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Livre Arbítrio e Vida Moral: Complementares ou Excludentes?

Em geral, entendemos muito mal a ideia de Livre Arbítrio. Costumamos entender como sendo uma liberdade desenfreada, em que se pode fazer tudo, sem regras, sem governo e quase sempre quebramos a cara, porque tudo no comportamento humano é regido por leis invisíveis, e a violação dessas leis trazem muitas dores. Mas o fato dessas leis existirem, isso não acaba com a ideia do Livre Arbítrio. Como conciliar então essas duas ideias, a de que somos livres e ao mesmo tempo somos governados por Leis Morais, tão sutis e tão poderosas? Qual o caminho mais inteligente para lidar com o Livre Arbítrio?

Não por acaso, a cultura Humana, ao longo de milhares de anos, desenvolveu mecanismos de “contenção” das nossas ações. Quando nossos pais nos colocam na linha, quando as religiões desenvolvem meios de controle dos usos e costumes, quando o Estado exerce o poder policial e quando a sociedade nos censura por passarmos dos limites, estamos sendo regulados por um sistema sutil de contenção. Esses freios foram sendo construídos ao longo da evolução Humana pois, se por um lado somos livres para escolher nossas ações, por outro lado, essas ações podem ser extremamente perigosas.

Já ouviu aquela música: “será que tudo que eu gosto é imoral, é ilegal ou engorda…”? Pois essa letra é bem representativa deste paradoxo: há muitas ações prazerosas, que somos livres para fazer, mas que provocam uma série de consequências indesejáveis, ou seja, nenhuma ação é estéril. Toda ação é decorrente de uma ação anterior e provoca reações posteriores. Exemplo: se comermos livremente, sem regras, atendendo apenas ao anseio do paladar, o que vai acontecer? Se dormirmos sem regras quanto a horários, atendendo apenas ao apelo do corpo, o que vai acontecer com a nossa Vida? Toda ação é carregada inevitavelmente de consequências, tudo o que você faz tem desdobramentos. Isso é tão real e inevitável como a Lei da Gravidade que diz que se soltarmos um objeto de uma certa altura em direção ao chão, ele não vai ficar parado no ar. Por isso, algumas tradições entendiam essa condição como sendo uma Lei. A tradição indiana chama de Lei do Karma, já a tradição judaico-cristã costuma denominar de Lei da Semeadura, “aqui se planta, aqui se colhe” ou “tudo tem um tempo determinado debaixo do céu: tempo de plantar e tempo de colher”.

Mas se levarmos ao extremo o conceito dessa lei, podemos, por equívoco, concluir que não existe Livre Arbítrio, já que tudo o que fazemos é consequência de uma ação anterior. Mas a verdade é que esses dois conceitos, Livre Arbítrio e Lei Kármica, são complementares e não excludentes. A Lei Kármica atua sobre o mundo externo, ou seja, toda ação provoca efeitos que nos influenciam, mas o Livre Arbítrio é próprio do Indivíduo que deve dar uma resposta à situação que a Vida lhe trouxer. Logo, somos livres para agir, mas a partir disso, estamos Karmicamente ligados às consequências da nossa ação.

Mas, se não soubermos que essas ações estão gerando consequências ruins, como vamos evitá-las? É daí que vem a dor. A Natureza nos “presenteou” com o mecanismo da dor, que tem a função de nos mostrar que há algo errado. A dor nos diz que precisamos consertar alguma coisa. Imagine que uma luz acendeu no painel do seu carro, avisando que há um problema no motor. Isso não é ruim, na verdade é muito bom que exista um sistema que nos avise os problemas que precisamos resolver. Por isso, da mesma forma que não adianta simplesmente apagar a luz do painel sem cuidar do motor, em nossas vidas, não adianta simplesmente tentar apagar a dor sem atuar na sua causa.

Se o Livre Arbítrio não existisse não faria sentido haver dor, pois todas as ações já estariam determinadas, como consequências de uma cadeia inevitável de acontecimentos. Mas em todas as situações, o Ser Humano é livre para decidir o que fazer com a sua Vida. Por exemplo, uma pessoa que começa a tomar o caminho das drogas. Inicialmente é muito prazeroso, mas ao longo do tempo as dores começam a aparecer. Dores sociais, dores físicas, psíquicas, mentais, e essas dores são sinais da própria Vida da pessoa que está agindo na contramão do que é próprio de sua natureza. Mesmo com essas dores, ele é naturalmente livre para continuar no mesmo caminho, que o levará até um precipício. Mas se ele parar para refletir sobre os alertas dados pelo seu corpo, pelas suas emoções e pela sua mente, ele pode escolher se reposicionar e mudar o seu destino.

O Livre Arbítrio é uma dádiva preciosíssima, pois ele nos diz que não somos robôs pré-programados por alguma força da Natureza. Temos essa capacidade de escolha porque somos seres autônomos, mas é preciso entendê-la. Ter Livre Arbítrio e não saber como lidar com ele, é como ter em mãos um material radioativo e desconhecer sua potência e sua letalidade. Por isso que todas as tradições milenares da Humanidade aconselham o autoconhecimento. A tradição socrática dizia: “conhece-te a ti mesmo e conhecerás os Deuses e o Universo”; a tradição cristã diz “conhecereis a verdade e ela te libertará”. O caminho do autoconhecimento é uma questão de sobrevivência, individual e social. Hoje lidamos muito mal com a liberdade, pois somos inconscientes sobre nosso potencial e sobre as consequências de nossas ações. Em geral, não conseguimos entender que somos livres, mas não de forma absoluta. Somos livres para escolher quem será o nosso “senhor”. Podemos servir à Moral Transcendente, que são aquelas leis comentadas por tantos Mestres na História, que não tem a ver somente com regulamentações e normas sociais, mas sim com aquilo que a nossa Alma, a nossa melhor parte, exige de nós. Ou podemos servir ao nosso lado mais grosseiro, aos instintos, ao egoísmo e aos vícios. A diferença é que o primeiro Mestre nos leva à realização Humana, à perfeita Felicidade, já o segundo, nos leva ao aprisionamento e ao sofrimento.

As Leis Morais não são sinônimo de autoritarismo, assim como a Liberdade não é sinônimo de rebeldia, nós é que invertemos as coisas. Moral e Liberdade são instâncias complementares da realidade. Somos livres para um Viver Moral. Somos livres para exercitar o domínio sobre nós mesmos. Somos livres para termos Poder sobre as circunstâncias, sobre o tempo, sobre os vícios, sobre as adversidades. Uma “liberdade”, que tem como consequência a falta de compromisso, o distanciamento da realidade, a destruição da cultura Humana e a dependência química, não é a verdadeira Liberdade, mas sim o seu oposto. Precisamos descobrir a essência do que é ser Livre, e ao mesmo tempo viver uma Vida Moral. Essas duas potências da realidade foram dadas ao Ser Humano, e realizá-las nesta existência é a maior missão que cada um de nós carrega em nossas trajetórias de Vida. Então, por que não escolhermos o caminho trilhado pelos grandes homens e mulheres da nossa História?

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