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Justiça – Uma Prática Diária

 

 

A Justiça, para o Ser Humano, é uma necessidade. Ela se apresenta desse modo a partir do momento em que começamos a viver em núcleos complexos a nível social. Ou seja, à medida em que precisamos nos relacionar com mais pessoas, de maneiras distintas, a Justiça começa a tornar-se uma necessidade perene. Claro que, ao observamos profundamente, essa Virtude se faz necessária também enquanto Indivíduos, mas sua expressão torna-se muito particular e de difícil acesso em alguns casos. Por exemplo, quando degradamos o nosso corpo e a nossa mente com maus hábitos, vícios e morbidez, também não estamos sendo injustos conosco? 

Visto isso, parece-nos, de maneira geral, um pouco contraditório: sentimos necessidade de termos Justiça, mas normalmente somos injustos, tanto com os outros como conosco. Definitivamente não é uma questão simples de resolver e, portanto, ao pensar sobre essa questão, vale buscar nas antigas civilizações e nos pensadores, seus pontos de vista sobre essa Virtude tão importante. Devemos entender um pouco como a Justiça é compreendida e valorizada em diferentes momentos históricos e achar as chaves, a partir dessas experiências e sínteses, para percebê-las em nosso cotidiano.

 

Se formos atentos aos momentos históricos, perceberemos que cada civilização, em momentos distintos, formulou a Justiça sob certo aspecto. No Primeiro Império Babilônico, por exemplo, criou-se o famoso código de leis conhecido como “Código de Hamurabi”. Comumente o conhecemos pela famosa frase: “Olho por olho, dente por dente.” Parece um pouco bárbaro e simplista, mas cotidianamente observamos ações que remetem-se a essa percepção da Justiça. Linchamentos feitos por uma população revoltosa, vítimas que buscam justiça com as próprias mãos contra seus algozes, e histórias diversas de vinganças são conhecidas por todos nós. Não precisamos citar exemplos mais objetivos desses casos, entretanto, podemos entender que nossa “sede” por Justiça pode, quando mal canalizada, esbarrar em atitudes tão vis e injustas quanto as que geraram o delito.

 

Outra visão dessa Virtude estabeleceu-se no Egito Antigo sob a forma de Maat, uma das principais divindades do panteão egípcio. Ela era a responsável pela manutenção da Ordem Cósmica, da Verdade e da Justiça. Desse modo, os faraós tinham por obrigação servir à Deusa para que a Ordem, a Verdade e a Justiça estivessem presentes, não apenas no cosmos, mas em todas as partes do Império. A Deusa Maat também tinha o papel de fazer o julgamento do coração do morto, um ritual simbólico que ocorria, segundo a tradição egípcia, na jornada da Alma para o outro mundo. Neste julgamento, o coração do morto era colocado em uma balança na qual o seu contrapeso era a pena da Deusa Maat. A pena representava a Justiça, tendo, portanto, que o coração ter peso igual ao da pena. Caso o coração fosse mais pesado, a Alma do morto seria engolida por um monstro e essa reencarnaria, ganhando assim uma nova oportunidade para ter uma existência com atitudes harmonizadas à Lei de Maat.

 

 

Esse mito milenar nos ajuda a refletir sobre algumas características da Justiça. Uma delas é que ser justo não é simplesmente não agir de maneira má. Muitos de nós, por exemplo, acreditamos ser justos e bondosos apenas por não cometermos nenhuma infração ou mal. Ora, ser bom e justo é praticar a Bondade e a Justiça, de forma ativa, não apenas não sendo uma pessoa má. Do mesmo modo, aquele que se omite em situações de injustiça acaba, de maneira indireta, sendo injusto. Por isso que o coração deve ter o peso igual ao da pena e não ser mais pesado do que a mesma. Um coração pesado é um símbolo do peso que carregamos todas as vezes que falhamos em sermos justos, o que muitas vezes acontece por inércia e omissão. Esse aspecto da Justiça já nos conduz para uma ação equilibrada, sem extremos. Também é importante pensarmos na relação entre a Ordem e a Justiça que estão simbolizadas pela deusa Maat.

 

Dentro desse aspecto, talvez possamos pensar que a busca pela Ordem seja, em algum grau, o estabelecimento da Justiça. Por exemplo: quando estamos doentes, o que mais desejamos? Que o nosso corpo volte ao seu estado normal, de homeostase, o que, para o corpo, seria o mais justo. Do mesmo modo, quando estamos em um conflito, seja ele interno ou externo, nossa busca deve ser retornar a um estado de Harmonia, sem conflitos. Dessa forma, podemos relacionar diretamente a busca pela Ordem como uma maneira de encontrarmos a Justiça em nós e na sociedade.

 

Em outras culturas, como a greco-romana, também houveram símbolos e leis que representaram essa mesma ideia, mas de uma outra forma. Na Grécia teremos a Deusa Atena, que representa a Guerra Estratégica, a Sabedoria e a Justiça. Atena mostra-nos, a partir de seus atributos, também uma outra face para compreendermos o caminho para essa Virtude: a Sabedoria e a Guerra. Sabedoria, a grosso modo, pode ser entendida como decidir acertadamente. O sábio, afinal, é aquele que perante a Vida escolhe os melhores caminhos, que lê na Natureza e decifra seus Mistérios. Do mesmo modo, para se ter Justiça é preciso discernir o que é certo e errado, justo e injusto. Não é possível, de nenhuma maneira, ser uma pessoa justa e não saber discernir acerca dessas questões. Já a Guerra vai apresentar esse mesmo viés, uma vez que é resultante de um conflito. Atena representa a Guerra Estratégica, aquela que se trava com a Inteligência e não com os músculos. Logo, a Justiça que buscamos requer o uso correto dessa Inteligência para resolver conflitos que, internamente, sempre estarão a nos testar.

 

Há, ainda, ao tratar da cultura grega, uma outra Deusa que expressa a Justiça. Seu nome é Themis, e esta foi a segunda esposa de Zeus. Também era conhecida como uma Sábia e partilhava desses atributos com Atena. Portanto, devemos entender seus símbolos como similares. Talvez o detalhe acerca de Themis é que a sua representação, uma dama que carrega uma balança e uma espada, é utilizada como o símbolo da Justiça nos dias atuais. A representação é clara: a balança vai demonstrar o Discernimento e a espada a Força que vai fazer cumprir as leis.

Todos esses atributos que carregam as Divindades representantes da Justiça são, em síntese, formas e elementos que compõem essa ideia. Uma pessoa justa, em geral, expressa esses aspectos de diferentes maneiras, porém, não perde essa essência. Infelizmente, ao olharmos a história, identificamos momentos em que tais aspectos foram deixados de lado em nome de uma lei temporal, advinda de uma moral temporal. Entre muitos exemplos podemos destacar o tribunal do santo ofício, mais conhecido como a inquisição, na Idade Média. Imagine ser acusado de crimes que não cometeu e, pior, ser condenado injustamente, sem provas e sob tortura. As fogueiras da inquisição ceifaram a Vida das pessoas que, por diversas razões, não estavam de acordo com costumes e dogmas de sua época. Esse é um exemplo de como a nossa percepção da Justiça pode, por vezes, estar condicionada e nublada por um caráter fanático e rígido. Quando não conseguimos discernir o certo do errado, o que nos resta são as frias palavras da “lei” imposta pelos homens de um determinado tempo. O perigo, ao nosso ver, mora aí: quando perdemos a capacidade de discernir e acatamos obedientemente as ordens que nos são dadas. Nesse momento, provavelmente seremos tão injustos quanto os maiores inquisidores da Idade Média.

 

Dentre as centenas de definições que podemos achar sobre a Justiça, uma das que melhor define a ideia é a de Platão. Em seu livro “A República”, em que o filósofo busca compreender essa Virtude, ele nos diz em linhas gerais que Justiça é “dar a cada um aquilo que lhe corresponde, de acordo com a sua natureza e atos”. Ao lermos pela primeira vez essa definição pode nos soar algo fácil de se fazer, não é? Isso porque ela consegue sintetizar uma forma de Justiça que serve para o Homem enquanto Indivíduo, mas também para a sociedade em que este Homem vive.

 

Pensemos: se uma criança pequena, que ainda não sabe o que é certo e errado, joga um copo no chão e o quebra, ela irá receber uma punição, certo? Entretanto, se um adulto tem a mesma ação que a criança, este receberá a mesma punição? Para Platão não, uma vez que a criança e o adulto têm naturezas distintas. Por isso não se julga desiguais de maneira igual, pois além do ato que cometeram há também uma natureza sendo expressa. Logo, essa definição platônica nos parece aplicável em uma sociedade, do mesmo modo que, seguindo a mesma lógica, eu poderei ser justo com meu corpo que, após horas de trabalho ou atividade física, merece um descanso, uma vez que cumpriu seu papel e agora precisa descansar para restabelecer suas forças.

 

O desafio, portanto, é exercitar esse conceito de Justiça. Talvez nossa maior dificuldade seja a de enxergar a natureza de cada pessoa e tratá-la de maneira adequada. Ora, se por vezes não sabemos definir nem mesmo a natureza de um objeto, e o usamos de maneira inadequada, como quando danificamos uma ferramenta por mal uso, a chance de “acertarmos” o tratamento com Seres Humanos é baixa, já que não praticamos esse “exercício” de Justiça. 

Bom, para quem gosta de um bom desafio, aí está. A Justiça será, afinal, o resultado de uma Guerra Interna, uma conquista diária e eterna, pois mesmo que sejamos justos em situações e momentos de nossa Vida, isso não garantirá que amanhã eu o serei. Um homem justo deve sê-lo a todo momento, em toda situação. Por isso que neste 8 de dezembro, desejamos a todos uma forte vivência dessa nobre Virtude que, infelizmente, a cada dia parece mostrar seu brilho mais distante, como uma estrela guia a qual insistimos em não olhar, mas que sabemos que sem ela estaríamos completamente perdidos.

 

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