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De Qual Virtude o Mundo Mais Precisa?

Essa era uma questão recorrente na Filosofia Antiga. Sócrates, Platão, Aristóteles, o epicurismo, o estoicismo, todas essas escolas e filósofos buscavam o aprofundamento sobre o que seria a Virtude e costumavam relacionar isso à Felicidade e à Força da Vida. Inclusive, se você pesquisar a etimologia da palavra “Virtude” descobrirá que a raíz vem do latim virtus que significa Poder ou Força. A Filosofia Moderna se afastou dessa abordagem e passou a se voltar mais para o estudo da razão, da produção humana, das relações políticas, etc. Hoje estamos mergulhados em uma era de muitas angústias, incertezas e esvaziamentos. Apesar de nadarmos em um oceano de informações, não temos clareza sobre o papel do Ser Humano e o seu sentido na Natureza. Tateamos na escuridão e flertamos com a Filosofia a partir de motivações muito supérfluas, e assim, transformamos a reflexão filosófica em um playground intelectual, em que acessamos como uma opção de lazer. Por outro lado, há os que vêem nisso um nicho de mercado e passam a comercializar a filosofia como se fosse uma “mercadoria” que se vende em um supermercado.

Para refletirmos sobre essa pergunta, de qual Virtude o mundo mais necessita?, precisamos mudar a nossa forma de pensar atual, e utilizar uma outra maneira, a dos antigos. Os antigos costumavam partir do princípio de que nós temos um Ser interno, uma espécie de Alma Imortal, que vem de todas as eras e viverá para sempre. Nesse núcleo interno estão todas as memórias do Universo, toda a Sabedoria do mundo, está a Essência Primeira, causa inicial de todas as coisas. Nesse lugar interno que todos temos, nessa essência profunda, não há dúvida, nem medo, nem contradições, nem incertezas, tudo é claro, permanente e imutável. Mas esse Ser interno está vivendo aqui uma experiência na matéria, pois ele encarnou em um corpo, e, portanto, é prisioneiro desse casulo que é a nossa personalidade.

Assim, em última instância, não somos este corpo físico que segura um smartphone ou que está sentado diante de uma tela; não somos essa energia que vitaliza nossas células; não somos nem mesmo as emoções ou os pensamentos que temos. Isso tudo são aspectos transitórios, são coisas que vêm e vão com o tempo. O que somos no mais profundo de nós mesmos é um Ser eterno, imortal, vivendo uma experiência dentro dessas vestes físicas, energéticas, emocionais e mentais. De tal modo que a nossa Vida, a nossa Felicidade e a nossa Força vem do quanto este Ser se torna presente nessa experiência material que vivemos. Mas nesta experiência de encarnação, este fluxo entre o Ser interno e a existência, não acontece espontaneamente, não é automático. Muito pelo contrário, é uma conquista individual que requer muito esforço. Precisamos adequar o canal para que o nosso Ser interno flua através da nossa Vida.

Se você não entendeu qual a relação disso tudo com a questão inicial do texto, tudo fica mais claro agora. Essa adequação da personalidade para permitir o fluxo dessa força que vem do Ser interno, é o que a Filosofia Antiga entendia como Virtude. Para as antigas tradições filosóficas, a forma como organizamos nossa Vida, dentro do nosso cotidiano, em cada decisão que tomamos, nas relações com todos os seres, é determinante no quanto o nosso Ser interno conseguirá fluir em nossa existência.

Partindo dessa premissa, tais filósofos construíram profundas reflexões a respeito das Virtudes, ou seja, das formas de atuar no mundo que permitem o fluir do que há de mais Divino em nós. Platão, no livro “A República”, fala de quatro Virtude fundamentais: Sabedoria, Coragem, Temperança e Justiça. Para ele, uma sociedade ideal e um cidadão ideal precisam atuar no mundo a partir dessas quatro qualidades. Já Aristóteles, no livro “Ética à Nicômaco”, apresenta a Virtude como a causa da Felicidade e sugere que o caminho para que toda a Humanidade alcance esta meta tão sonhada é conhecer e praticar as Virtudes.

Em termos práticos, quando atuamos no mundo com Virtudes, é como se desobstruíssemos os canais que conectam a nossa essência interna à nossa existência cotidiana. Isso é análogo ao que acontece com o nosso fluxo sanguíneo. Se nos alimentamos de forma errada, com muito sal, muita gordura, o que tende a acontecer? Nossas artérias podem ficar tão obstruídas a ponto de nos levar a uma isquemia, infarto, ou coisa do tipo. E qual o procedimento para resolver? O médico terá que tentar desobstruir de alguma forma. Os vícios fazem o mesmo em relação ao fluxo da Vida, obstruem as energias que vem do Ser, necrosando nossa existência. Essa obstrução constante acaba nos levando a muitas crises de angústia e a patologias psíquicas.

Respondendo a questão inicial, podemos dizer que a Virtude que o Mundo mais precisa hoje em dia é “todas”. Mas isso não deve ser um motivo de desânimo. Quando temos uma artéria obstruída, não sentimos falta de uma ou outra célula sanguínea, mas sim de todas. Para a nossa saúde, todas elas devem fluir. Então, quando conquistamos uma Virtude completamente, quer dizer que o fluxo foi liberado, e a nossa parte Divina está se expressando de forma plena na Vida, ou seja, todas as Virtudes estarão presentes.

Se pararmos para pensar bem, é possível que alguém seja bom sem ser justo? Ou que seja generoso, mas não tenha a inteligência para encontrar a melhor forma de ajudar? Por isso, quando falamos de Virtude, podemos dizer que quem conquista uma plenamente, conquista todas. Então, no momento atual, o mais importante é tomarmos consciência dessa necessidade, e retomarmos essa antiga prática de busca e Amor pela Sabedoria, como era conhecida na antiguidade a verdadeira Filosofia. Somente isso pode nos libertar do pântano dos vícios e da ignorância que obstrui a experiência de nossa Alma Imortal.

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