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Inspiração: um sopro da Alma

Você sabe o que é inspiração? Ouvimos essa palavra cotidianamente, principalmente em forma de elogio, mas talvez nunca tenhamos parado para refletir sobre ela. Falamos, por exemplo, que um artista estava inspirado quando fez sua obra de arte, assim como quando um atleta destaca-se em alguma partida dizemos “hoje ele está inspirado”. Em linhas gerais, essa “inspiração” denota que algo fora do comum está ocorrendo com a pessoa, o que lhe faz alcançar uma performance para além do usual.

Etimologicamente, a palavra “inspiração” vem do latim “inspiratio” e significa, a grosso modo, soprar em (ou alguém). Nas antigas religiões, ela apresenta uma forte relação entre os Seres Humanos e os Deuses, sendo estes Seres Divinos a causa da performance além do comum dessas pessoas. Desse modo, entendemos, até os dias atuais, a inspiração como um elemento externo a nós, mas que nos afeta de tal modo que conseguimos fazer coisas que jamais conseguiríamos até então. Entretanto, se durante boa parte da história humana a inspiração era vista como uma relação estreita entre o Mistério Divino e nós, Seres Humanos, hoje ela parte de caminhos bem diferentes.

Para compreendermos melhor essa ideia, peguemos como exemplo a civilização grega. Segundo sua mitologia, existiam nove musas que seriam a fonte de inspiração para músicos, poetas e dramaturgos. Filhas de Zeus com Mnemosine, a Deusa da Memória, as nove musas estariam sob as ordens de Apolo, Deus do Sol e patrono das artes. Além disso, todas as musas eram cultuadas pelos artistas da Grécia, que lhes rogavam que estas os inspirassem em suas obras. Podemos ver essa influência de maneira direta em obras atemporais como a Ilíada e a Odisseia, de Homero. Em ambos os poemas, o poeta começa pedindo ajuda às Musas e que estas o usem como canal para contar os eventos que ele narrou em seus versos. Assim, a obra não era apenas fruto do esforço do artista, mas principalmente desses Seres Divinos que o auxiliavam na composição de sua obra. No fim, o artista era uma ponte entre dois mundos: o dos Deuses e o dos Seres Humanos.

Essa mentalidade acerca da inspiração, como bem sabemos, não ficou restrita apenas à cultura greco-romana. Dentro da doutrina cristã, por exemplo, também encontra-se essa mesma ideia. Os padres e sacerdotes da igreja foram, em diversos momentos, inspirados pelo espírito santo ao redigirem normas e evangelhos. Desse modo, a inspiração dada a esses homens e mulheres do passado servia como um canal de comunicação entre os desígnios Divinos e a nossa vida comum. Parece-nos que, não por acaso, tais obras permanecem como fundamentais dentro de nossa cultura, sendo elementos-chaves da nossa formação.

Apesar disso, hoje não associamos, necessariamente, a ideia de inspiração como esse canal que liga o “Céu” a “terra”, ou seja, que faz ponte com o Sagrado.  Nos dias atuais, em que impera o materialismo, e raro são os indivíduos que buscam ideias metafísicas, a inspiração, em diversos casos, está ligada a algo mais próximo de nós. Deixamos de buscar inspiração nos Deuses e na Natureza, para nos inspirarmos em uma pessoa que admiramos, em alguma experiência que passamos ou mesmo nas coisas mais banais do nosso cotidiano. A inspiração deixou de ser uma ponte com algo mais elevado e passou a ser qualquer elemento externo (de caráter “Divino” ou não) que nos impulsione a produzir.

Dessa maneira, as nossas motivações passaram a ser a fonte da nossa inspiração. Um exemplo típico disso ocorre quando trabalhamos “bem”, ou seja, produzimos muito e com qualidade. Nesses casos geralmente estamos bem motivados e, consequentemente, dizemos que estávamos inspirados realizando nosso trabalho. Partindo disso, cabe a nós refletirmos sobre o que, de fato, nos inspira.

Antes de sabermos sobre isso, devemos, primeiramente, perceber que tipo de inspiração (e também motivação) estamos buscando. Se pegarmos um artista, por exemplo, ele terá diversas motivações para produzir sua arte. Sejam ideias que ele queira reproduzir ou emoções, o fato é que a depender de sua motivação ele estará inspirado a produzir um determinado tipo de arte ou outro. Eis aqui, do nosso ponto de vista, o “perigo” de buscar inspirações somente naquilo que nos impacta, sem nenhuma conexão com algo “maior”, pois acabamos sendo influenciados por emoções e pensamentos negativos, que nos “puxam” para baixo. 

Colocando em exemplos práticos, pensemos em nossa relação com a música. Quando estamos felizes, geralmente desejamos colocar músicas com “alto astral”, não é isso? E se esse tipo de música nos inspira, ou seja, nos impacta, podemos acabar produzindo algo a partir dessa sensação. Porém, o que ocorre nos dias em que não estamos felizes? Quando temos um dia difícil, com uma série de problemas que não conseguimos resolver? E em momentos duros da vida, quando sentimos que nos tiraram o chão e toda a felicidade? Bom, é comum nesses momentos colocarmos músicas tristes, melancólicas e que vibram na mesma “frequência” que estamos. O resultado disso é que acabamos “afundando” ainda mais nesses estados de ânimo e, para os mais sensíveis, podemos nos sentir “inspirados” a produzir algo. Porém, qual a chance desse tipo de inspiração ser algo elevado, que faça brilhar o melhor de nós? 

Portanto, mais importante do que nos sentirmos inspirados, é compreender a raiz dessa sensação, ou seja, saber quais as reais motivações que nos levam a esse estado. Muitas vezes alimentamos emoções negativas a fim de nos sentirmos inspirados por elas, porém, essa não nos parece ser uma boa estratégia. Devemos aprender a distinguir os tipos de emoções que nos elevam e os tipos que nos deprimem, e nos inspirarmos pelas que buscam o nosso melhor. Quando alimentamos sensações ruins e produzimos a partir delas, estamos apenas contribuindo para um novo ciclo de emoções que não nos engrandece enquanto Seres Humanos. 

Considerando isso, o que podemos fazer para quebrar esses ciclos e passarmos a nos inspirar de forma verdadeira, ou seja, que possa tirar o melhor de nós? 

Primeiro devemos aprender a discernir as emoções que nos elevam e as que nos colocam “para baixo”. Além disso, essa é uma regra que se aplica a tudo, não apenas as emoções: ideias, pessoas e situações podem, de igual modo, nos elevar ou nos deprimir. Se na antiguidade a inspiração era fruto do Sagrado e tinha como objetivo nos elevar até esse patamar, por que não usar essa mesma ideia como critério? Assim, quando discernimos sobre o que nos eleva ou não, devemos optar por aquilo que nos aproxima do nosso melhor, que retira a Essência do nosso Ser e faz está expressar-se no mundo.

Inspirar também deve ser um fator de transformação. Quando produzimos algo a partir de uma inspiração, naturalmente estamos modificando uma realidade, objetivamente ou subjetivamente. Logo, um outro critério para decidirmos que tipo de inspiração queremos é avaliarmos qual o impacto faremos no mundo com o que vamos produzir. Será que a nossa ação vai tornar o mundo melhor ou pior? Mais feliz ou mais triste? A transformação que faremos no mundo é um ótimo balizador para entendermos quais ideias e emoções estão nos guiando. Na maioria dos casos, principalmente quando estamos tristes, somos arrastados pelas nossas emoções e não conseguimos medir o peso de nossas ações, então deixamos que ela nos leve sem resistirmos. Por isso que não raramente vemos artistas produzindo, por exemplo, músicas extremamente tristes e que retratam, como uma fotografia, os estados de ânimo que estes estavam durante a composição e, como já mostramos acima, isso apenas alimenta um ciclo vicioso de sensações e emoções ruins.

A inspiração que buscamos, por fim, é aquela advinda da Alma, é a que nos coloca em contato, mais uma vez, com o nosso mais íntimo sentido de vida. Se na antiguidade essa inspiração era buscada através da religião, do contato com os Deuses, hoje ela é, acima de tudo, uma necessidade de nos encontrarmos com nós mesmos. Talvez não precisemos que os Deuses e a Natureza soprem seus segredos para que possamos nos inspirar, mas certamente é necessário encontrar essa mesma aura Divina dentro de nós. Desse modo poderemos, apesar das circunstâncias, produzir o mais verdadeiro fruto do nosso Ser, aquilo que está para além das circunstâncias externas. A nossa inspiração, afinal, terá que vir do Deus interior que há em cada um de nós e que clama para expressar-se no mundo. Assim, quando conectados por ideias e sentimentos elevados, poderemos viver a inspiração como um estilo de vida e, como o nome mesmo pressupõe, iremos nos inflar naturalmente ao fazermos da nossa própria vida a nossa obra de arte. 

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