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Bom Pagador, Mal Pagador

Dizem que a grande diferença entre uma pessoa normal e um sábio, é que o sábio compreende profundamente as leis da natureza e age de acordo com elas. E nós, por não conhecermos muito bem essas leis, não temos noção de como elas atuam nem de como sofremos as consequências das mesmas. Um bom exemplo disso é a nossa relação com a lei do Karma.

Segundo a tradição oriental, existem duas leis que cuidam da evolução do ser humano: a lei do Dharma e a lei do Karma. O Dharma representa uma estrada, o caminho que todo ser humano deve seguir ao longo de sua vida, a trilha da evolução. Só que às vezes não conseguimos ver de cara esse caminho, às vezes nos perdemos no meio da estrada, e para nos ajudar a nos colocar novamente “nos trilhos”, atua a lei do Karma, a famosa lei da causa e efeito.

O Karma é a lei que está por trás de todas as nossas ações. Se eu faço uma boa ou má ação, aquilo me gera uma consequência, o Karma. E como estamos agindo o tempo todo, o tempo todo geramos consequências. O grande problema é que não conseguimos enxergar que o que estamos sofrendo foi causada por uma ação feita anteriormente, não enxergamos a linha de causa e efeito. Daí ficamos iguais ao homem da figura abaixo, damos o empurrão sem ter ideia que a última peça vai cair na nossa cabeça!

E às vezes, o intervalo entre a queda da primeira peça até a última é tão longo que não associamos a causa ao seu efeito, apenas sofremos a consequência sem entender o porquê, quando não ficamos revoltados com a vida sem saber por que ela está pregando aquela peça!

Quantas vezes não apontamos os erros do outro, ou julgamos um gesto feito pela outra pessoa, sem olhar para nossos próprios erros e ações? Exigimos das pessoas a perfeição em tudo, mas com nós mesmos não temos esse nível de exigência. Por que somos duros com os outros e moles com os nossos defeitos? Porque não conseguimos enxergar que tudo o que nos passa são consequências das nossas formas de ação, talvez se enxergássemos melhor a concatenação dos movimentos do dominó, exigiríamos menos dos outros e mais de nós mesmos, pois ao fim saberíamos que iríamos colher os frutos.

Este conto oriental nos inspira a entender o real significado do Karma e como nos posicionar com relação às cobranças que costumamos fazer.

Conta-se uma lenda que depois de um dia de caminhada pela mata, mestre e discípulo retornavam para onde moravam, por uma longa estrada. Já próximos de casa, ao passarem perto de uma moita, ouviram um gemido. Foram verificar o que era e descobriram um homem caído ao chão. Estava pálido e com uma grande mancha de sangue próximo ao coração. Tinha se ferido e logo morreria se não fosse socorrido. Com muita dificuldade, eles o carregaram pelo resto do caminho até o rústico casebre onde viviam, e lá o trataram durante uma semana. Já reestabelecido, o homem contou que havia sido assaltado e que, ao reagir, fora atacado com uma faca. Disse também que conhecia seu agressor e que não descansaria enquanto não se vingasse. Pronto para partir, o homem disse ao sábio: “Senhor, muito lhe agradeço por ter salvo minha vida. Tenho que ir, mas levo comigo a gratidão por sua bondade. Vou ao encontro daquele que me atacou, quero fazer com que ele sinta a mesma dor que senti”. O mestre olhou fixo para o homem e disse: “Vai e faz o que desejas; entretanto, devo informá-lo que me deves três mil moedas de ouro como pagamento pelo tratamento que recebeste”. O homem ficou assustado e murmurou: “Senhor, é muito dinheiro. Sou um trabalhador, não tenho como lhe pagar esse valor!”. O mestre retrucou: “Se não podes pagar pelo bem que recebeste, com que direito queres cobrar o mal que te fizeram?”. O homem ficou confuso e o mestre concluiu: “Antes de cobrar alguma coisa, procure saber quanto deves. Não faças cobranças pelas coisas ruins que te aconteceram nesta vida, pois a vida pode te cobrar tudo de bom que te ofereceu.”

A tradição oriental nos ensina através de contos desse tipo que existe uma Justiça regendo todo o Universo, ou seja, mesmo que por vezes a vida pareça ser injusta, devemos confiar que, numa visão mais ampla, existe uma causa e um propósito para tudo que nos acontece.

Algumas vezes, pensamos que a vida está em dívida conosco, e então surgem os pensamentos: “Por que as coisas boas não acontecem comigo?”, “Quando as pessoas irão reconhecer o meu valor?”, “Ninguém me entende!”, “A vida é muito injusta!”, etc. Devemos tomar muito cuidado, pois essa forma de pensar nos transforma em pessoas rancorosas, amarguradas, críticas, que sempre cobram muito dos outros e sempre se sentem injustiçadas. Já as pessoas felizes, parecem que pensam que são elas que estão em dívida com a Vida, e não o contrário. Por isso, estão sempre dispostas a servir e a ajudar a todos, pois sentem que é assim que podem “pagar” todo o bem que a vida lhes trouxe. E quando algo de ruim acontece, não se desesperam, pois sabem que, mesmo que exija muito esforço e Boa Vontade, com certeza algo de bom podem aprender com a situação negativa.

Em um de seus poemas mais brilhantes, “En Paz”, o mexicano Amado Nervo se declara à Vida com muita gratidão e com o reconhecimento de que ele mesmo foi o arquiteto de seu próprio destino. E por fim, encerra com uma belíssima frase:

“Vida, nada me deves! Vida, estamos em paz!”

Deveríamos trazer para a nossa vida aquela analogia que diz que nós devemos ser como a manga: suaves por fora, mas rígidos por dentro, ou seja, compreensivos e tolerantes com os outros, mas severos na correção e redenção de nossos erros. O grande problema é que geralmente nós somos como o coco: rígidos por fora e moles por dentro. Somos muito críticos e intolerantes com os defeitos dos outros, mas muito permissivos com nossas próprias falhas.

Como diz Plutarco: “O verdadeiro sábio só é rigoroso consigo mesmo, com os demais é amável”. Essa é uma Lei que rege a Natureza Humana. Então vamos todos nos esforçar para compreendê-la e colocá-la em prática!

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