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O Mito de Er – O que Fazemos Hoje Reverbera em Toda a Eternidade

Como pensar sobre o que acontece depois da morte sem cair em fantasias? Existe alguma reflexão segura a respeito? Será que na filosofia há elaborações bem racionais sobre esse assunto? Que tipo de relação existe entre o que vem depois da morte e a vida presente? Se você faz essas perguntas, não está sozinho. Essa é a busca de milhões e milhões de pessoas em todo o mundo, o tempo todo. É certo que há muitas fantasias e muitas viagens imaginativas, afinal de contas esse é um território desconhecido, sem muitas possibilidades de provas concretas. Entretanto, nem só de especulações frágeis vive a reflexão sobre a Vida após a morte. Tradições milenares, civilizações antigas e muito sofisticadas, sistemas simbólicos inteligentes e grandes mentes humanas deixaram reflexões bem elaboradas a respeito do tema.

Entre as mentes mais sofisticadas da Humanidade que já pensaram sobre esse aspecto, destaca-se Platão, um filósofo grego que viveu há 2.400 anos. A sua obra é vastíssima, e até hoje vem sendo estudada por inúmeros centros acadêmicos e filosóficos, o que resulta em milhares de teses de doutorado, dissertações e publicações de todo tipo. Toda a obra de Platão gira em torno dessa integração entre Céu e Terra, entre o espírito e a matéria, entre o denso e o sutil, entre o transitório e o eterno, mas é no livro “A República”, no último capítulo, que Platão apresenta uma das reflexões mais ricas, mais profundas e mais intrigantes do que nos acontece após a morte. Para tanto, ele faz uso de um Mito. Platão é de uma tradição que costumava usar a linguagem mítica sempre que precisava tratar de algum assunto muito sutil, e muito distante da nossa percepção imediata. Quando nossa linguagem não é suficiente para dar conta de assuntos muito profundos, a linguagem simbólica do Mito funciona como um meio para se chegar a essa realidade subjetiva.

Foi com esse espírito que Platão contou a história de um guerreiro chamado Er, que havia morrido em combate e só depois de dez dias é que encontraram seu corpo, que estava intacto, mesmo em meio a muitos cadáveres putrefatos, e o levaram para ser sepultado. Mas quando o puseram na pira funerária, no seu décimo primeiro dia de morto, ele voltou à Vida, e diante de um público muito assustado, contou o que teria visto no outro mundo.

Er diz que não sabe como voltou à Terra, mas quando abriu os olhos estava em seu corpo novamente rodeado de pessoas que lhe olhavam atônitas. Ele conta que, logo após a morte, se viu em uma espécie de julgamento que acontece em um espaço intermediário entre o Céu e a Terra. Os justos, após serem julgados, seguiam por uma senda que os levavam aos Céus, enquanto que os injustos se dirigiam à senda que os levavam de volta para a Terra. As almas eram castigadas ou recompensadas de acordo com os seus feitos em Vida.

Antes de retornarem à Terra, eram apresentadas às almas diversas formas de Vida para que escolhessem de acordo com o seu discernimento. Os que não tinham um bom discernimento acabavam escolhendo Vidas com excessos de prazeres, o que os levavam, por fim, a situações de mendicância, escravidão ou tirania. Já os mais prudentes, escolhiam Vidas mais moderadas, rejeitando os excessos, pois assim conseguiriam alcançar a Felicidade de forma mais simples.

Feita a escolha, as almas se dirigiam a uma planície sob um calor terrível e asfixiante, pois não existiam árvores nem sobras de nenhum tipo, e passavam o dia inteiro ali. À tarde, acampavam às margens do Rio Lete, cujas águas causavam esquecimento. Os que eram mais vulneráveis à experiência, se lançavam no rio e acabavam bebendo muita água, outros bebiam pouca e outros não bebiam nada. Os que mais bebiam voltavam à Terra mais esquecidos, os que menos bebiam, voltavam menos esquecidos e assim sucessivamente.

Nas entrelinhas dessa narrativa mítica, percebemos três aspectos muito curiosos: primeiro a ideia do julgamento, pós morte, dos feitos realizados na Vida terrena. Isto nos apresenta uma ligação entre estes dois momentos, pois não existe separação entre o que fazemos aqui neste mundo e o que acontecerá conosco no pós Vida, tudo está interligado. Na visão platônica, cada segundo da nossa existência carrega uma eternidade dentro. Cada ação, cada pensamento, cada palavra falada, cada gesto, cada atitude, cada decisão que tomamos reverbera para sempre.

O segundo aspecto percebido é a ideia de que a Vida que vivemos hoje, de algum modo, foi uma escolha consciente nossa em algum momento passado. Se somos muito ambiciosos, a tendência é fazer escolhas que serão reflexo dessa ambição. Se somos muito egoístas, faremos escolhas nesse sentido também, e todas essas escolhas têm consequências. As melhores escolhas são feitas por quem tem um coração leve, sincero e que busca a retidão em tudo.

O terceiro aspecto está relacionado ao rio do esquecimento. Ao falar deste rio, Platão nos apresenta a Teoria da Reminiscência, que é uma teoria do conhecimento. Nesta visão, nunca aprendemos nada de novo, pois todo o conhecimento já está dentro de nós, porém foi esquecido. Ou seja, à medida que aprendemos estamos relembrando de algo que já conhecíamos.

Alguém já lhe disse que sempre que tomamos a morte como companheira nos tornamos filósofos? Isso é verdade. Pensar na finitude humana e se aproximar dessa forma de ver o mundo, a exemplo do que acabamos de ver em Platão, vai trazendo à tona a nossa natureza de filósofo. Esta Vida é realmente finita, isso é irrefutável, e pensar sobre o que vem depois enche a nossa Vida de Esperança. Faz muito sentido esta união que Platão estabelece entre o que vivemos hoje e o que viveremos depois da morte. Assim, que possamos Viver hoje, em cada segundo, a plenitude de uma existência que jamais se extingue, só muda de experiência.

Gostaria de aprender mais sobre esse assunto? Então, não deixe de conferir o nosso vídeo no YouTube que preparamos especialmente para você.

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