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Você tem fome de quê?

Você já reparou o quanto somos consumistas? Desde pequenos somos estimulados, através de propagandas e até mesmo por pessoas próximas, a desejar e possuir bens materiais. Quando crianças queremos brinquedos dos mais variados tipos; já adultos, buscamos nos realizar comprando carros, casas, celulares e outros produtos tão caros à nossa cultura. Ao olharmos para a sociedade em que vivemos comprovamos que todos esses itens são indispensáveis para uma vida integrada às demandas do cotidiano, porém, nosso hábito de consumo está longe de limitar-se ao básico. Uma pesquisa de 2018 pelo instituto Akatu já apontava que a maioria dos brasileiros não praticavam um consumismo consciente, o que nos leva a um fato: quando o assunto é comprar, nenhuma outra civilização nos superou. Chegou-se ao ponto de tornar esse hábito uma doença. A Oneomania, por exemplo, é o nome dado para as pessoas que têm vício em compras. Como chegamos até aqui? O que alimenta nossa ânsia por querer sempre mais?

Vamos por partes. Para compreender sobre o consumismo devemos atentar a dois aspectos: um histórico e outro de mentalidade. Começando pela História, podemos perceber a ascensão desse estilo de vida no período pós segunda guerra mundial. Os chamados “anos de ouro”, entre 1950 e 1960, foram marcados por políticas de bem estar-social e o acesso massivo de bens de consumo por parte da população. Nesse período, em que potências mundiais como França e Inglaterra estavam saindo de uma crise econômica devido aos esforços de guerra, a cultura americana conseguiu instalar-se mais rapidamente pelo globo. A partir disso tornou-se comum usar a publicidade em rádios e televisões, o que estimulava as pessoas ao consumo. A propaganda, entretanto, já existia a muito mais tempo, porém seu aperfeiçoamento e inserção dentro da sociedade chegou a outro patamar a partir desse momento histórico.

Junto a isso, a utilização em massa de aparelhos de TV ajudou a difundir rapidamente esse novo estilo de vida. Aos poucos, mas progressivamente, uma mentalidade de que “o novo é sempre melhor” e que “você precisa ter esse produto para estar na moda” ganhou espaço nas conversas entre amigos e na hora do almoço. À medida que o tempo passou, esse aspecto em nossa sociedade foi expandindo-se até chegarmos aos dias atuais, em que estamos cercados pela publicidade. Mergulhamos em um mundo de propagandas, seja na vida virtual ou na presencial, que não conseguimos escapar tão facilmente. Não é segredo, por exemplo, que ao utilizarmos uma simples ferramenta de busca acabamos revelando nossas necessidades e, como num passe de mágica, nossas redes sociais passam a nos mostrar propagandas relacionadas àquele produto que pesquisamos. Por fim, após dezenas de anúncios e estratégias de marketing, somos conduzidos para adquirir o que, inicialmente, nem desejávamos.

Buscando um refúgio na filosofia, podemos compreender como funciona esse mecanismo a partir do Mito da Caverna de Platão. Para os que não conhecem o mito, temos um texto que trata dos seus simbolismos, mas, em linhas gerais, o Mito da Caverna apresenta homens acorrentados que estão olhando para uma parede. Nesta parede são projetadas imagens que, de tempos em tempos, são trocadas. Quem controla a caverna são pessoas chamadas de “amos da caverna” e que têm como função manter essas figuras entretendo os prisioneiros.

Fazendo uma analogia com o mundo atual, podemos compreender que essas imagens são os objetos que desejamos possuir. Ora queremos um celular novo, depois passamos a desejar um computador melhor e assim nossas necessidades nunca são plenamente atendidas. Quando conquistamos um bem material já estão outros bens “na fila”, aguardando para tornarem-se nossos. Essa dinâmica de sempre almejar por algo, comprá-lo e, em seguida, voltar nosso interesse para um novo produto nos cansa. Passamos, por vezes, uma vida inteira correndo atrás dessas figuras que, de maneira geral, nunca chegam ao fim. Sempre haverá o mais novo lançamento do ano, ou um objeto da moda que precisaremos comprar. Quem, afinal, tem o poder de nos influenciar desse modo?

No Mito da Caverna existem os amos, que são as pessoas que alimentam a fogueira e ficam projetando as imagens na parede. No nosso mundo atual não temos como não relacionar essa função aos meios de comunicação, uma vez que eles levam até nós as propagandas dos produtos que desejamos. Em um sentido mais profundo poderemos compreender que nós somos os próprios amos da nossa caverna. Quando passamos a saciar nosso desejo acabamos, muitas vezes, alimentando esse sistema que, dentro de nós, se torna auto suficiente. Em outras palavras: não precisamos de ninguém para gerarmos nossos interesses, gostos e desejos.

Isso ocorre porque, cada vez mais, estamos direcionando nossa energia e foco para o lugar errado. No Mito da Caverna os homens acorrentados estão olhando fixamente para as imagens, totalmente entretidos. Do mesmo modo, focamos somente na vida material e esquecemos de desenvolver nossa Vida Espiritual. Enquanto nossa atenção volta-se para o que desejamos comer, beber e comprar, perdemos a oportunidade de enxergar o que está por trás de todas essas necessidades. Deixamos de nos perguntar qual o motivo que está nos levando a comprar esses produtos. Será mesmo uma necessidade, ou o que me conduz é apenas o desejo de estar na moda?

Quando estamos imersos em uma vida material, nosso foco está nos objetos, em possuir aquilo que nos agrada. Visto isso, entendemos que a necessidade de consumir também está intimamente relacionada com nossa carência. Por não nos sentirmos bem, projetamos nossa felicidade e realização nos objetos. Passamos a tentar encontrar nossa plenitude nas coisas que podemos (e não podemos) consumir. Diariamente, se estivermos atentos, poderemos escutar frases como “se eu tivesse aquela casa eu seria feliz” ou “quando eu tiver o mais novo celular do momento eu vou ficar bem”. Ideias iguais ou similares a essas permeiam a nossa vida cotidiana, por isso não podemos desconsiderar o poder que ela exerce sobre todos nós.

Não estamos com isso desconsiderando a liberdade individual de cada um escolher o modo de vida que mais lhe agrade, porém, é legítimo se perguntar se estamos optando viver esses momentos de maneira consciente ou não. Quando, por exemplo, eu passo em frente a uma loja e um produto chama minha atenção, eu me questiono sobre a real necessidade de ter aquele objeto? Ou eu confiro o preço, vejo que ele cabe no meu orçamento, entro na loja e o compro? Quando esse impulso nos comanda podemos considerar que estamos, em algum grau, estimulando uma mentalidade consumista.

Em algumas épocas do ano, como no Natal ou em datas comemorativas (dia dos namorados, das crianças, etc), essa mentalidade é ainda mais explorada. O comércio se movimenta de maneira mais intensa e acabamos, por consequência, sendo conduzidos por esses momentos. Infelizmente esses eventos, por mais que pareçam, não são pontuais e frutos do acaso. Sua distribuição no calendário torna a dinâmica do consumo ainda mais eficaz, uma vez que vamos “pulando” de uma data para outra. Parece-nos, mais uma vez, que estamos em um terreno movediço e que não temos como escapar. Visto todo esse cenário, o que podemos fazer?

Uma solução é desenvolvermos uma verdadeira Vida Espiritual. Quando falamos em Vida Espiritual queremos dizer que passamos a encontrar as causas por trás das experiências que vivemos e a observar a vida sob outros pontos de vista. Uma Vida Espiritual, em síntese, não se trata de fazer um “voto de pobreza” ou não possuir bens, mas compreender o que nos motiva a tê-los. Não há nenhum problema em ter um ótimo carro ou uma casa confortável, desde que isso não alimente uma vaidade, nem um orgulho. Quando observamos a vida sob esse ângulo, tendemos a buscar respostas que vão além do simples objeto. Do mesmo modo que no Mito da Caverna há aquele que busca libertar-se e conhecer o que há fora daquelas paredes, quando passamos a buscar compreender a Vida além do seu aspecto material estamos, em algum grau, buscando sair da caverna.

Por fim, talvez essa seja uma saída para a nossa mentalidade atual. Quem sabe, se introduzirmos um significado profundo e Espiritual em nossas atividades não possamos apenas possuir coisas, mas compreender suas causas. Cremos que seria uma vida melhor, mais profunda e cheia de motivação. Estaríamos não apenas comprando porque vimos em uma propaganda, mas porque entendemos a real necessidade de termos aquele produto. Colocaríamos, enfim, um sentido invisível e essencial à Vida, tornando-a mais Bela e Justa.

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