De onde eu vim e para onde eu vou? Este é um questionamento que já esteve presente na mente de qualquer indivíduo consciente. Essas são duas perguntas existenciais que surgem naturalmente à medida que vamos compreendendo o mundo. Mesmo as crianças já se questionam sobre o mistério dos inícios, quando fazem aquela pergunta constrangedora a seus pais: ”De onde vêm os bebês?”. E não leva muito tempo até que elas também se deparem com o mistério do fim: “Todo mundo morre?”. Entender a complexidade dessas questões leva a filosofia a ganhar novos rumos e faz toda civilização buscar respostas que acalentam esses dois grandes mistérios.

Basta olharmos para as diferentes civilizações que surgiram no Oriente e no Ocidente, seja na antiguidade ou nos tempos modernos, e poderemos encontrar as mais diferentes respostas para essas questões. Desde a mitologia até a ciência atual, continuamos a procurar uma resposta definitiva para esses dois enigmas que envolvem a humanidade. Por que isso ocorre?

Em parte isso se dá pelo fato de sermos os únicos seres vivos com autoconsciência. Ou seja: sabemos que somos mortais e que um dia vamos morrer. Ao entendermos que nossa forma física deixará de existir, passamos a questionar de onde viemos e se, de fato, a morte é um fim. Essas questões não passam pela mente dos animais, pois mesmo debilitados, seja por uma questão de saúde ou um trauma físico, não concebem a morte como nós seres humanos. Por isso, costumamos diferenciar a “morte” e o “morrer”. O primeiro é visto como um fenômeno natural, próprio da natureza; já o segundo é um fenômeno cultural, que envolve todas as ideias, medos e anseios que envolvem a morte.

Com o passar do tempo, porém, é natural que tais questões comecem a desaparecer de nossa perspectiva. De fato, não pensamos todos os dias sobre de onde viemos e para onde vamos, pois nossa vida prática exige concentração, foco e mergulho na rotina. Nesse sentido, nossa mente fica cheia de coisas “mais importantes”, e esses questionamentos vão sendo substituídos pelas preocupações com as contas para pagar, com a roupa para comprar e com as opiniões de pessoas que nem conhecemos, mas que contam como “curtidas” numa rede social qualquer.

Apesar de deixarmos tais questões de lado à medida que vamos mergulhando em nossas atividades comuns, os mistérios continuam a nos rondar, afinal, o fato de não pensarmos sobre algo não significa que ele deixa de existir. Assim, seguem os questionamentos sobre a vida, o Universo e o nosso papel no cosmos. Os mistérios seguem eternos e imutáveis, aguardando uma mente que ouse se aproximar deles. Visto isso, quando nos questionamos sobre a origem dos bebês, na verdade estamos apenas dando os primeiros passos em busca de uma resposta ainda mais profunda. Não queremos saber apenas como nascemos, mas começamos a pensar sobre a humanidade, o nosso próprio planeta e como todo o Universo nasceu. Do mesmo modo, quando começamos a nos questionar sobre o fim de nossa existência, não o fazemos apenas a respeito de nossa própria vida, mas pensamos na morte da humanidade, da Terra e até mesmo de todo o cosmos. É partir dessa perspectiva que os grandes mitos cosmogônicos e escatológicos nascem, pois são a maneira pela qual diversas culturas tentaram responder a esses amplos e atemporais questionamentos.

Como apontamos, não apenas os mitos, mas também a filosofia e a ciência já nos ofereceram várias explicações para esses enigmas ao longo da história. A mais aceita atualmente é a Teoria do Big Bang, que diz que, em um passado muito distante, toda a matéria existente no Universo hoje estava totalmente comprimida em um único ponto, chamado de “Singularidade”. Talvez a explicação não fique muito clara, então vamos fazer um exercício de imaginação: olhe para o seu corpo e para os objetos ao seu redor. Depois olhe para a janela e veja tudo o que a paisagem apresenta. E se estiver de noite, melhor ainda, assim você pode apreciar esses pontinhos no céu e imaginar como são as coisas lá, como elas seriam enormes se pudéssemos ver de perto. 

Dito isso, é importante destacar que, além disso tudo que podemos ver a olho nu, existem bilhões de outros “pontinhos” como esses, mas que não podemos enxergar nem mesmo com equipamentos avançados. Agora, imagine quantos átomos existem em todos os corpos do Universo. Qual seria a soma de todas as partículas subatômicas? Pois é, a chamada singularidade é o ponto no passado onde tudo isto estava unido, concentrado em um único ponto. Ou seja, por mais distantes que estejam as estrelas no céu, ou por mais diferente que seja aquela pessoa que você não acha nada agradável, houve um tempo em que todos éramos uma coisa só.

Apesar da falsa guerra que muitos tentam criar entre filosofia, ciência e religião, a teoria científica do Big Bang, que foi formulada por um padre, Georges Lemaître, coincide com a interpretação simbólica dos mitos das mais diversas culturas, e também com antigas escolas filosóficas do Oriente que ensinavam o que se conhece hoje por “esoterismo”. 

Será que isso que a ciência nos revela hoje não é a mesma coisa que Cristo, Buda e tantos outros mestres do passado queriam nos ensinar? “Somos Um”. Se nos aprofundarmos com a mente e o coração abertos nessa ideia, sem dúvida alguma mudaremos a nossa forma de ver o mundo e também a nossa relação com as outras pessoas e com a natureza. 

Tudo isso nos revela muito sobre o mistério dos inícios… Mas, e o mistério do fim? Já que tudo o que existe no Universo tem um nascimento e uma morte, será que o próprio Universo, que um dia nasceu, também vai encontrar o seu fim? 

No vídeo abaixo, Pedro Loos, do canal Ciência Todo Dia, nos dá um excelente direcionamento para compreendermos melhor este mistério:


Geralmente, quando pensamos no fim, tendemos a ficar tristes, com uma sensação de que esse tipo de experiência não deveria existir. Ora, quem é que gosta dos finais? Quem gosta da morte? Sem dúvidas essa não é uma experiência que nos agrada muito, mas já que faz parte da realidade, será que nós não deveríamos refletir um pouco mais sobre ela, ao invés de temer esse questionamento?

Se pararmos para observar, a morte, ou o fim, está presente em todas as coisas. A todo momento, células estão nascendo e morrendo em nosso corpo. Árvores secam, enquanto novas sementes brotam. Em todas as galáxias, algumas estrelas se apagam, enquanto outras nascem e irradiam luz e calor a tudo ao seu redor. E na nossa experiência humana, não é somente quando nosso coração para de bater que presenciamos a morte. Na verdade, todos os dias, coisas chegam ao seu fim. O filme que você assistiu, a refeição que você fez, às vezes, um relacionamento com uma pessoa querida, e mesmo o próprio dia, todas elas se encerram quando deitamos em nossas camas e “morremos” por algumas horas. 

Essa ideia de que o próprio Universo terá um fim é bem impactante, mas talvez não devêssemos encarar isso com tanta tristeza, pois o “bom” e o “ruim” são muito relativos. O mestre egípcio Hermes Trismegisto dizia: “O que está em cima é como o que está embaixo”, e seguindo esta mesma linha de pensamento, muitas tradições dizem que o Universo como um todo também é um ser vivo. Assim como muitas células formam o nosso corpo biológico, e bilhões de microorganismos vivem dentro dele, nós, os planetas, as galáxias, seríamos células ou órgãos deste grande corpo que é o Universo.

Dando sequência a essa reflexão, quer dizer que, para compreendermos melhor essa morte do Universo, podemos olhar para nós mesmos, que somos “pequenos universos”, e tentar entender como esse mistério do fim se manifesta em nós. Todas as noites, quando vamos dormir, não ficamos nem felizes nem tristes simplesmente pelo dia ter acabado. Geralmente refletimos sobre como foi o nosso dia, e independente de qualquer coisa, existe um pensamento que pode trazer um sereno sorriso para nossos lábios: “Esse dia valeu a pena!”. O mesmo vai acontecer quando estiver próximo do fim dessa vida. Iremos refletir sobre tudo o que passou, e tomara que possamos dizer: “Essa vida valeu a pena!”

Talvez seja muita ousadia da nossa parte, mas vamos imaginar que este misterioso ser que tem todo o Universo como corpo, quando estiver perto da sua morte, também irá refletir sobre toda a sua existência. Desde aquele momento em que tudo era condensado na singularidade, passando pelo surgimento das galáxias, das estrelas, das diferentes formas de vida… E durante esta reflexão, ele vai pensar em você que está lendo isso agora: Como foi a sua vida? Seus dias valeram a pena? Você foi ficou feliz com essa existência?

A morte do Universo é uma realidade, visto que tudo que se manisfesta no tempo-espaço está fadado ao fim. Hoje acreditamos em diversas possibilidades para o fim do Universo, mas nem sempre foi assim. Por isso, essa reflexão não pode ser encerrada em um único texto, pois assim como a vida nos revela ideias brilhantes sobre nós mesmos, o fim também pode nos coroar com percepções belas sobre a vida, a felicidade e o verdadeiro sentido de existir. Essa percepção transcendente acerca do significado da morte não é fruto do nosso tempo atual, em que a morte cada vez mais é vista como um ponto final. Nas culturas antigas, porém, o fim dessa existência era apenas mais um processo de transformação da natureza, e por isso os mitos escatológicos, ou seja, os que retratam o fim do mundo, estavam cheios de referências e ideias como renovação e ciclicidade.

Pensando nisso, a Feedobem está lançando mais uma série de textos com essa temática mitológica, pois quando estudamos os símbolos e ideias que cada civilização desenvolveu a respeito do “fim do mundo”, podemos entender melhor o modo como viviam e suas aspirações. Parece, mais uma vez, que os inícios e os fins estão ligados e que, aprendendo sobre a morte, revelamos, quase como um passe de mágica, a vida.

Embarque conosco em mais uma jornada pela mitologia! Aguardamos todos no nosso próximo texto.

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