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Análise do Quadro “Ressurreição de Cristo” de Rafael Sanzio

Esta bela obra, “Ressurreição de Cristo”, também conhecida por Ressurreição Kinnaird, é de autoria do mestre da pintura renascentista Rafael Sanzio e foi pintada sobre madeira por volta de 1499 e 1502. Nela, uma das primeiras obras do prolífico pintor, percebemos todos os elementos que o fizeram ficar para a história da arte como um dos poucos seres humanos que conseguiu expressar sentimentos e ideias em suas pinceladas.

Rafael Sanzio nasceu em Urbino, na Itália, e viveu entre 1483 e 1520 d.C. Quando pequeno, seu pai, que também era artista, faleceu e Rafael partiu para Perugia, onde começou a ter aulas com o mestre da pintura, Pietro Perugino. O pintor conviveu ainda muito novo com Leonardo Da Vinci e Michelangelo. Mais tarde os três seriam considerados a tríade da Arte Renascentista, já que suas obras buscam retratar a beleza, a justiça, a bondade, o resgate das ideias do mundo clássico do que corresponde ao ser humano. (leia mais sobre Rafael e suas obras aqui)

Rafael nunca escreveu sobre suas obras de arte. São raros os registros documentais de sua produção, o que torna um desafio a interpretação de suas pinturas e afrescos. Porém, na obra em questão, vemos um estudo minucioso de Rafael de composição, harmonia e geometrização. Ou seja, nenhum elemento do quadro está posicionado de forma aleatória. Vale ressaltar a ênfase que é dada por meio da centralidade da figura de Jesus, para nos dizer que ele é quem importa, ele que é o centro, não só da pintura, mas principalmente o centro da vida, aquele que representa o maior grau de bondade, justiça e harmonia.

Parte da pintura ao lado de um dos primeiros esboços.

Outro ponto que merece atenção nessa obra é que todos os personagens demonstram, através do modo como estão representados, aquilo que ocorre internamente com eles ao saber o que tinha acontecido, a ressurreição de Jesus. O que difere de várias outras pinturas do mesmo tema que podemos encontrar ao longo da história da arte. Os personagens estão atônitos, entusiasmados, impressionados, parecem estar em movimento, e, assim, a cena toda se torna viva, como se estivesse acontecendo agora. Ou seja, como se agora, neste exato momento, ainda pudéssemos perceber Jesus, ou o que ele representa para nós, ressurgindo, renascendo. É um momento em que a bondade, a justiça e a harmonia da vida deveriam estar também renascendo em todos nós, trazendo este sopro de vida.

Destacamos também que em muitas tradições, até mesmo na literatura, surge a figura do três – três graças, três marias, três reis magos, três gunas na tradição hindu, nas peças de Shakespeare, na Flauta Mágica de Mozart etc. – como um símbolo de três expressões da vida. É como se Rafael quisesse dizer que todas as formas de vida estavam a reverenciar este momento de ressurreição do bem, da justiça e da harmonia.

Outro ponto a ser observado é que as cores são fortes e contrastantes, principalmente em tons de vermelho, cor do sangue, daquilo que denota vida, tal como está no manto de Jesus. A verdade nesta harmonia entre o azul do céu e a terra, amarelada, mostrando este encontro entre céu-terra, tão bem representado pela figura de Jesus, aquele que tem atributos divinos e que soube trazê-los para a matéria, para compartilhá-los.

Ao fundo, vemos Jesus acima da linha do horizonte, acompanhado pelo nascer do Sol. De forma simbólica, o Sol surge em diversas tradições como símbolo do bem. Ele nasce para todos, ilumina a todos, sem distinção. Sem o Sol não haveria vida, pois ele é essencial por dar tanto sua luz quanto seu calor. Assim, Rafael posiciona a ressurreição de Jesus como esse renascer do bem, uma espécie de convite para que todos nós possamos pensar sobre esta semente do bem que existe nos nossos corações e que pode nascer todos os dias, no amanhecer.

Também percebemos que todos os personagens da pintura apontam para o céu, inclusive Jesus, como se quisessem nos lembrar que o mais importante é o transcendente, o mais sutil, pois é de onde vem toda a força da vida. Lembrando que a vida é cosmos e não caos, percebemos esta organização e inteligência sutil em tudo que existe, ao que muitos chamam de Deus. Desse modo, toda a pintura de Rafael é um convite ao renascer da bondade, a ressurreição do elemento mais humano dentro de nós e em certo sentido, o mais espiritual. 

Por fim, quanto a Rafael Sanzio, ele morreu muito jovem, mas com tempo suficiente para deixar uma marca permanente na história da arte. Suas obras não só trazem muita beleza e harmonia, mas também demonstram o quanto os artistas renascentistas tinham um conhecimento profundo sobre a história, a literatura, a tradição da humanidade como um todo.

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