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Por que temos tanta informação e nos expressamos com tantas limitações?

Atualmente vivemos um paradoxo: se por um lado estamos nadando em um oceano de informações, por outro temos dificuldade em comunicar sentimentos profundos. Absorvemos tantas imagens, seja através das redes sociais, séries de TV, canais de vídeos ou por outro veículo de comunicação que parece que desaprendemos a vivê-las no cenário real. 

Nossa geração usa muito a palavra escrita, falada e dramatizada, mas tem dificuldade de expressão, pois dificilmente sentimos a verdade nos cumprimentos de elevador, de corredor de condomínio ou nos ambientes corporativos. Somos exímios falseadores de personalidades aparentemente agradáveis. Nossas expressões tendem a reproduzir com a mesma aptidão dos atores e atrizes das novelas, filmes e séries frente aos quais “maratonamos” nos feriados e finais de semana. Falta-nos, em contrapartida, a capacidade de comunicarmos ao outro o que está para além da máscara, porque o que está para além do espetáculo quase sempre é um vazio que tentamos esconder a qualquer preço.

Os sentimentos profundos precisam de tempo para serem construídos e este modo frenético de existência que adotamos eliminou as construções subjetivas duradouras, pois “não temos tempo para isso”. Mudamos de opinião sobre tudo e todos como se troca de roupa. O que pensamos sobre política, sociedade, religião, cultura, economia, etc. acompanha a moda predominante nas redes sociais. Para além dessas questões, somos imediatistas, queremos tudo para ontem: somos a geração fast-food, que aperta um botão e a comida sai pronta, de preferência em segundos. Essa velocidade nos furta a oportunidade de desenvolver sentimentos mais elaborados e se não os temos não sabemos comunicar bem. É impossível sentir de verdade e não manifestá-lo, ou seja, a boa expressão, a boa comunicação depende da verdade com que sentimos a vida, mas não chegamos à verdade de nós mesmos se vivemos o tempo todo em uma aceleração alucinada em busca de, não sabemos bem o quê. 

O sociólogo Zigmunt Bauman comentou uma vez em uma entrevista que antigamente os jovens liam “Guerra e Paz”, um romance russo escrito por Liev Tolstói que tem em sua versão original 1225 páginas. Hoje esse tipo de leitura se mostra quase impossível, afinal, quem tem “tempo” para ler uma obra desse tamanho? A menos que esteja escrevendo alguma tese de doutorado sobre o assunto. A nossa contemporaneidade, ironicamente, lê muito, o tempo todo, mas são textos curtos, postagens em redes sociais, anúncios de notícias em sites de jornalismo, ou algum livro que está na moda, mas não há tempo para ler com frequência livros profundos, com raciocínios mais elaborados, pois isso exige tempo e um outro ritmo. O fato é que a velocidade que vivemos o nosso dia a dia nos transforma em consumidores de textos rápidos, na mesma lógica das comidas rápidas. Que tipo de comunicação você acha que resulta desse padrão de apreensão da realidade? Por essas razões não nos comunicamos bem. Falta-nos profundidade. 

A boa comunicação não está no volume de informações, mas no quanto conseguimos nos conectar conscientemente com mundo e com as pessoas. Os grandes mestres da Humanidade trouxeram mensagens curtas, mas muito profundas. Se você reunir todas as palavras de Jesus espalhadas pelos evangelhos, por exemplo, todas em um único texto não passam de cinquenta páginas. No entanto, dois mil anos depois, na altura do Século XXI, podemos ter uma ideia da influência dessas palavras na construção da civilização ocidental. Desde a queda de Roma até a chamada pós-modernidade, as ideias de Jesus impactam o pensamento humano, ressalvadas as deformações de seu pensamento trazidas por algumas instituições ao longo desse tempo. O mesmo podemos dizer sobre Buda, que não deixou nada escrito, mas sua mensagem foi transmitida pelos seus seguidores. O mesmo aconteceu em relação a Sócrates, que conhecemos graças aos escritos de um de seus discípulos, Platão, cuja obra mais conhecida não passa de trezentas páginas, A República. 

O filósofo Wittgenstein, que revoluciona a reflexão sobre a linguagem, considerado o maior filósofo do Século XX, só escreveu dois pequenos livros: O tractatus lógico-Philosoficus e As Investigações Filosóficas. Estas duas obras são estudadas até hoje por milhões de pesquisadores em filosofia, espalhados pelos mais importantes centros acadêmicos do mundo. Com isso vemos que a relevância da comunicação está na profundidade e nem sempre no volume de informações ou na rapidez com que as assimilamos. Muitas vezes a pressa e a ansiedade por saber tanto e por se impressionar tanto com tantas ficções e descrições sensacionalistas só contribuem para encobrir ainda mais o inconsciente. 

Precisamos, por fim, de uma reforma no nosso jeito de lidar com o mundo. Precisamos encontrar um caminho de existência que passe pela valorização do que é profundo, essencial, duradouro, em detrimento do efêmero, superficial e apressado. Quando desenvolvermos sentimentos profundos traremos um melhoramento em nossas expressões no mundo e por conseguinte nossa comunicação será outra: chegaremos a lugares diferentes da consciência. 

O caminho para melhorarmos nossa comunicação é o mesmo caminho do despertar da consciência, quanto mais levantamos o véu do inconsciente e descobrimos quem somos em profundidade, mais expressamos verdades transformadoras, com clareza e com efeitos. Caminhemos nesse sentido, em busca de profundidade, com sinceridade e com esforço.

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