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A famosa frase “Só sei que nada sei” do Filósofo Sócrates nunca esteve tão em voga como em nosso tempo. Mesmo diante da abundância de informações a que somos expostos, contraditoriamente, nunca estivemos tão ignorantes diante dos desafios que a Vida nos propõe. Somos capazes de devorar coleções de livros de ficção e aventuras em apenas um suspiro, mas perdemos a vontade de nos interessar pelo sofrimento de nossos semelhantes. A sensação que temos é que, apesar do acesso aos vários tipos de conhecimentos, nos tornamos, cada vez, mais ignorantes frente às coisas mais simples da Vida como, por exemplo, a Alegria de se cultivar um estado de bom humor diante das adversidades, ou a valorização de uma boa companhia em torno de uma refeição.

De maneira geral, o que se percebe é que nossa forma de lidar com o conhecimento tem levado a cultuar o intelecto e supervalorizar a teoria, separando-a da Vida prática. Tal situação seria inconcebível para determinadas Civilizações e Culturas da Antiguidade, uma vez que a teoria e a prática são inseparáveis para a aquisição do verdadeiro saber. Segundo essas Tradições, conhecer é diferente de saber, pois conhecer está relacionado a uma condição apenas intelectual, enquanto o saber é fruto de uma correlação entre o intelecto aplicado à realidade. Quando ocorre a cisão entre a teoria e a prática, ou se prioriza apenas uma das formas, o processo do saber não se completa.

A Vida nos exige mais do que mapas e esquemas mentais. Vez por outra, ela nos surpreende com um fato novo, uma solução diferente a ser dada de tudo o que já vimos e, na sua pedagogia, vamos aprendendo a solucionar os problemas que ela nos traz.  Se Você compreende que a Vida é um constante aprendizado, ao longo de nossa existência, então, assim como nós, Você acredita que a Educação deve ser um processo contínuo que nunca podemos perder de vista. Todavia, segundo alguns Educadores, Psicólogos e Correntes Filosóficas, só há possibilidade de assimilarmos novos conhecimentos se, em primeiro lugar, reconhecermos a nossa real incompletude diante da Vida e, em segundo lugar, se aceitarmos que a nossa formação Humana é uma tarefa que perdurará por toda a existência. 

No fundo, intuímos que para construirmos a nós mesmos no processo de individualização há sempre algo para incorporarmos, para aprendermos, ou mudarmos, seja no que concerne a um hábito, uma atitude ou um comportamento que precisa de ajustes. Por exemplo, adquirir uma nova técnica no trabalho para melhorar o nosso desempenho e otimizar o nosso tempo, encontrar uma nova forma de nos relacionarmos com as pessoas para aprimorar a nossa interação social, ou mesmo a possibilidade da mudança dos nossos padrões de pensamentos ou sentimentos para assimilarmos novas formas de percepções e olhares para o Mundo. Tudo isso passa pelo processo de apreensão e aquisição de novos conhecimentos e novos saberes.

Entretanto, por vezes, nos posicionamos diante dos fatos e das experiências que atravessamos como se não tivéssemos mais nada para aprender. Passamos a acreditar que já possuímos todas as Verdades das quais necessitamos e acabamos por reduzir a complexidade da Vida às nossas “certezas” e duvidosas opiniões. Porém, como já afirmado por alguns grandes pensadores como Platão, o Mundo das opiniões é uma das maiores ilusões no qual vivemos aprisionados. 

Segundo o Filósofo, a opinião é um ponto entre a ignorância e o conhecimento, sendo assim, um intermédio perigoso que pode nos trazer uma falsa sensação de aquisição do saber, quando na verdade, estamos vazios até de nós mesmos. Essa perigosa postura, de nos acharmos donos da Verdade, nos impede de aproveitar as oportunidades de crescimento que a Vida nos oferece. Por isso, precisamos estar conscientes de nossas limitações diante do amplo universo que nos cerca. Cabe lembrarmos do Filósofo Romano Epíteto, que afirmou ser impossível um Ser Humano aprender aquilo que ele acha que já sabe, assim como também, é impossível encher com água um copo se este já estiver cheio.

Ao observarmos a própria Ciência ou a Filosofia, percebemos que tanto uma como a outra acreditam que não há espaço para certezas, pois cada ponto ou elemento deve ser digno de análise e de respeito. Até as coisas que nos parecem mais absurdas, podem nos levar a grandes descobertas, avanços ou redirecionamentos de novos caminhos. Essa perspectiva só reforça a Ideia de que aquele que acha que já aprendeu o suficiente e não se interessa por aprender, na verdade, paralisou ou retrocedeu e, certamente, não está conseguindo acompanhar o fluxo da Vida, que é um movimento constante.

Mas, de onde vem essa resistência ao aprendizado? Quais os valores coletivos que reforçam esse tipo de comportamento e por que ele é tão nocivo ao nosso processo de desenvolvimento Humano? Se olharmos para a História, poderemos encontrar elementos que nos darão pistas para refletirmos, com um pouco mais de profundidade, sobre essas questões. 

Todas as grandes Civilizações da Antiguidade, como a Egípcia, a Grega ou a Romana, tinham uma postura, diante do saber, de muita Humildade. Além disso, buscavam aprender com cada elemento ou episódio que a Natureza lhe ofertava. É importante lembrar que a busca desses povos para entender o incompreensível, dos quais eles chamavam de Mistérios, estava baseada na procura pela Verdade, ou seja, eles esperavam encontrar a essência por trás de cada coisa e não só pelo conhecimento, por isso essas Civilizações avançaram tanto e nos deixaram grandes legados.  

Entretanto, em nossa sociedade atual, se há um valor que se tornou basilar em nossa busca pelo conhecimento e que perpassa todo o nosso processo do saber é o valor da quantidade, ou o acúmulo de conhecimentos que aparentamos possuir. Por exemplo, nunca na História Humana se valorizou tanto os títulos e os certificados de cursos, especializações pós-graduações etc. E o pior é que a prática ficou para o segundo plano. Aqui, o valor da Verdade foi substituído pela aparência da mesma, e a busca pelo desenvolvimento do intelecto passou a se constituir a partir de raciocínios super elaborados e complexos, mas, geralmente, baseados em falsas premissas.

A consequência de tudo isso é a nossa superficialidade frente às questões existenciais que enfrentamos. Isso ocorre porque a quantidade passou a ser um valor importante, em detrimento da qualidade do conhecimento. O que nos condicionou a ter que saber e conhecer tudo de forma superficial e, como conhecer tudo é impossível porque somos e estamos em construção o tempo todo, começamos a mentir para nós mesmos. Passamos a emitir opiniões e a validá-las como se fossem Verdades absolutas, porque reconhecer que não sabemos de algo, na sociedade atual, não é muito agradável. Se já acreditamos que sabemos, não há mais necessidade de aprender. Talvez daí se origine a nossa resistência para continuar a aprender e a nossa falsa crença de que já sabemos.

Essa postura frente ao processo do saber é reforçada por valores que suprimem a busca pela Verdade das coisas e que passam a entornar a falsidade, a vaidade e a arrogância como Ideais comuns e “normais”. O problema disso é que estamos particularizando Ideias e relativizando tudo, porque cada indivíduo tem a sua Verdade, a sua opinião, e na mesma não cabem pontos de vistas diferentes. Assim, à medida que vamos transitando pelos grupos sociais, vamos tentando impor as nossas visões, e negando a nós mesmos e ao outro a possibilidade de agregar novos conhecimentos e saberes. Todavia, vamos nos isolando dentro de nosso próprio Mundo porque a intolerância e o desrespeito vão inviabilizando a possibilidade de se ter uma convivência com os demais, e terminamos nos transformando em ilhas dentro da sociedade. 

Por fim, diante do exposto, é preciso repensarmos a nossa postura diante da importância do nosso processo de aprendizagem. Precisamos ter Humildade diante da Vida porque não sabemos praticamente nada sobre ela, uma vez que, quando entramos nela, através da Natureza, ela já existia e, provavelmente, continuará quando findar a nossa existência. 

Reconhecer as nossas limitações não nos fragiliza, pelo contrário, nos fortalece e nos ajuda a compreender e a trabalhar nas coisas que dependem de nós. Dizem algumas Tradições Filosóficas Orientais que todo indivíduo que se coloca na Vida a partir do pressuposto de que sabe de alguma coisa, na verdade, está preso numa ilusão dentro de sua própria mente, e acaba por perder o contato com as Verdades mais genuínas da Vida. Se prestarmos bem atenção, os grandes homens que nos ensinaram um pouco sobre essas Verdades, se situaram neste Mundo sob a perspectiva de que nada sabiam e por isso apreenderam tudo. Quem não se lembra de Jesus, Buda, Confúcio, Marco Aurélio e tantos outros que nos deixaram grandes exemplos e conseguiram responder aos desafios do seu tempo?

O que nos cabe, portanto, é aprender com eles as suas Ideias e responder às questões de nosso tempo. Mas, não basta só compreender o que há para viver, é necessário experimentar para criarmos as nossas próprias convicções.

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