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O Mito de Sísifo: Uma Reflexão Sobre o Sentido da Vida

Sabe quando você precisa fazer uma atividade específica, e ao terminar ela dá errado e você precisa recomeçar? Sabe aquela frustração que surge quando pensa “não acredito que preciso fazer isso de novo”? Ou quando você cai no automatismo da rotina e sente que faz o mesmo trabalho todos os dias, qual a sensação que sentimos? É comum falarmos em frustração, desânimo, raiva… Tudo nos ocorre por sentirmos que desperdiçamos o nosso tempo, que nada de novo nos acontece, ou que nada nos desafia; afinal, já estamos fazendo há tanto tempo o mesmo trabalho que não há mais nada de novo a nos ocorrer. Agora imagine ter que fazer algo assim durante a eternidade, um verdadeiro castigo não é mesmo?

Na mitologia grega há um caso famoso de um mortal que sofreu essa punição. Seu nome é Sísifo, e ele foi um rei importante nos tempos míticos da Antiga Grécia. Conta o mito que Sísifo era extremamente inteligente, uma pessoa verdadeiramente hábil com as palavras e por isso era capaz de enganar qualquer um. Sua inteligência, usada para manipular os outros e atingir seus objetivos, foi capaz de levar a sua cidade, Corinto, a conquistar riquezas e conseguir bons acordos. Porém, a grande arma de Sísifo acabou se voltando contra si.

Certo dia, enquanto admirava a paisagem de Corinto, Sísifo avistou uma águia levando uma princesa em suas garras. O rei reconheceu que se tratava de Egina, a filha de Asopo, um deus dos rios. Sísifo, que precisava de uma fonte de água para abastecer sua cidade, rapidamente se colocou em negociação com a divindade. Afirmava ter visto Egina e saber do seu paradeiro, mas só revelaria essa informação quando Asopo desviasse o curso do rio para próximo de Corinto, assim ajudando no abastecimento da cidade. A divindade assim o fez e Sísifo o ajudou a encontrar sua filha.

Até esse momento tudo parecia bem, porém, a águia que levava Egina era Zeus, o deus dos deuses. Por ter atrapalhado os planos do governante do Olimpo, Zeus ordenou que Thanatos, o deus da morte, fosse até Sísifo e o levasse para o Hades. Parecia que o tempo de Sísifo havia chegado ao fim, mas, graças à sua inteligência, o rei de Corinto conseguiu enganar a própria morte.

O mito nos conta que Thanatos ao chegar no palácio de Sísifo, foi recebido com honrarias, e o rei, que deveria estar temeroso, na verdade estava feliz e teceu diversos elogios a beleza e a soberania da morte perante a vida. Thanatos ficou agraciado com os comentários, e Sísifo, percebendo que havia conquistado sua confiança, perguntou se poderia lhe dar um presente, um colar para embelezar ainda mais o deus. Thanatos aceitou de bom grado, porém, quando Sísifo colocou o colar, este era, na verdade, uma corrente e assim a morte foi aprisionada. 

Deixando Thanatos preso em seu palácio, as consequências foram terríveis para outros dois deuses: Hades, o deus dos mortos e senhor do submundo, e Ares, o deus da guerra. Uma vez que a morte estava presa não podia exercer sua função, logo, ninguém poderia morrer. Para Hades essa era uma situação péssima, uma vez que sua função era justamente guiar os mortos. Seu reino estava ficando vazio, e ele precisava entender o que se passava no mundo dos vivos. Já para Ares, o deus da guerra, as batalhas nunca teriam fim, pois os combatentes lutariam à exaustão, mas nunca morreriam. Assim, as duas divindades ficaram responsáveis por  procurar por Thanatos e restabelecer a ordem.

Rapidamente, chegaram à conclusão de que Sísifo era o responsável pelo desaparecimento da morte. Hades foi até o seu palácio e descobriu toda a trama. Em seguida, libertou Thanatos e levou Sísifo. Porém, mais uma vez o mortal estava um passo à frente dos deuses. Sabendo das consequências que a prisão de Thanatos poderia acarretar, Sísifo explicou para sua esposa que quando fosse levado pela morte até o submundo, não enterrasse seu corpo, muito menos fizesse algum tipo de rito funerário. Sem mais explicações, o rei de Corinto foi levado para o mundo dos mortos, e seu corpo físico passou a jazer sem vida em cima de sua cama.

Ao chegar ao mundo dos mortos, porém, Sísifo tratou de reclamar a Hades que sua esposa, por descuido e desonra à sua memória, não havia feito os ritos funerários para que sua alma pudesse entrar na morada dos mortos. O rei de Corinto então pediu que Hades concedesse mais um dia de vida para ele, para poder castigar sua esposa e ter seus ritos atendidos. Hades então atendeu ao pedido de Sísifo, afinal, nada poderia fazer em apenas 24 horas. Assim, Sísifo voltou à vida, mas, ao invés de punir sua esposa, resolveu fugir. Mudando sua identidade, deixou Corinto e passou a viver como um simples camponês. Mais uma vez, Sísifo enganou a morte e os deuses. 

Porém, o castigo por essa ousadia seria terrível. Sísifo não foi perseguido por Hades e morreu de velhice. Ao chegar no Hades, foi reconhecido pelos deuses, que lhe deram uma punição. Durante toda a eternidade, no Tártaro, Sísifo foi condenado a fazer um único trabalho: carregar uma pedra até o topo de uma montanha; e quando a pedra estivesse no topo, forçosamente ela rolaria montanha abaixo, cabendo a Sísifo carregá-la novamente até o topo, por toda a eternidade. 

No vídeo abaixo, podemos ver o mito de Sísifo.

Se fizermos um exercício de imaginação, conseguimos sentir um pouco da dor e angústia que é fazer tal trabalho… Criamos até uma empatia por Sísifo, mas antes disso precisamos refletir sobre o significado desse mito. O que a mitologia grega queria nos ensinar através de Sísifo? Seria apenas para mostrar a crueldade dos deuses gregos ou algo mais?

Analisando de forma prática, parece um trabalho sem sentido. Por que subir a pedra se automaticamente ela vai cair? Por que não simplesmente deixá-la lá embaixo? Quanto esforço para nada. A realidade que esse mito traz é, na verdade, uma realidade psicológica, já que nunca existiu historicamente um homem chamado Sísifo que recebeu um castigo dessa forma; mas, em algum grau, muitos homens vivem exatamente a mesma coisa que ele em suas psiques. Esse mito retrata o movimento de uma vida sem sentido. É importante ter um sentido de vida, mas nem todos que estão vivos o têm. 

Viver uma Vida vazia, sem significado nenhum, da hora que acorda até a hora que vai dormir, tendo de  começar tudo de novo no dia seguinte, é tão duro e difícil quanto o castigo de Sísifo. Rir de algo que não tem graça, fingir que gosta de algo para agradar aos outros ou para não precisar se explicar, fingir que está feliz porque todos aparentam estar… Imagine viver todos os dias aguentando isso? É um verdadeiro castigo do Tártaro. 

O homem existe para cumprir com um papel, independente se você acredita ou não em  religião, crença ou fé. Todas as tradições, filosofias e sabedorias antigas falam sobre cada pessoa encontrar o sentido da sua vida. Inclusive, muitas tradições dizem que a saga humana é descobrir o porquê de sua existência durante a vida. Assim, é muito impróprio para o ser humano viver uma vida sem saber por que a vive. Viver sem um sentido; sem uma finalidade mais nobre, mais altruísta, mais generosa; e sem um propósito maior do que nossa própria vida é viver como o personagem do mito. Dessa forma, tudo o que se faz se torna tão vazio e tão sem sentido quanto o subir e descer da pedra.  

No mito, mesmo sendo muito astuto, Sísifo fazia tudo somente para benefício próprio, só agia por egoísmo e nunca honrava ou respeitava os deuses. Podemos entender que o símbolo disso é que ele tinha muitos poderes, mas não tinha um sentido profundo de vida. Toda a sua experiência era limitada aos seus interesses pessoais e materiais.

Este mito serve, assim, de alerta para todos nós. Que possamos sentir a dor de Sísifo e dizer “este não serei eu”. Que nossas ações sejam com sentido, sejam conscientes. Nesse sentido, devemos sempre perguntar a nós qual o sentido e a finalidade daquilo que nos comprometemos a fazer; e caso seja difícil encontrar a resposta, talvez seja porque o sentido é tão profundo que precisamos nos esforçar mais para compreendê-lo, ou talvez esta seja uma ação que realmente não faz sentido, e que não vale a pena continuar insistindo nela. Mas precisamos ter o discernimento para diferenciar uma situação da outra.

Levando em conta tudo o que dissemos até aqui, não vamos sofrer por Sísifo nem como Sísifo, vamos aprender com ele, e com isso, viver nossa vida com um verdadeiro sentido. 

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