Você sabia que existem alguns livros que falam sobre o sentido da vida humana, e que remontam a mais de 5.000 anos? Sabia que esses ensinamentos estão presentes em vários textos sagrados, em forma de poesias, contendo mais de 74.000 versos e com aproximadamente 1,8 milhões de palavras? Tudo isso era memorizado e passado de geração a geração, tendo como objetivo manter a tradição cultural e os valores humanos. Longe de ser fruto de uma ficção, há ao longo da nossa história textos monumentais contando sobre a saga humana. Pode-se citar aqui como exemplos o “Mahabharata” e o “Ramayana”, que são literaturas orientais que nos deixaram como legado algumas das mais belas narrativas humanas sobre a história da origem do Universo e da Humanidade.
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Essas raras obras têm o seu valor muito mais pelas ideias que carregam em si do que pelas curiosidades e detalhes excêntricos que as envolvem. Por trazer consigo narrativas míticas universais, podem ser interpretadas através de várias chaves. Com essas valiosas obras, podemos aprender a ressignificar o sentido da vida, a olhar as adversidades do cotidiano sobre novas perspectivas e a compreender questões, inclusive a respeito de nós mesmos nessa caminhada existencial. O Mahabharata é considerado por alguns estudiosos como um verdadeiro manual de psicologia-evolutiva do ser humano. Ou seja, neste livro, pode-se compreender todo o processo da psique humana e as suas batalhas entre os vários elementos positivos e negativos, na busca da evolução da consciência. Uma parte dessa grande epopeia hindu chama-se de “Bhagavad Gîta”, que narra um momento muito especial de uma grande guerra, que simbolicamente representa a luta que acontece dentro de cada indivíduo.
O Mahabharata narra a luta sustentada por dois grandes exércitos inimigos para conquistar uma gloriosa cidade chamada de Hastinapura, que significa a “Cidade da Sabedoria”, símbolo de um estado de consciência que todo ser humano deve lutar para conquistar. De um lado estão os Kuravas (representando os múltiplos vícios e debilidades humanas) e do outro estão os Pandavas (representando as virtudes), que tem por líder um personagem chamado Arjuna. Arjuna representa o próprio Ser Humano que precisa travar essa batalha contra as suas debilidades para conquistar o domínio da sua consciência, que no momento, se encontra invadida e dominada pelos vícios.
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Muitos podem considerar que os mitos relatam somente contos fantásticos, que nada tem a ver com a realidade, por isso não devem ser levados à sério. Porém, quando nos abrimos para a investigação dos símbolos, podemos entender que todo o desenvolvimento da batalha, movimentações dos exércitos e personagens são elementos que estão dentro e não fora do Homem. E entender isso é compreender não só a nossa própria condição humana, mas sobretudo o sentido de toda a vida que transcende as questões materiais.
O Bhagavad Gita é um livro dentro do Mahabharata, que marca um ponto decisivo da guerra: o momento em que Arjuna, o líder dos Pandavas, se coloca entre os dois exércitos antes da batalha realmente começar. Ali ele fica perdido em seus pensamentos e acaba por ficar desestimulado, sem conseguir enxergar um sentido para lutar naquela guerra… Então ele joga seu arco e diz que não irá mais combater. Neste momento, seu mestre, Krishna, que é a própria divindade encarnada, lhe transmite vários ensinamentos. É então que o herói percebe que para alcançar a evolução da consciência e a sua mais profunda essência, ele precisa não só lutar, mas vencer todo o exército inimigo, ou seja, as suas debilidades e vícios que se apossaram da sua vida. Para isso, ele precisa usar todas as virtudes que possui, e conquistar outras, para que possa ter sucesso e avançar sobre o território inimigo. Ao discorrer sobre essa bonita e inspiradora literatura indiana, vamos nos vendo e nos descobrindo dentro dos aspectos mais corriqueiros dos nossos problemas do dia a dia. Se ficarmos atentos, poderemos ver os movimentos da luta dos dois exércitos por trás de cada ação ou decisão tomadas nas várias batalhas ao longo do nosso dia.
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No Bhagavad Gîta podemos encontrar mais do que um tratado moral, encontramos ensinamentos que transcendem o tempo porque estão ligados a ideias que falam sobre o ser humano e seu processo de evolução. Assim, compreender essa condição humana é perceber que o homem está crucificado entre dois mundos, de um lado está atado a um mundo voltado para uma realidade material que leva-o a ficar reduzido na sua pequenez e no egoísmo de suas necessidades e desejos físicos. Do outro lado, essa mesma condição humana dá a esse mesmo indivíduo uma possibilidade de ascensão a um mundo mais vertical, ligado a virtudes e valores que o faz se conectar com o que há de mais profundo em seu Ser. Esse mundo é o que os gregos chamavam de mundo inteligível, e é para lá onde a consciência humana aspira chegar. É aí que se resgata a nossa condição humana e encontramos o verdadeiro sentido da Vida.
Para entender a riqueza e a verdade por trás desta grande obra, cada um deve se enxergar como o próprio Arjuna, todos os dias. Dessa forma, é possível perceber que os mitos são muito reais, pois estão acontecendo agora mesmo, dentro de cada um de nós.
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