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Devemos abrir mão de tudo para chegar ao que desejamos?

Todos nós conhecemos a frase “os fins justificam os meios”, não é? Retirada do livro “O Princípe”, escrito no  século XV  pelo Filósofo e político italiano Maquiavel, ela é ainda hoje uma das sentenças mais ditas quando pensamos sobre nossos resultados. De acordo com o pensador, não importa o caminho ou métodos que usamos para alcançar os nossos objetivos, desde que eles sejam cumpridos. Assim, a síntese desse pensamento é a de que devemos abrir mão de tudo para chegar ao que desejamos. Mas será que isso faz realmente sentido?

No mundo atual, no qual somos estimulados constantemente à competição, não é raro ver casos em que pessoas fazem de tudo para conquistar seus objetivos. Desde trapaças com seus concorrentes, até mesmo abrirem mão de seus princípios em troca de uma promoção ou bem material, vemos que o valor humano tem, infelizmente, ficado de lado, quando se trata de chegar em primeiro lugar. Assim como a frase de Maquiavel, outros tantos ditados populares nos ensinam que devemos alcançar nossos resultados a qualquer preço. Quem de nós nunca ouviu “É preciso vencer a qualquer custo” ou “O segundo lugar é o primeiro dos perdedores”? Essa mentalidade ao ser levada para todos os campos da nossa vida reflete em atitudes egoístas, nas quais não há espaço para cooperação ou mesmo o respeito para com as pessoas ao nosso redor.

Observando esse contexto, devemos refletir sobre o valor dos resultados frente aos processos que utilizamos para alcançá-los. Será que Maquiavel tinha razão em sua frase? Para sabermos disso, é preciso, antes de mais nada, investigarmos sobre o valor de cada um desses pontos. Para tanto, pensemos no seguinte exemplo: imaginemos que vamos fazer uma viagem, porém, para alcançar o nosso destino existem múltiplas formas. Podemos ir de trem, avião, barco ou mesmo a pé, podemos escolher o caminho mais longo ou tomar atalhos, decidir se vamos mais rápido ou mais devagar. De igual modo, ao escolher o caminho que pretendemos seguir, devemos fazer nossa mala, comprar as passagens e tomar as devidas precauções para seguir nessa jornada. 

O destino seria, a rigor, o resultado que buscamos alcançar, porém, tal qual numa viagem, podemos chegar nele de diferentes maneiras. O que muda, então? Alguns caminhos serão mais rápidos, outros mais confortáveis, e alguns mais longos e árduos. Desse mesmo modo, ocorre conosco quando galgamos um objetivo, entretanto, por mais que pensemos que o melhor caminho será, necessariamente, o mais rápido, devemos ter em mente outros fatores como a preparação, o que será necessário para chegar bem ao destino e, certamente, se estaremos honrando com nossos princípios nessa jornada. Todos esses elementos são mais valiosos que o resultado em si. Os caminhos mais fáceis podem ser, em grande parte, os mais custosos para nós. 

Colocando em exemplos práticos, pensemos em quando buscamos emagrecer. O que fazemos? Vamos para a academia, fazemos uma reeducação alimentar e, com disciplina e ritmo, atingimos o nosso resultado, correto? Esse é, em grande medida, o caminho ideal para chegar ao objetivo que traçamos, mas às vezes realizar todo esse percurso levará não apenas tempo, mas também uma quantidade enorme de energia e compromisso de nossa parte. Desse modo, tentando encontrar atalhos e resultados a curto prazo, buscamos saídas alternativas como remédios milagrosos, dietas que prejudicam nossa saúde e, no fim, por mais que realmente percamos alguns quilos, chegaremos com nosso corpo mais debilitado.

É nítido, portanto, que nem todo resultado deve ser perseguido a qualquer preço, pois este pode ser, até certo ponto, alto demais. Não queremos dizer, contudo, que alcançar nossos objetivos não seja importante, pois eles são, mas ainda mais importante é viver conscientemente o caminho que percorremos até ele. Fazendo uma analogia com os exemplos acima, tão bom quanto chegar ao nosso destino é perceber que aproveitamos o caminho conhecendo novos lugares, pessoas e aprendendo com as diversas experiências que a vida me proporcionou durante o percurso. De igual modo, a pessoa que emagreceu a partir de uma dieta saudável e exercícios conseguiu muito mais do que um corpo saudável, mas também a organização, foco, disciplina e constância necessárias para isso. Essa é a magia do processo: podermos adquirir as ferramentas necessárias para chegar aonde desejamos e levá-las como aprendizados pelo resto de nossas vidas.

Lembremos que na natureza existe um tempo certo para cada momento. Há o tempo de plantar e o de colher, há o dia e a noite, assim como as estações, a chuva e o sol. Se compreendermos essa lei universal, podemos entrar no fluxo da vida e caminhar de acordo com os ciclos que lhe são próprios. Portanto, não desejemos o imediatismo tal qual prega-se nos dias atuais. Não precisamos, definitivamente, estarmos “resolvidos” antes dos trinta, muito menos saber exatamente o que queremos ser e onde queremos chegar antes dos vinte. Os resultados, como o nome nos indica, só poderão chegar após a nossa jornada, e para isso precisamos viver cada momento de forma única e especial. Serão eles as jóias preciosas que farão, no fim, tudo valer a pena. 

Nos antigos mitos, fala-se bastante sobre essa ideia. O herói que, em geral, precisa cumprir uma série de desafios, aprende o seu ofício ao longo da jornada, enfrentando perigos e colhendo armas mágicas. Assim, após enfrentar dragões, medusas e descer ao submundo, o semideus surge como um verdadeiro ser Divino, capaz de fazer façanhas que nenhum mortal conseguiria. Seu resultado foi alcançado graças aos caminhos tortuosos que percorreu. Por isso que uma antiga frase nos fala que a virtude é o maior dos tesouros humanos, pois só pode ser achado por aqueles que estão, conscientemente, buscando-a através das experiências. Isso significa, em resumo, que devemos respeitar o nosso processo e aprender com ele. Pode ser que o nosso objetivo demore muitos anos até ser alcançado, ou mesmo que nunca, de fato, cheguemos a ele. Porém, nada disso importará se tivermos de fato aprendido um profundo ensinamento ou mesmo desenvolvido virtude.

Tratando sobre essa questão, de acordo com as antigas tradições, conta-se que algumas pessoas vivem toda a sua vida buscando compreender uma ideia e que para isso levam muitas décadas. Mas, após uma existência inteira de exercício e busca dessa percepção, elas alcançam seu objetivo e conseguem entender a ideia que tanto perseguiram. Assim, elas compreendem a necessidade de ter passado por tantas experiências até aquele momento. Esse seria um momento de iluminação, no qual se entraria em contato com nosso verdadeiro ser. Por outro lado, há quem viva mil vidas e jamais chegue perto dessa experiência, pois sua atenção está repetidamente voltada para outros objetivos. Desse modo, em um sentido mais profundo, todos os caminhos que essa pessoa escolhe não o leva para o seu verdadeiro objetivo, que é encontrar a si mesmo, seu aspecto mais profundo.

Por fim, chegamos à síntese de que Maquiavel, do ponto de vista espiritual, estava completamente errado. Os fins jamais justificarão os meios, pois é graças ao correto caminho que poderemos ascender até o nosso verdadeiro objetivo. Sendo assim, devemos nos lembrar que o materialismo em que vivemos, que pouco (ou quase nada) se interessa pela vida espiritual, tem por definição a busca do que não é durável, uma vez que todos os bens, os patrimônios, títulos e cargos são dissolvidos pelo tempo. Portanto, de que nos vale chegar a esses objetivos, passando por cima de tudo e todos? Desonrando nossa história, princípios e virtudes? Se conseguirmos, apenas por um momento, pensarmos como um ser espiritual, perceberemos que nada disso importa de verdade e que todos nós estamos, em maior ou menor grau, mergulhados em uma ilusão. 

Assim, que possamos despertar um pouco para o que verdadeiramente importa, para aquele que é o nosso objetivo final: o de encontrar o mais profundo e Divino ser que há dentro de cada um. Se observarmos por esse ângulo, jamais teremos dúvidas do que é realmente mais importante nessa jornada em busca de nós mesmos.

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