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É possível vivermos sem o conhecimento?

“O ato de aprender por si mesmo não é novidade, é tão velho quanto… o mundo.”

Você consegue imaginar como seria a vida hoje se não tivéssemos conhecimento? Como viveríamos, como seriam nossas cidades, nossa rotina, nossa evolução? É impossível dissociarmos o ser humano da ideia de conhecimento e aprendizado, pois tudo que temos hoje, tudo que já foi conquistado em todos esses séculos, foi fruto do conhecimento. 

Quando falamos em conhecimento, não nos referimos apenas ao conteúdo que aprendemos através dos estudos, leituras e obras, mas também ao conhecimento da natureza. Afinal, existiram inúmeras culturas de caráter índígena e tribal que possuíam um vasto saber a respeito de botânica, medicina, geografia, etc. O fato é que onde existirem seres humanos existirá a procura e desenvolvimento do conhecimento.

O livro “O filósofo autodidata”, lançado no século XII por Ibn Tufayl, nos faz refletir sobre isso. Na narrativa, Hayy ibn Yaqzân é um órfão, tal qual Tarzan ou Mogli, que é criado pela natureza que o rodeia. Em meio à solidão humana, desprovido de qualquer tipo de ensinamento sobre qualquer assunto, Hayy, através de reflexões sobre o céu e a terra que o rodeavam, sai da vida selvagem e atinge o estado de sabedoria. A história do filósofo autodidata, apesar de fictícia,  nos mostra que mesmo desprovido de livros, salas de aula e professores, um ser humano pode acessar o conhecimento. Ou seja, não existe um processo humano ausente desta busca por respostas.

Isso acontece porque o acesso ao conhecimento se dá através do nosso maior dom, habilidade, ou poder que existe: a razão. Através do uso da razão, o ser humano se diferencia dos demais seres vivos presentes na natureza, justamente porque a razão possibilita o aprendizado, a síntese, a reflexão e a conclusão sobre qualquer fato que aconteça. Além disso, ela possibilita o homem a escrever tratados, passar adiante suas experiências, construir civilizações e fazer grandes descobertas. Pensemos que sem a mente e a razão, viveríamos de forma similar aos animais, baseado nos instintos básicos de sobrevivência. 

Mas como desenvolvemos o conhecimento? As explicações são inúmeras, uma vez que cada civilização buscou representá-lo através de mitos e símbolos. Segundo o mito grego, por exemplo,  Prometeu foi o responsável por tirar uma chispa do fogo de Zeus e dar aos mortais. Zeus, ao descobrir tamanha audácia, puniu-o severamente, condenando-o a um castigo eterno. Sem entender tamanha punição, Prometeu questiona Zeus sobre qual mal havia nos homens em terem um pouco do fogo divino e Zeus afirma que é porque eles jamais fariam o uso correto daquela chispa. 

Nicolas-Sébastien Adam,Prometeu, 1762 (Louvre)

O grande problema é que nem sempre o homem usa este maravilhoso poder de forma correta. Se analisarmos ao longo da história, os maiores crimes, guerras e injustiças foram elaboradas graças à mente e ao conhecimento. Como fica essa luta então? Um duelo entre quem faz mau ou bom uso do conhecimento?

“Só é útil o conhecimento que nos torna melhores” disse Sócrates. O conhecimento é natural para o ser humano, mas somente o uso correto dele é que será útil. No caso, usar para ajudar na evolução da sociedade e da natureza. Isso mesmo, da natureza. Da mesma forma que continuamente influenciamos nos fenômenos naturais, será que em algum grau não poderíamos auxiliar também? Segundo estudos antigos, os famosos alquimistas medievais, como o renomado Roger Bacon, promoviam a alquimia como ciência dos mistérios que buscava ajudar na evolução da natureza e dos elementos químicos. Algo difícil de compreender de forma prática, mas nem por isso é falso. Se usarmos o conhecimento sempre para dizimar a natureza, manipular os outros e ressaltar nossas ganâncias, não só estaremos o usando de forma inútil, como também punindo todos à nossa volta. 

É por isso que não basta nos preocuparmos em gerar condições para que todos tenham acesso ao conhecimento, se não há uma formação moral por trás. Infelizmente, só o conhecimento não nos define como bons, mas como vamos usá-lo, em nome de quê e para quê. Imagine que uma pessoa com habilidades informáticas pode criar um programa que ajude um hospital público a otimizar a forma de atender os pacientes, e outra pessoa com a mesma habilidade pode se especializar em hackear conta bancária de idosos aposentados. Ambos possuem o mesmo conhecimento, mas não o mesmo caráter. 

Daí entra a necessidade da verdadeira educação. Hoje associamos educação com o repasse de conhecimento, mas ela vai ser a base moral e ética para que o conhecimento entre e transforme o ser humano. É só observarmos os problemas atuais do mundo, conhecimento há de sobra, mas não vemos as situações melhorando. Pelo contrário, vemos tudo se agravando: a economia, crises políticas, a crise hídrica na Europa, a fome, a violência…

“A coisa mais indispensável a um homem é reconhecer o uso que deve fazer do seu próprio conhecimento.”

Platão

Façamos uma autoanálise. Observe todo o conhecimento que você tem. De seus cursos, colégios, faculdade, especializações, cursos técnicos, minicursos, workshops, seminários…tudo. Agora, some com o que você aprendeu dos seus pais, familiares, amigos…e depois some com tudo que deu certo e errado na sua vida. Veja que belo é o processo que nos leva ao conhecimento que temos hoje. É a soma de tudo que já vivemos, e muitas vezes é difícil descobrir onde exatamente aprendemos algo, pois todos os fatores se misturam dentro de nós. 

Com certeza quem somos hoje está totalmente ligado ao conhecimento adquirido ao longo de toda nossa vida. E quem seremos no futuro vai depender de como usaremos todo esse conhecimento. Vivemos numa época que valoriza muito o intelecto, mas não precisamos seguir esta tendência. Precisamos ser cada vez mais humanos, encontrar novas respostas sobre a vida, a morte, a dor e a natureza humana — nosso conhecimento deve nos ajudar nisso. Façamos bom uso deste dom dado por Prometeu, e usemos para alcançar os mistérios.

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