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Conto Zen – O Monge e o Escorpião

Quantas vezes recebemos um mau pagamento por uma boa obra? Quantas vezes um ato de Bondade genuína é recompensado com ingratidão e dor?

Existe um círculo conhecido para os atos de violência: um homem perde o controle sobre si mesmo, sobre suas emoções, e agride outro; o ofendido também perde o controle e revida… E tudo se repete. Pronto, está montado o ciclo de sofrimento! Se um deles mantivesse o autodomínio, esse círculo teria uma chance de ser interrompido. Não é à toa que a maioria das tradições filosóficas, dedicaram grande parte de suas orientações para este ponto. O Buda Sidarta Gautama disse, no livro Dammapada: ”melhor que o homem que vence mil vezes mil homens em batalha, é o homem que vence a si mesmo”.

Não está explícito na narração do conto, mas o monge travou uma guerra feroz contra seu corpo e suas emoções. Quantos de nós conseguiríamos manter a Bondade enquanto sentíssemos dor. O mais comum é que nossa primeira reação ao ver um bicho peçonhento seja de medo e agressividade. E se somos feridos, picados ou maltratados, nos armamos com os piores pensamento e emoções que encontramos dentro de nós e partimos em busca de vingança. Quando fazemos isso, somos apenas mais um entre tantos outros.

Não há notícia na história de alguém que tenha perdido o seu autocontrole, e com isso tenha melhorado uma relação, um ambiente, uma equipe, uma nação, ou a própria vida. Na verdade, se esse alguém tiver um pouco de bom senso, não ficará bem nem consigo mesmo. Você já deve ter vivido aqueles momentos em que, após agir de forma rude com alguém, arrependeu-se e envergonhou-se amargamente.

Mas não há nesse mundo quem não erre, não é verdade? Todos nós, em algum momento, seremos o escorpião da história e atiraremos o nosso ferrão em alguém. O que fazer quando percebermos isso? Devemos aprender.

“Quanto a cada uma das coisas que sucedem contigo, lembra, voltando a atenção para ti mesmo, de buscar alguma capacidade que sirva para cada uma delas”. Essa é uma frase dita por Epiteto, filósofo estóico, que viveu na Roma Antiga como um escravo de um cruel secretário de Nero. Tudo o que nos acontece, seja nossa responsabilidade ou não, pode nos ensinar algo. Basta, como nos disse o filósofo, que olhemos para nós mesmos e busquemos alguma utilidade para isto.

Viver a vida é como aprender a andar ereto. Quantas vezes já caímos? Inúmeras, não? Mas, cada uma das quedas nos ensinou a andar. A diferença é que na Vida essa aprendizagem não acontecerá espontaneamente, mas sim por um ato de Vontade! Você perdeu a paciência com um amigo? Isso quer dizer que você acabou de aprender que precisa desenvolver essa Virtude.

E para desenvolvê-la, terá que refletir sobre as causas desse destempero, encontrar aquele aspecto sobre si mesmo que não conhecia e começar a agir buscando se tornar uma pessoa melhor. E depois disso, deve manter-se atento para, da próxima vez, vencer a si mesmo e crescer em Paciência. O resultado disso será mais Harmonia e Felicidade em suas relações. É aqui que você provavelmente concordará com o monge e dirá: “essa é uma expressão real da minha Natureza Humana”.

Cada ser deve agir de acordo com a sua Natureza. A isso damos o nome de Identidade. Quando cada um faz o que é a sua finalidade nesta vida, temos Equilíbrio, Harmonia e Justiça. Pense numa equipe de futebol, imagina se o goleiro não quer defender?! Ou se o atacante decide virar zagueiro? Serão derrotados, na certa.

Agora reflita sobre um Ecossistema. Talvez você não saiba, mas os escorpiões se alimentam de aranhas, baratas e outros insetos. Tire-os de um ambiente e sofreremos com a superpopulação dos outros animais. Percebe que o fato dele picar, no fim das contas é algo bom, desde que esteja cumprindo a sua finalidade? Assim, também um Ser Humano que age de acordo com sua Natureza haverá de gerar Bondade, Justiça e Beleza.

Costumamos pensar sobre qual é a finalidade e, portanto, a Natureza do Homem? E gastamos milhares de horas e caracteres discutindo essa questão. Mas nos parece fácil concordar que o Homem se diferencia dos outros seres da natureza pelo uso que faz da razão. Imannuel Kant, grande filósofo alemão, nos apontou, em seu livro “Fundamentação da Metafísica dos Costumes”, que a finalidade desta razão é gerar em nós uma Boa Vontade, ou seja, uma Vontade livre de inclinações e desejos egoístas, uma Vontade Boa em si mesma. Só quando agimos impelidos por essa Vontade, estamos sendo Humanos e estamos honrando a Generosidade da Natureza com nossa espécie. Somente assim a razão em nós se justifica.

Dessa forma, aquela atitude aparentemente estúpida do monge, de ajudar o escorpião apesar das picadas que levou, é a atitude mais racional que ele poderia tomar, uma vez que foi movida pela Vontade de ser Bondoso, a despeito das consequências. E o melhor de agir assim é que naturalmente nos sentimos Felizes. Assim, poderíamos dizer que o propósito da Boa Vontade é nos fazer felizes? Com relação a isso, Kant nos diz algo inspirador. Não é que a Boa Vontade se destine a nos ensinar como sermos felizes, mas segui-la nos faz dignos da Felicidade. Aqui, então, podemos fazer uma síntese poderosa: se agirmos conforme a nossa Natureza Humana, seremos dignos da Felicidade que sentiremos!

Você então tem dois grandes motivos para ser Bondoso com TODOS os seres. O primeiro é que, como Ser Humano, é para isso que você está aqui. O segundo é que agindo assim, é possível ser Livre e Feliz. E quando você errar, lembre-se daquele conselho de Epiteto: aprenda com TUDO! Mas e quando alguém errar com você, e for você a vítima de uma ingratidão, de uma injustiça? Então aja conforme sua Natureza Humana e faça como aconselha o grande sábio chinês, Confúcio:

“Quando vedes um homem bom, trata de imitar seu exemplo, e quando vedes um homem mau, indaga por tuas próprias faltas. ”

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