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Quando o intelectualismo vira uma doença

O que você acha do intelectualismo? É um defeito ou uma Virtude? Se, por um lado, ser elogiado como um “intelectual” parece algo muito positivo – e recomendável até -, uma vez que se pressupõe que esse seria um indivíduo que busca por conhecimento, por outro lado, por vezes, encontramos pessoas que, a despeito de terem um vasto conhecimento intelectual, são péssimos exemplos de pai, de mestre, de amigo etc. Nesses casos, parece claro que, apesar de terem absorvido muitas ideias, ainda não sabem lidar bem com questões simples da vida, muito menos compreendem o que os motiva e o que os desanima, demonstrando, assim, um desconhecimento quase completo de si mesmos.

Percebendo essa diferença, neste texto pretendemos abordar as duas faces do conhecimento: a face saudável, recomendável e necessária e a face obscura, que se desenha quando o caminho do conhecimento envereda pelo intelectualismo doentio. 

O intelectualismo vira uma debilidade quando confiamos exclusivamente às nossas faculdades mentais toda a abordagem da realidade. Quando começamos a achar que a única via de acesso à realidade é a mente, começamos a obstruir as outras possibilidades de vida em nós, a exemplo da intuição, dos sentimentos, da sensibilidade. Nos fechamos à magia da vida que se expressa na natureza e que só conseguimos contemplar se estivermos abertos, sem travas, sem premissas lógicas, sem esquemas mentais complexos. 

Temos cultivado cada vez mais uma mentalidade de produção aplicada às vias do conhecimento. Assim, transferimos para a esfera do saber a mesma lógica de acumulação que vemos nas indústrias, nos mercados, e começamos a pensar que saber é acumular informações. Nesse sentido, precisamos ler muito, o tempo todo, assistir a “milhões” de palestras e acumular uma coleção interminável de títulos que possam encher páginas e páginas do nosso currículo. O resultado disso é uma sociedade da informação farta de muitos dados sobre uma multiplicidade infinita de assuntos, que sabe muito de muitas coisas, mas com pouca profundidade e com pouca aplicação desse saber na vida prática. Isso gera um paradoxo: de um lado, uma mentalidade aguçada, uma produção tecnológica avançada; e, do outro lado, uma animalização exacerbada e uma humanização reduzida. A brutalidade humana parece avançar na mesma proporção em que avançam os mecanismos de difusão da informação cada vez mais velozes e práticos.

O intelectualismo acaba, portanto, deformando o indivíduo, pois é como se só exercitasse uma parte de suas potencialidades. Enquanto o nosso intelecto enche-se das mais variadas teorias, cresce desproporcionalmente em relação a todo o resto da nossa personalidade. Assim, acabamos por ter pessoas que conseguem ler dezenas de livros em pouco tempo, mas não são capazes de conviver com pessoas distintas ou mesmo controlar minimamente suas emoções. 

Aliás, nessa altura do culto à informação, somos tão obsessivos pela mente, que nem damos conta de que não podemos nos definir somente por esse aspecto, pois a mente é apenas uma potencialidade em nós, mas temos outras: um corpo físico, uma dimensão energética que nos dá vitalidade ao corpo. Além disso, temos as nossas emoções, onde residem os sentimentos, as paixões e todo o complexo de sensações que vivenciamos. Acrescentando a isso, ainda existe nossa dimensão Espiritual, Divina, que tem a ver com a eternidade. De tanto forçar a expansão da mente, o intelectual patológico atrofia essas outras potencialidades.

Como não cair na armadilha do intelectualismo? 

O segredo é buscar uma filosofia integral, no sentido de cultivar um Amor ao conhecimento que alcança todas as dimensões do Ser. Apesar da mente ser um dos veículos mais potentes e libertadores da Alma Humana, pode se tornar uma prisão caso se converta no único foco do aprendizado. É preciso buscar na vida a conexão com as ideias que compreendemos na mente e não se fechar às possibilidades da realidade. Desse modo, cultivar a sensibilidade e valorizar a clareza das ideias são passos fundamentais para que não apenas fiquemos no intelectualismo, mas que vivamos as ideias que queremos semear. É preciso, afinal, não apenas decodificar a realidade, mas contemplá-la em silêncio, senti-la com todas as faculdades que lhe constitui. Senti-la  no coração, na Alma profunda e deixar-se mergulhar na grande Beleza que se manifesta na Natureza, no Universo, na História humana e em tantas coisas simples que nos acontecem o tempo todo. 

A intelectualidade saudável é aquela que avança no conhecimento através das faculdades mentais na mesma proporção em que avança na esfera dos sentimentos e na dimensão prática da vida. Assim, uma filosofia integral nos outorga um nível de sapiência que abrange o saber pensar, o saber sentir e o saber agir. Se avançamos no pensamento, mas a nossa vida é um desastre, tem algo errado nesse tipo de saber. O conhecimento genuíno nos torna melhores. Quem trilha o caminho do saber saudável vai se tornando alguém feliz, alegre, amável, assertivo e ativo em todos os campos da existência. É esse nível de conhecimento que devemos buscar.

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