que permeavam esses homens e mulheres do passado.

Dito isso, hoje vamos estudar um pouco mais sobre a cultura galesa, que compartilha muitos elementos em comum com a chamada cultura celta, como é mais conhecida no senso comum. Por que isso ocorre? Como já apontamos anteriormente, antes da expansão da Roma Antiga, alguns territórios da atual Europa Ocidental eram ocupados por povos celtas, que viviam em tribos, de forma similar aos gauleses. Assim, ao longo da dominação romana, pouca distinção se fez entre celtas e gauleses, colocando seus elementos culturais de forma homogênea. 

Hoje, esses territórios são chamados de nações celtas, em razão da forte identidade cultural daquelas civilizações, presentes até hoje no folclore, nas lendas e na literatura dessas regiões. Porém, entre eles, se encontra o País de Gales, que é uma das nações do Reino Unido, com cerca de três milhões de habitantes. Esse pequeno país tem uma construção cultural muito rica, pois ao longo da história, sua cultura foi agregando elementos dos celtas, depois dos romanos, depois dos povos germânicos, e acabou tendo seu território anexado à Inglaterra. Assim, com o tempo, a série de elementos culturais distintos que foram introduzidos nessa região acabou por diluir o conhecimento original da sua cultura, o que torna cada vez mais complexo resgatá-lo em essência.

Essa trajetória de ocupações por culturas tão diversas e tão potentes transformou aquela região em um grande achado para os que buscam símbolos, mitos e literatura antiga como meio de compreender a Natureza Humana.

Com uma vastidão de contos e histórias das mais diversas, um dos mitos mais interessantes da mitologia galesa é o que conta a origem de Taliesin, que foi um dos cinco maiores poetas britânicos da história. Apesar da existência de muitas narrativas míticas sobre sua origem, o que se tem, de fato, de Taliesin é um manuscrito medieval, inclusive incompleto, com alguns de seus belíssimos poemas. Vale lembrar que grande parte do que conhecemos acerca da cultura celta são manuscritos medievais, feitos pelo menos 1.200 anos após a conquista desse povo. Assim, é preciso considerar, mesmo nessas histórias, a introdução de elementos posteriores e uma certa “romantização” das narrativas, uma vez que essa mitologia foi passada através de uma narrativa literária, e não como uma tradição de tempos antigos.

Acerca do mito, sabe-se muito pouco sobre o nascimento e a infância real de Taliesin, mas o imaginário popular a respeito de sua origem é muito significativo. Em uma dessas narrativas míticas, conta-se que, na infância, Taliesin se chamava Gwion Bach e era servo de uma feiticeira chamada Ceridwen, a qual tinha uma filha e um filho. A filha era muito linda e o filho, que se chamava Avagdu, era muito feio. Então, Ceridwen resolve compensar a feiura do filho preparando uma porção mágica, cujas três primeiras gotas iriam lhe dar o dom da Sabedoria e da Inspiração.

A preparação dessa substância é muito delicada, levaria um ano e um dia, sendo mexida dentro de um caldeirão. Assim, a feiticeira contrata um cego chamado Morda para cuidar do fogo sob o caldeirão e encarrega Gwion Bach para mexer a panela. Durante o processo, três gotas quentes caem no polegar de Gwion enquanto mexia a panela. No mesmo momento, ele leva o polegar à boca e absorve as gotas, consequentemente, se tornando um Sábio. O primeiro pensamento que lhe vem como Sábio é que a feiticeira vai lhe matar, e imediatamente foge dali.

Essa fuga é narrada envolvendo muitas experiências de transformações, quanto mais Ceridwen lançava feitiços contra Gwion, mais ele precisava exercer a Sabedoria para se livrar deles. E assim o jovem vai crescendo, vai crescendo, e se transformando em alguém diferente, cada vez mais maduro, cada vez mais Sábio, até se tornar o grande poeta Taliesin.

Traçando um paralelo com outras mitologias, podemos perceber que uma feiticeira é sinal de ilusão. Na mitologia grega, por exemplo, temos Circe e Medeia, ambas mulheres versadas na magia e que causam ilusões aos seus companheiros ou desafetos. Ligando essa ideia com o mundo real, você já observou que crescer é de certa forma se desiludir? A nossa jornada de Vida é cheia de ilusões, as quais nos fazem perder tempo. Na narrativa da mitologia galesa, a mesma chave é utilizada. Para Taliesin chegar ao nível de um grande poeta, de um artista que conseguia, com as palavras, construir pontes para o lado mais sublime da Alma Humana, ele precisou viver experiências de desilusões constantes, ou seja, precisou vencer a feiticeira Ceridwen.

Com essas reflexões em mente, podemos afirmar que as nossas ignorâncias diante da Vida, geralmente são decorrentes do tempo que perdemos com as ilusões: a ilusão do apego aos bens materiais; a ilusão do prazer excessivo; a ilusão do poder; a ilusão da fama; a ilusão da carência; a ilusão do reconhecimento… Porém, à medida que vamos vencendo essas ilusões, ou seja, que vamos deixando de ser dependentes desses elementos, vamos ganhando Sabedoria e Discernimento, já que há um patamar de Sabedoria que nos coloca em contato com um lado sublime da Vida, onde não há dúvidas, nem medos, nem ansiedade. É um patamar de Equilíbrio, Segurança e Plenitude. No entanto, não chegamos lá apenas intelectualmente, pois é preciso viver as experiências, vencendo as ilusões, crescendo e se transformando em um novo Ser Humano. 

Essa é uma das contribuições da Sabedoria Galesa para a nossa Jornada de Vida hoje. Então, qual feitiço você irá vencer hoje para se tornar um pouco mais Sábio?

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