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Qual a chave para a Felicidade?

Todos nós queremos ser felizes. A felicidade é, provavelmente, o tema mais debatido em toda a história da filosofia. Poderíamos passar linhas e mais linhas desse texto citando autores, tratados e livros que tentam responder essa pergunta e, provavelmente, ainda não chegaríamos a uma conclusão definitiva. Entretanto, se tomarmos como base algumas ideias e reflexões acerca da felicidade e as analisarmos poderemos encontrar pistas sobre o real significado dessa palavra tão proferida e buscada por nós. Afinal de contas, essa talvez seja a nossa grande pergunta: o que precisamos para sermos felizes e por que parecemos estar cada vez mais longe de alcançar essa condição?

Antes de começarmos nossas reflexões de maneira aprofundada, devemos compreender o que chamamos de felicidade. Afinal, como podemos achar a chave para algo que, a priori, não temos conhecimento? É lugar comum falarmos que a felicidade não é algo fixo, que uma vez conquistada não nos é retirada. Apesar de falarmos “eu sou feliz” seria mais correto falarmos “eu estou feliz”, pois a felicidade se constitui, a princípio, como um estado de espírito. Ora estamos felizes, ora infelizes. Por exemplo: quando compramos um bem material que tanto desejamos costumamos falar que estamos felizes, pois realizamos um sonho. Do mesmo modo, nos sentimos felizes ao reencontrar um parente que há muito não víamos ou um amigo distante. Entretanto, a felicidade gerada por esses momentos são passageiras. Quando enjoamos do bem material que compramos logo queremos outro para substituí-lo, ou buscamos reformá-lo para melhor nos atender. Quando nosso amigo distante volta para sua casa, também voltamos, aos poucos, ao nosso estado normal ou até sofremos devido a saudade. Aqui, portanto, está a primeira chave para entendermos um pouco sobre a felicidade: ela não pode ser encontrada em momentos passageiros. Apesar de sentirmos uma grande alegria em momentos agradáveis, naturalmente esses momentos chegam ao fim e sentimos uma dor ao nos depararmos com essa realidade. Nesse momento podemos lembrar de um grande ensinamento deixado por Buda: a causa da dor (e, por tabela, a infelicidade) está no apego ao que é temporário, finito e que, invariavelmente, chegará ao fim. Esse ensinamento advindo do Budismo nos faz refletir sobre o sofrimento e como não poderemos ser felizes ao depositarmos nossas energias em realizar desejos que são, por essência, finitos. O apego a esses desejos nos faz trilhar o caminho da infelicidade e da dor.

Podemos, nesse momento, refletir o quão atual é o ensinamento de Buda para o nosso tempo: quantas vezes nos tornamos infelizes porque aquilo que nos causava felicidade deixou de existir? Quando, por exemplo, depositamos nossa felicidade em uma pessoa que amamos e, por alguma ocasião da vida, deixamos de estar com essa pessoa, e assim, passamos a sofrer. Nos sentimos infelizes por não podermos compartilhar mais uma vida ao lado dessa pessoa, mas será que, nesse caso, estamos certos em depositar a nossa felicidade em terceiros? Fazermos isso é tão ilógico quanto entregarmos nosso bem mais precioso na mão de uma outra pessoa e torcermos para que ela não o roube ou o danifique. Ao ficarmos a mercê de um fator externo, nesse caso uma outra pessoa, nos colocamos em uma situação de fragilidade e impotência frente às circunstâncias. Desse modo, podemos enxergar mais uma percepção sobre a felicidade: ela não pode depender de um fator externo. Sejam pessoas, objetos, riqueza ou poder, não podemos projetar nossa condição de felicidade naquilo que está fora de nós.

A felicidade genuína não está nas coisas. Se a gente condicionar a felicidade aos bens, no dia em que os perdermos deixaremos de ser felizes, se condicionarmos à aparência física, também estaremos fazendo um péssimo negócio, pois o tempo modifica nossa aparência e isso é inevitável. A verdadeira felicidade vem de uma ordem de realidade que não é efêmera, que não passa. Para entendermos melhor isso, precisamos recorrer a um filósofo muito antigo chamado Platão, que viveu há cerca de 2400 anos. Ele fala de duas ordens de realidade, uma efêmera, transitória, que é o mundo concreto, o mundo das coisas que estão ao alcance dos nossos sentidos e outra que é eterna e que existe para além do mundo concreto, o que ele chama de mundo das ideias. Nesse sentido, tudo o que vemos e tocamos são apenas sombras de algo muito mais profundo e muito mais vívido. É desse plano sutil, eterno e espiritual de onde vem a verdadeira felicidade. Portanto, quem procura ser feliz através da realização dos seus desejos materiais jamais a encontrará em seu aspecto mais profundo, se não em poucos e raros momentos de alegria. Felicidade é algo relacionado às ideias perfeitas de Justiça, Amor, Generosidade. Quando as canalizamos, ou seja, realizamos esses arquétipos em nossa experiência vivencial, aí somos felizes. Não somos felizes quando adquirimos um bem, como um carro ou um imóvel, no mínimo ficamos alegres. Não somos felizes quando estamos em um estado de bem estar, no mínimo estamos satisfeitos. Felicidade tem muito mais a ver com manifestar nesta Vida as grandes Virtudes que existem no mundo das ideias.

Mais uma vez o ensinamento pode nos parecer óbvio, mas ao levarmos para nossa Vida cotidiana não conseguimos, de maneira geral, praticá-lo. Estamos, quase que constantemente, buscando nossa felicidade no mundo externo. Comumente falamos: “serei feliz quando conhecer toda a Europa”; “só vou ser feliz quando conseguir ganhar mais dinheiro” ou “quando eu for promovido, aí sim serei feliz”. Perseguimos esses objetivos com afinco ao longo da Vida e, na maioria das vezes, como uma ironia do destino, ao alcançarmos tais metas a felicidade nos escapa. Sentimos uma felicidade efêmera, pouco duradoura, e que logo se transforma no próximo objetivo que pretendemos alcançar. O motor que impulsiona essa perseguição à felicidade é o desejo, porém, nunca conseguimos satisfazê-lo e, como consequência, podemos ficar aprisionados nessa necessidade de realizar todas as nossas vontades. Essa é, ironicamente, uma fonte de infelicidade e frustração.

Como podemos, então, resolver esse dilema? Aristóteles, filósofo grego que viveu há mais de 2300 anos, pode nos ajudar. Para ele, a felicidade não é decorrência do destino ou de alguma condição externa, mas sim de uma decisão interna. Se observarmos ao nosso redor poderemos comprovar essa ideia, afinal, se nossa condição externa definisse o nosso grau de felicidade, não haveriam justificativas para pessoas ricas e de status social elevado cometerem suicídio ou entrarem em um quadro depressivo. Do mesmo modo, pessoas humildes e com condições limitadas estariam fadadas a uma vida triste e melancólica. Bem sabemos que isso não é o que acontece. Pessoas ricas e com posses não são felizes por causa dos seus ganhos materiais, assim como pessoas pobres não são infelizes por sua condição financeira. Como podemos saber, então, o que definirá nossa felicidade?

Talvez a melhor chave para encontrarmos a felicidade seja seguirmos a nossa Natureza. O que significa isso? Em síntese, podemos dizer que a nossa Natureza é aquilo que, em essência, nos diferencia dos outros seres vivos. Quando cumprimos com a nossa condição propriamente Humana, encontramos nossa felicidade. Por exemplo: uma planta tem como função crescer e buscar o sol, para isso cria raízes e cumpre seu papel ao desenvolver aquilo que lhe é próprio. De modo semelhante, os animais, guiados por seus instintos, vivem sob essa lei, crescem e desenvolvem-se segundo seus impulsos instintivos. Porém, partindo desse raciocínio, o que nos tornaria, em essência, Humanos?

Certamente temos instintos, tal qual os animais e podemos, se assim desejarmos, nos desenvolvermos somente em busca da sobrevivência como as plantas, mas se pararmos nesses pontos, ainda não encontraremos a Natureza própria do Ser Humano. A resposta para isso está na Razão: somos os únicos seres que possuem o uso da Razão para nossa sobrevivência.

Em linhas gerais, o que define a nossa Natureza Humana é a capacidade de nos movermos não apenas por instintos, mas também por ideias. Podemos pensar e viver sob uma conduta ética, o que é impossível para outros seres. Para Aristóteles, uma vida baseada no uso correto da razão, ou seja, baseada em princípios racionais nos concederia uma felicidade própria do Ser Humano. Essa felicidade seria, portanto, uma conquista interna, a partir de nossas ações alinhadas com um princípio norteador. A isso chamamos de ética.

Quando estamos agindo por meio de uma ideia que nos traz união com o nosso meio, naturalmente sentimos bem-estar. Quando ajudamos alguém sem segundas intenções, por exemplo, a sensação que sentimos nos marca ao ponto de podermos revivê-la sempre. É um sentimento sutil e sublime que impõe sua Vontade frente às circunstâncias e nos permite dizer: sou feliz. Tornamo-nos felizes quando seguimos nossa Natureza. Nesse momento deixamos para trás as alegrias passageiras que advém do desejo de possuir e a felicidade passa a ser uma constante. Não significa dizer que não teremos momentos difíceis, eles são inerentes à Vida, mas agora eles não definem o nosso estado, pois alinhamos as nossas ideias, os nossos sentimentos e as nossas ações. É esse tipo de felicidade que permite, por exemplo, que heróis façam sacrifícios e sintam-se felizes mesmo diante da morte. É esse tipo de felicidade que nos dá força para passar pelos momentos mais duros sem perder a ternura e o Valor Humano de nossas ações. Ao chegarmos nesse estado de consciência não dependemos mais do externo, nem outorgamos nossa felicidade para terceiros, nem muito menos estamos apegados ao que é passageiro. Quando conseguimos alinhar esses três mundos, o pensar, o sentir e o agir, norteados por um Princípio de Unidade para com todos à nossa volta, estamos vivendo uma vida feliz, pois não haverá contradições entre quem somos, o que sentimos e o que fazemos. É isso que nos compete enquanto seres racionais, capazes de definir, por livre escolha, nossas ações no mundo. Esse também é, por consequência, o nosso maior desafio enquanto Seres Humanos.

Portanto, que possamos, cada vez mais, buscar a felicidade dentro de nós. Sem nos queixarmos da Vida, achando que ela está contra nós, mas buscando integrar seus elementos com um reto pensar, sentir e agir. Desse modo entramos no fluxo da Vida e nos realizamos, independentemente do que nos ocorre externamente. Lembremos que a felicidade, como diz Aristóteles, não é questão de sorte ou azar, nem está destinada para poucos, mas sim uma livre decisão interna a qual podemos assumir todos os dias.

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