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A dança da Vida

Você já ouviu falar da famosa frase de Heráclito: “nenhum homem pode banhar-se no mesmo rio duas vezes, pois na segunda vez nem o homem nem o rio serão os mesmos?” Essa singela sentença guarda uma profunda verdade sobre o Universo e sobre como a vida, em síntese, funciona. Apesar de ser lógico, não costumamos perceber que a existência está em movimento contínuo. Nesse momento, por exemplo, nosso planeta está girando ao redor de si mesmo e ao redor do Sol. Este, por sua vez, está fazendo um grande trajeto ao redor da nossa galáxia, a Via Láctea, que também se movimenta em torno do centro do Universo. 

Essa dança cósmica é a síntese do que é a vida. Mas não pensemos que isso ocorre apenas com os grandes astros que estão há centenas de anos-luz da Terra, pois até mesmo num grão de arroz, podemos enxergar a dança da vida. Podemos afirmar isso com segurança, pois hoje é de conhecimento comum que os átomos estão em movimento, trocando elétrons, formando moléculas e estruturas maiores, que são a base da nossa vida. Sendo assim, mesmo que estejamos aparentemente parados em nossas cadeiras, camas e sofás, o fato é que nesse mundo infinitamente pequeno nada está parado, tudo se movimenta com uma velocidade impressionante. 

Portanto, podemos concluir que a vida é movimento e que nada, absolutamente nada, no Universo se encontra “parado”. Apesar dessa constatação, não é fácil nos livrarmos da sensação de que a vida, por vezes, nos parece “morta” ou “parada”. Já sentiram, por exemplo, que os dias passam iguais? Que a rotina é a mesma e que, de uma forma ou de outra, estamos parados, enxergando os acontecimentos ocorrerem, como se nesse grande jogo da vida fôssemos apenas espectadores? Tais percepções podem nos tirar a energia de viver, de perceber a beleza que são as mudanças e nuances da vida e de perceber que podemos evoluir em todas as situações, sejam as mais adversas ou mesmo as mais agradáveis.

Há um antigo ensinamento egípcio contido no livro “O Caibalion” que nos ensina que o Universo é vibração, que tudo se movimenta. Logo, mesmo quando estamos nos sentindo em um “beco sem saída”, ou mesmo nos sentindo injustiçados por alguma situação, é preciso entender que até mesmo os momentos de dor fazem parte da nossa existência. A dor é, como disse Buda, inexorável e todos nós a sentimos, mas isso não deve ser visto como algo negativo. À medida que compreendemos a causa de nossas dores, evoluímos, pois conhecemos um pouco mais sobre nós mesmos e reconhecemos que aquela situação era necessária.

Não precisamos ir muito longe para sabermos disso. Quantas vezes já olhamos para o nosso passado e identificamos momentos de dor que foram fundamentais para a nossa formação humana? Desde um castigo aplicado por nossos pais para nos fazer compreender o valor das regras e normas, por exemplo, até o sofrimento por uma relação que não “deu certo”, mas que nos ajudou a enxergar uma série de erros em nossa conduta com o outro? A vida, em seus caminhos misteriosos, sempre nos conduz para a nossa melhor versão,aquela que justamente nos leva às experiências justas para que possamos caminhar em direção a um futuro brilhante. 

Nesse sentido é inegável que há uma inteligência que move o Universo, que faz com que nada que estejamos vivendo seja por acaso. Os antigos Hindus chamavam essa inteligência de Karma e podemos sintetizá-la com um dos ditados mais populares do nosso país: Nós só colhemos aquilo que plantamos. Não devemos entender essa frase como uma forma de punição ou mesmo com um sentido negativo, pois o valor dela está na justiça que a vida contém. Mesmo que não vejamos os resultados imediatos, todas as nossas ações – sejam boas ou más – conduzem nossa experiência de vida. E não estamos falando apenas de ações físicas, pois em todos os planos (seja ele físico, emocional ou mental), agimos através de pensamentos e emoções. Logo, de nada adianta ajudar alguém fisicamente se em minha mente estou reclamando, criticando e tendo uma relação com segundas ou terceiras intenções. O Karma, portanto, não pode ser enganado, e a vida, em toda sua inteligência, não se engana.

Isso nos ajuda a enxergar, de maneira objetiva, que é preciso evoluir em direção a ações, sentimentos e pensamentos puros, livres de julgamentos sociais e modismos. Não pense, por exemplo, que a vida beneficia alguns poucos “eleitos” a terem uma vida “boa” e outros tantos estão condenados a uma vida “ruim”. Como diria Aristóteles, a felicidade e realização na vida não é uma questão de sorte, mas sim de virtude. Quantas pessoas têm a vida “perfeita” e ainda assim são infelizes? Quantas pessoas caem em males terríveis e, ao mesmo tempo, nada lhes falta? 

Se considerarmos esse aspecto, perceberemos que a felicidade e a realização humana não estão fora de nós, ou seja, não estão nos bens que acumulamos, nos status que possuímos ou mesmo em nossas funções sociais. Quando depositamos nossa energia nisso (e lembremos que energia é vida!), estamos construindo um castelo de areia que as águas do tempo destruirão. Precisamos compreender que a vida humana – e todos os outros tipos de vida – é eterna, pois a energia que nos compõe jamais desaparece, apenas muda de forma. Assim, essa energia divina, transcendente e cósmica, está pronta para voltar ao seu estado inicial, e cabe a nós dedicar essa energia para a construção dessa passagem de maneira consciente, compreendendo o processo que ocorre a nós e entendendo que todas as experiências nos levam a essa síntese.

Outro ponto a ser observado é que a realidade do Universo é muito mais espiritual (ou pelo menos material) do que física. Somos compostos por elementos invisíveis que, apesar de não se precipitarem de forma objetiva no mundo, nos conduzem. Basta refletirmos sobre o que são nossas emoções e pensamentos. Para os mais céticos, são impulsos elétricos e percepções captadas por sentidos, porém, não se pode colocá-las em uma “garrafa” e vendê-las como pensamentos ou pílulas de felicidade. Mesmo assim, quantas vezes passamos grande parte da vida perseguindo uma ideia ou a própria felicidade? Desse modo vivemos inconsciente por algo que não podemos tocar, contabilizar e muito menos guardar. 

O que nos cabe, então? Talvez reconhecer o valor das mudanças e caminhar em direção a uma vida mais espiritual que é, em síntese, compreender que todas divisões que fazemos neste mundo são, em síntese, ilusões. Se todos nós somos compostos de energia, qual o sentido de se segregar uns aos outros de acordo com critérios temporais? Qual a diferença, a nível cósmico, de sermos mais altos, mais baixos, de cores e etnias distintas? Todas essas categorias são formas de limitação, e para uma alma grande, diria Sêneca, não há nada que seja grande o suficiente. Nada pode prender nosso espírito humano de conseguir enxergar a única realidade existente: de que somos todos compostos de uma energia divina, própria dessa inteligência que cria e rege o cosmos. Se assim o fizermos, certamente desenvolveremos uma das mais belas e úteis virtudes para o nosso mundo atual: a empatia.

Empatia nada mais é do que se colocar no lugar do outro, sentir suas dores e prazeres. Podemos fazê-lo apenas de forma abstrata, imaginando, porém é graças a empatia que conseguimos entender que, no fundo, todas as dores humanas são vividas por nós. Talvez eu não saiba a dor, por exemplo, de um refugiado que precisou abandonar seu país em meio a uma guerra, mas certamente entendemos a dor de não se sentir “em casa”, ou de ser um “estranho” em um ambiente que não é o seu. Devemos, obviamente, salvaguardar as devidas proporções, mas esse exercício de se colocar no lugar do outro é de grande ajuda para percebermos que, no fundo, toda a humanidade vive crises humanas e cada ser humano é, em síntese, uma parte de um todo. Não há nada que toque um ser humano que não possamos entender. 

Não percamos essa mensagem de vista, pois quando esquecemos de nossa finalidade enquanto seres humanos, caímos nas divisões e preconceitos que regem a vida moderna. Sejamos, portanto, um ponto de luz, e que possamos dançar com a vida, aproveitando suas nuances e aprendizados.

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