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O que podemos aprender com o dia do deficiente visual?

Através dos nossos sentidos percebemos o mundo e nos relacionamos com tudo o que se encontra a nossa volta. O olfato, o paladar, a visão, a audição ou o tato, cada um tem um papel importante que nos proporciona, verdadeiramente, uma diversidade de sensações, que são percebidas graças ao nosso sistema nervoso. A relação com o meio social pela ausência ou limitação dos órgãos dos sentidos pode restringir a qualidade de vida do indivíduo e, a depender do nível social em que ele se encontre, essa restrição pode ser maior ou menor. Entretanto, jamais uma limitação motora poderá medir a capacidade e a competência de um Ser Humano.

No dia 13 de dezembro celebramos o dia do cego. Uma data importante no calendário nacional que marca a luta contra a discriminação e o preconceito contra as pessoas cegas. Mas, desde então, essa data se tornou um marco de luta para todos os brasileiros que são portadores de algum tipo de deficiência visual. Instituída pelo presidente Jânio Quadros, através do decreto nº 51.045 em julho de 1961, a lei possibilitou aos cegos a visibilidade social necessária para o respeito e a garantia da sua cidadania. Além disso, promoveu o incentivo de solidariedade entre as pessoas frente a essa deficiência. Mas, o que é deficiência visual?

De maneira geral, a deficiência visual pode ser definida como a perda total ou parcial da visão. As causas podem ser congênitas ou adquiridas e representa, para muitos, uma grande limitação. Entretanto, de acordo com estudos realizados pelo Schepens Eye Research Institute, localizado em Boston, nos Estados Unidos, os cérebros de pessoas que perderam a visão, reorganizam as suas conexões neurais e passam a aprimorar os outros sentidos como o tato, o olfato, o paladar e a audição. Ainda assim, segundo a Dra. Corinna Bauer, em entrevista ao jornal Daily Mail, outras funções cognitivas passam a ser melhoradas como a linguagem e a memória. Todo esse processo de aprimoramento dos outros sentidos faz parte do fenômeno chamado neuroplasticidade, que é a possibilidade que o nosso cérebro tem de adaptar-se às experiências necessárias.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2019, no Brasil, a estimativa de pessoas cegas era de 1.577.016. Vale ressaltar, que isso equivale a 0,75% da nossa população. A nível mundial, estima-se que a cegueira afeta em torno de 39 milhões de indivíduos, ainda de acordo com os mesmos dados da OMS. Sendo uma das principais causas da cegueira a catarata, seguida pelo glaucoma e a degeneração ocular relacionada à idade.

Hoje, apesar de todas as dificuldades, o portador de deficiência, seja ele visual ou de qualquer outro tipo, já conta com várias técnicas de aprendizagem e de inserção social. Vários avanços também já foram dados e uma das principais conquistas é a Lei Brasileira de Inclusão, mas conhecida como o Estatuto da Pessoa com Deficiência que está em vigor desde 2016. O objetivo do estatuto é assegurar e promover, dentro das condições de igualdade, o pleno exercício dos direitos e das liberdades fundamentais das pessoas com deficiência, promovendo assim, à sua inclusão social e a sua cidadania.

No mercado de trabalho, por exemplo, já existem várias ações de incentivo para contratação no setor público ou privado. Tudo isso graças ao avanço da legislação brasileira e a um trabalho de conscientização junto à população através dos programas de promoção e incentivo ao espírito de solidariedade entre as pessoas. E, neste contexto, no que se refere aos cegos, cabe lembrar uma vitória alcançada nos últimos anos: a implantação de legislações que garantiram métodos de ensino específicos para crianças e adultos com deficiência visual, através do sistema braille.

Hoje, seguramente, um dos maiores problemas que enfrentam os portadores de deficiência, sobretudo os cegos, é o preconceito social no seu dia a dia. Muitas vezes, um simples “Não sabia que você conseguia fazer algo”, ou “E você consegue levar uma vida normal assim? ” ou ainda “É uma pena que tenha essa limitação ” revela, por nossa parte, um sentimento velado de piedade pela condição física em que o indivíduo se encontra. Esse tipo de olhar para uma pessoa expressa também toda a nossa crueldade em relação ao outro. Acaba por aprisioná-lo numa ideia de que ele não pode, não consegue e, quase sempre, é digno da caridade dos demais para suportar tamanho fardo dado pela Vida. Sem falar que tal postura também nos limita e nos reduz a uma percepção falsa diante da Existência. Precisamos nos educar para conviver com o diferente. É importante limparmos as nossas crenças e ideias limitantes a acerca da condição dos portadores de deficiência. Tal postura pode nos ajudar a construir uma mentalidade coletiva mais digna para nós e para eles.

Que haja uma ressignificação de nossos olhares para cada uma dessas pessoas. Necessitamos de avanços no que concerne ao respeito aos Seres Humanos pelo o que eles são e não pelo o que gostaríamos que fossem. Há que se entender que todos nós temos limitações, umas são aparentes e outras não. Assim, o ponto mais importante é que, o fato de não termos uma limitação motora visível não nos coloca em situação superior em relação aos que possuem. Infelizmente, ainda vivemos numa sociedade que tenta aprender, a duras penas, a conviver com as diferenças. Para se ter ideia, há inúmeros relatos que muitas crianças e jovens portadores de deficiências ainda não conseguem estudar, se locomover ou manter uma vida social ativa por causa da falta de estrutura social e, quanto menor o seu poder aquisitivo, maior é a sua exclusão e isolamento das demais pessoas.

Precisamos de mais investimentos e ações que nos desenvolvam como Humanos, que nos possibilitem construir uma solidariedade e fraternidade com todos, para que possamos ver o outro através de um sentimento profundo de Bondade. Dizem os grandes sábios que pelos sentimentos nos integramos e nenhuma limitação física, psíquica ou mental pode nos impedir de ver a Vida e o Outro com o coração. Assim, a perda ou a limitação de um dos nossos órgãos dos sentidos pode até restringir a qualidade de vida do indivíduo, mas não pode nunca limitar a sua participação social, a sua valorização e a sua Dignidade Humana.

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