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Vivemos por um ideal?

Uma antiga frase diz que “o ideal é a noção de que a vida não basta.” Apesar de curta e direta, essa não é uma sentença simples de compreender. Devemos, portanto, refletir sobre o que é um Ideal e sua relação com a Vida. Será que alguma vez já paramos para pensar sobre as ideias que nos movem? Ou até mesmo se somos movidos por ideias?

Em nosso ponto de partida, a filosofia, como sempre, se faz uma sábia aliada. Platão, filósofo grego do século V a.C., sintetizou grande parte de seus ensinamentos na famosa “teoria das ideias”. Em resumo, Platão nos apresenta a percepção de que tudo que existe na natureza existe graças a uma ideia. Logo, a realidade consiste em dois mundos: o das ideias e o material. Enquanto o mundo das ideias seria perfeito e atemporal, uma vez que representa a essência da Natureza, o mundo material seria apenas um reflexo imperfeito e temporal dessa ideia.

Podemos tomar como exemplo uma cadeira: o Ser Humano que a fabricou precisou de um modelo, um arquétipo, do que seria necessário para criar uma cadeira. A partir desse modelo ele construiu o objeto. Entretanto, por melhor empregada que tenha sido a técnica e a maneira de fabricação, essa cadeira não é perfeita como o seu modelo, pois uma hora irá desaparecer. A perfeição, por fim, não é uma característica do mundo em que vivemos.

Se aceitamos a teoria das ideias de Platão, podemos assumir, portanto, que as ideias são a origem do nosso mundo. Talvez essa frase tenha soado estranho, mas pense bem: antes de agirmos, seja consciente ou inconscientemente, precisamos de um comando do nosso cérebro. Um pensamento, um instinto gravado em nosso subconsciente ou um reflexo adquirido pela repetição são, em maior ou menor grau, representações de uma ideia. A partir dessa ideia é que agimos no mundo. Para simplificar podemos usar como exemplo o caminhar até uma porta: antes de levantarmos e nos dirigirmos até a saída existe um comando, uma forma de realizar essa ação. Desse modo, previamente ou não, as ações que realizamos tem, em sua origem, uma ideia.

Entretanto, essa constatação nos obriga a levantar a seguinte questão: se tudo nasce das ideias, por qual razão vivemos em um mundo cheio de problemas?

No coração dessa pergunta encaixa-se o tema do nosso texto e para respondê-la precisamos falar sobre o que chamamos de ideal. Quando pensamos em algo ideal, por exemplo, atribuímos a ele um caráter de perfeição ou utópico. Desejamos, por vezes, um amor ideal, ou uma sociedade ideal e sonhamos, muitas vezes, com isso. Infelizmente, quando nos deparamos com nossa realidade objetiva, percebemos que não podemos alcançar essa condição. Isso ocorre porque a Vida, (com “v” minúsculo), no formato que a concebemos, é imperfeita, limitada, temporal e, num primeiro momento, até sem sentido. Não à toa podemos sonhar, em certos momentos, com uma Vida Ideal. De maneira objetiva, viver um ideal nada mais é do que compreender uma ideia e vivê-la intensamente.

Voltemos à frase do início do texto: quando compreendemos que a vida formatada que vivemos não supre nossas necessidades reais, nos voltamos para o ideal, pois ele será a possibilidade de flutuarmos acima do mar do tempo e da matéria. Dizemos isso porque as ideias, como podemos perceber, vivem na dimensão do atemporal, logo, não nascem e morrem. Elas apenas são. Por isso que, ao nos deparamos com um texto de Aristóteles ou uma peça de Shakespeare, por mais distantes no tempo e no espaço que eles estejam, em algum grau, compreendemos o que estes homens transmitiram. Isso ocorre porque utilizaram suas obras para tratar de ideias e nós, homens e mulheres de qualquer temporalidade, nos reconhecemos em seus escritos. O poder do ideal está, portanto, em sua capacidade de transcender o espaço e o tempo, sendo vivido e revivido ao longo dos séculos.

Essa percepção do ideal, porém, não pode ser adquirida somente a partir de teorias. Como o poeta português fala, um ideal não pode ser impraticável, pelo contrário, deve sempre ter como método a prática. Não podemos aprender sobre as ideias se não vivemos elas em algum grau. Seria como contar uma história que não vivemos. Por mais que saibamos os detalhes, não haverá verdade, pois, de fato, não presenciamos aquele momento, não faz parte de nós. Por isso que os verdadeiros idealistas, aqueles que trabalham sempre em nome de um Ideal, passam a ser reflexo de seus princípios, tornando sua Vida um exemplo. Se observarmos a história podemos perceber que não nos faltam bons exemplos de como verdadeiros idealistas podem mudar a vida de milhares de pessoas, aproximando-nos de um Ideal Humano. A luta contra a segregação racial de Martin Luther King Jr. nos Estados Unidos, por exemplo, retrata como a busca pela Justiça e Unidade entre pessoas de diferentes etnias é Virtuosa. Do mesmo modo podemos citar Nelson Mandela na África do Sul. Poderíamos passar diversas linhas abordando os ideais que moveram esses homens, porém, podemos resumir em uma palavra: Unidade. Unir Seres Humanos, acabando com uma diferença que os separava. Certamente ainda existe separatividade no mundo, mas estes idealistas possibilitaram nossa caminhada em direção a esse Ideal.

Dito tudo isso, podemos voltar para a pergunta que fizemos anteriormente: se o mundo é movido pelas ideias, por que vivemos de maneira tão injusta?

A resposta, meu caro leitor, pode ser tão simples quanto queira. Talvez estejamos tendo ideias ruins ao invés de boas. Talvez não tenhamos um Ideal para viver e acabamos sufocados na materialidade e no tempo. Procura-se, certamente, mais idealistas no mundo. Pessoas que façam de suas Vidas um exemplo límpido de como o Ser Humano pode ser Belo. Que maravilhoso seria termos mais irmãs Dulces e Madres Teresas, não é? Para tanto precisamos, nós mesmos, viver pelos Princípios que elegemos defender. Se faz urgente, para o nosso próprio bem e o de nossa sociedade, que passemos a cultivar Virtudes. Não de maneira intelectual, decorando suas definições, mas sendo a encarnação quase perfeita dessas nobres ideias.

No fim, todos nós sentimos isso. Gostamos do Bom, do Belo e do Justo. Sentimos, certamente, que nossa Vida não é um mar de rosas, muito menos perfeita e definitiva. Sentimos essa inquietação por fazer algo, por movimentar-se. Infelizmente, pela própria ignorância, acabamos por nos mover não por nobres ideais, mas por instintos vis. Talvez esse seja um dos motivos pelo qual o mundo não caminha bem: queremos nos movimentar, mas utilizando os meios errados. Que possamos, então, fortalecer nossos Princípios; ter um Ideal de Vida Virtuoso e ser canais para que essas ideias sejam plasmadas no mundo. Como diria Gandhi, sejamos a mudança que queremos ver no mundo.

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