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Tudo na vida tem seu ciclo: nasce de uma necessidade, chega ao seu apogeu e depois se degenera. Assim como muitas ideias e palavras, os mitos hoje em dia parecem ter diversos significados, e às vezes podem até parecer narrativas vazias e sem importância para nós. O “Mito de Apolo”, um dos principais deuses do panteão grego, geralmente desperta nosso interesse somente por mera curiosidade intelectual. Mas a verdade é que o mito deste deus “sem polos” – Uno, da Luz, da Medicina, da Harmonia, das Artes e dos Mistérios – guarda muita Sabedoria, e pode nos ensinar elementos importantes sobre a vida, se buscarmos nos conectar com seu profundo significado.

À primeira vista, os deuses gregos podem parecer personagens mesquinhos, vaidosos e depravados, porém os mitos não podem ser interpretados de uma maneira literal. Inúmeros são os símbolos aqui que só podemos entender com a Intuição, com algo além da nossa mente racional. Zeus como Deus, pai de todos os outros deuses, é representado como adúltero, pois precisa dar vida a todas as coisas, estar em todas as coisas; e por essa razão, não pode ser entendido de forma superficial. Percebem a diferença de uma interpretação literal e uma interpretação simbólica? O próprio Platão nos alertava sobre os perigos de interpretarmos erroneamente um mito e acharmos que os deuses teriam características tão próximas dos seres humanos como ciúme, raiva e até mesmo atitudes imorais.

Nossa dificuldade atual em entender estas tradições da humanidade reside no fato de termos perdido muito da linguagem simbólica da vida. Por exemplo, para nós, uma flor é só uma flor. Mas podemos vê-la também como um símbolo do carinho e do cuidado da pessoa que preparou o arranjo. Ou podemos perceber a Vontade que se manifestou na planta, desde quando ela era uma semente e vencia a terra, até a sua realização como uma bela flor. Se buscarmos enxergar o que há por trás das coisas, novamente teremos chances de entender profundamente a vida e desta forma, aprender com o legado de civilizações tão belas, por exemplo o mito grego de Apolo.

Uma das versões mais aceitas para o significado do nome Apolo veio do filósofo Plotino: “o sem polo”. Ou seja, sem dualidades, aquele que alcançou uma Unidade Interna, que conseguiu superar a guerra dentro de si, a guerra entre o que é realmente próprio do seu lado mais Bondoso, Justo e Harmonioso; e aquilo que é mais grosseiro e irrelevante.

Vamos entender melhor esse personagem trazendo alguns aspectos dele. A história de Apolo começa a partir da sua concepção. Fruto da relação de Zeus, o deus dos deuses, com Leto, uma mortal que encantou a divindade com sua beleza, nasce Apolo e sua irmã gêmea, Ártemis. Como uma dualidade, enquanto Apolo é o deus do sol, que representa a vida, em sua máxima expressão, Ártemis é vista como a deusa da lua, dos mistérios, da caça e protetora dos animais e das florestas. 

De acordo com o mito, Ártemis nasceu primeiro que Apolo e assim o fez para ajudar Leto no parto do seu irmão. Simbolicamente podemos compreender que é o mistério – representado pela lua e pela “escuridão” – que faz nascer a vida, a luz, o sol. Essa ideia é recorrente na mitologia grega, uma vez que a própria criação do Universo, de acordo com este povo, ocorre a partir da força primordial em essência: o Caos. É do Caos que nasce todas as formas e que em seu desenvolvimento surge a luz e a vida.

Latona com seus filhos Apolo e Diana, de William Henry Rinehart (1870)

Conta-se que desde antes de seu nascimento, ainda no ventre de Leto, os gêmeos e a mãe são perseguidos pela gigantesca serpente Píton, que nasceu das profundezas da Terra. Após muito tempo de fuga, Leto encontra abrigo e proteção em uma ilha, e lá, após longos dias sofrendo dores do parto, nascem os gêmeos. Apolo, logo após o nascimento, é banhado e cuidado por várias deusas e após comer a ambrosia, fruto sagrado da imortalidade, ele se torna um homem adulto. Neste momento, ele reivindica os presentes de seu pai – um arco e uma lira de sete cordas – e assume a missão de comunicar aos homens a Vontade de Zeus. Esse aspecto apresenta Apolo como um intercessor entre o mundo dos deuses e os mortais, tal qual Hermes, o deus mensageiro. Porém, diferente dessa divindade, Apolo fará essa “ponte” através de suas musas inspiradoras e, por isso, também será conhecido como o patrono das artes. 

Reunidos no monte Hélicon, Apolo e suas musas inspiraram artistas das mais distintas artes a expressarem a vontade dos deuses, mostrando-lhes um pouco do mundo sutil que há no Cosmos e que está para além da objetividade da matéria. As musas eram filhas da deusa da memória, chamada de Mnemosine, e Zeus, sendo assim, de certo modo, meias-irmãs do deus do sol. 

Porém, estamos nos adiantando em seu mito. Ainda sobre a disputa com Píton, a serpente que tentava matá-lo, Apolo enfrenta diversas vezes a terrível besta e enfim consegue derrotá-la. No local de sua batalha, decide erguer um templo em sua homenagem, o qual se tornaria um dos principais – se não o principal – templo de toda Grécia: o templo de Delfos. Conhecido pelo sábio Oráculo, que apresentava a vontade do deus do sol, o templo de Delfos tinha em sua entrada uma inscrição tão filosófica que até os dias atuais é lembrada: “Conhece-te a ti mesmo e conhecerás os deuses e o universo”. Assim, por gerações sacerdotes e sacerdotisas passaram a cuidar do templo e a honrar Apolo em seus desígnios. 

Marcantonio Franceschini (1648-1729)-‘Apollo und Diana töten den Python’-öl auf Leinwand-(1692-1707) Wien-Liechtenstein Museu

Suas viagens e dificuldades no caminho, a imensa cobra Piton que o perseguia, a necessidade de fundar seu templo, o famoso Oráculo de Delfos, todos estes elementos são símbolos para as guerras internas contra suas próprias debilidades e sua escolha consciente pela Luz. Depois de todas as suas “batalhas” consigo mesmo, ele pode por fim servir à humanidade, compartilhando sua Sabedoria.

Alexander consulting the Oracle

Para nós, este é um grande exemplo que nos ensina que durante a vida teremos também nossas próprias dificuldades, nossas próprias cobras Píton, mascaradas de problemas de convívio, de indisciplina, de egoísmo, de falta de perseverança. Mas podemos encará-las como oportunidades de conhecer a nós mesmos, como provas para vencermos e conseguirmos chegar ao melhor de nós mesmos. Somente desta forma, poderemos dar melhores respostas para a vida e ajudar os outros seres humanos em suas trajetórias.

Além dessa diversidade de ideias que esse mito traz, o que fica evidente é que Apolo sempre dará a luz que ilumina a inteligência, a luz que cura as almas e aparta os males morais, a luz que purifica, a luz que renova tudo o que existe, tudo o que Vive. O sol que este deus representa não é somente a estrela do nosso sistema solar, mas sim a verdadeira luz do espírito, que ao entrar em contato com a matéria pode fazê-la transcender. Por isso, os artistas, ao se inspirarem, sentem uma espécie de êxtase, como se estivessem a olhar diretamente para algo desconhecido e, ao mesmo tempo, extremamente belo. Este é o significado de Apolo: a Luz da Primavera que dá um novo vigor a tudo que vive e canta na Natureza. Enfim, Apolo nos ensina a olhar para dentro de nós e a saber escolher essa luz interna que todos nós temos, ou seja, escolher o Amor, a Bondade e a Justiça.

Gostaria de aprender mais sobre esse assunto? Então, não deixe de conferir o nosso vídeo no YouTube que preparamos especialmente para você.

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