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O que podemos aprender com a educação das crianças japonesas?

Se para alguns isso pode parecer um exagero, por outro lado é fundamental entendermos as ideias que se aplicam a partir desse tipo de cultura. Não devemos nos limitar a pensar em uma rígida hierarquia, mas sim na questão do respeito com alguém mais velho ou com mais experiência. Isso ocorre porque no Japão a formação pessoal é o primeiro passo na construção do caráter de um indivíduo, logo, aqueles que já percorrem um caminho que você pretende ou começou a trilhar têm em si um grande valor agregado. 

Um arquipélago situado numa zona de choque entre as placas tectônicas, sujeito a terremotos, vulcões, furacões e maremotos, com um território montanhoso e poucas áreas planas para o cultivo, o Japão é um país que surpreende o mundo não só pela seu desenvolvimento tecnológico, mas sobretudo pela formação humana e cívica dada aos seus cidadãos. Entre as várias peculiaridades que existem na cultura do Japão, a formação educacional das suas crianças é um fator que chama muita atenção. Formação esta que começa desde a mais tenra infância, através de um regime educacional baseado nos valores, nos costumes, nas tradições e na valorização aos mestres e aos professores. Não é surpresa para nenhum de nós que na cultura japonesa exista uma forte hierarquia e esse valor é seguido à risca. Como exemplo, podemos citar o termo “senpai” que é usado para referir-se a alguém que está há mais tempo que você em algum local, como, por exemplo, a escola. Assim, todo “calouro” deve prestar respeito aos seus veteranos os chamando por esse termo.

O vídeo abaixo mostra várias práticas utilizadas na formação das crianças no Japão. Recomendamos que não apenas o assista, mas que continue a leitura para refletirmos juntos sobre as ideias que podemos integrar em nossa formação.

Geralmente o Japão é muito admirado pelo seu avanço tecnológico e estrutura social estável. Porém, essa é a parte “visível” de uma estrutura que está estabelecida sobre fundações muito bem trabalhadas. Da mesma forma que vemos as paredes de um prédio, mas não as suas fundações, que ficam debaixo da terra. Bem, está muito claro que a “fundação” do Japão é a sua educação infantil. 

É consenso para todos nós que o Japão é um dos países que atualmente mais produzem tecnologias de ponta, entretanto, o que pouco sabemos é que esse país asiático é uma das nações que mais se orgulham de sua história e prezam por suas tradições. E é nas escolas que os pequenos alunos aprendem sobre a tradição cultural de seus antepassados. Disciplinas extracurriculares como as de caligrafia (Shodo), de poesia (Haiku), de artes marciais – como o Kendô (treino com espadas) – e outras artes e tradições do país são ofertadas ao longo de toda formação dos alunos e muito incentivadas pelas famílias dos mesmos. Inclusive, essas formações artísticas contam muito para os currículos profissionais, em todas as áreas do mercado de trabalho.

Porém, essa jornada começa desde os primeiros anos da vida escolar dos japoneses. É nessa fase infantil que os futuros cidadãos aprendem sobre a importância de buscar a verdade, o autocontrole, a disciplina, a organização e a responsabilidade. Pois, para a cultura desse povo, esses valores são mais importantes que o conhecimento intelectual adquirido durante o processo do Ensino Fundamental. Só a partir dos dez anos de idade é que os alunos começam a realizar pequenos testes e provas. O foco mesmo, durante essa fase, é na aquisição e desenvolvimento dos valores humanos, que devem ser exercidos desde sempre por todos. Anterior ao conhecimento técnico, a transmissão desses valores possibilitam às crianças o acesso a uma formação ética e rica que irá nortear suas vidas quando adultos.

Fazendo um paralelo com a filosofia grega, Platão descreve um modelo de educação que, salvaguardando suas diferenças históricas, assemelha-se aos princípios da educação japonesa. Para o grego, os anos iniciais de crianças e adolescentes deveriam ser dedicados a aprender sobre valores e não aspectos técnicos. Assim, através de fábulas, mitos e exercícios as crianças deveriam ser ensinadas sobre o Amor, o Respeito ao próximo, a Honra e o Amor à verdade, além de outros tantos valores positivos para uma vida em sociedade. 

Quando comparamos esse modelo com os que vivemos atualmente, percebemos claramente suas diferenças. Apesar de não excluirmos a construção de valores dignos de um cidadão, a escola cumpre muito mais um papel técnico e de formação de profissionais do que necessariamente valores desejáveis para a nossa sociedade. Em geral, delega-se esse papel para as famílias que, por sua vez, na maioria dos casos, acabam por não inclinar-se de forma efetiva sobre esse objetivo. Assim, torna-se notável a diferença na educação entre as nossas crianças e os jovens japoneses.

Visto isso, ressaltamos que um outro ponto basilar na educação infantil japonesa é a responsabilidade social. Desde muito cedo, as crianças aprendem a se sentirem responsáveis pela coletividade, através dos trabalhos em grupo e do serviço aos seus colegas. Nas escolas, por exemplo, a distribuição das refeições, a limpeza das salas de aula, corredores, pátios e dos banheiros são realizadas pelos próprios alunos através do revezamento de várias equipes de trabalho. Essas formas de atividades inseridas nas dinâmicas das aulas, como complemento, ajudam os alunos a aprenderem valores como a empatia, a convivência, a alteridade, a tolerância e a resolução de conflitos com diplomacia e inteligência. Além desses benefícios, crianças educadas para pensar no Todo acabam por aprender que sempre o valor coletivo deve estar acima dos prazeres individuais, que geralmente nos afastam de nossas obrigações.

Além da formação pessoal e da responsabilidade social, o respeito à hierarquia é um dos pilares da educação, no que diz respeito ao convívio e ao tratamento social. Essa hierarquia, como já apontamos no começo do texto,  possibilita o equilíbrio e a pacificação social. Considerando todos esses aspectos, o conjunto dos elementos fundamentais da cultura japonesa é organizado por um sistema de honoríficos. Tais honoríficos são ensinados desde a infância para serem usados de acordo com o grau de intimidade ou posição social dentro das relações. Um dos exemplos de honorífico é o “Senpai”, que já falamos aqui. O termo não apenas evoca uma hierarquia, mas também há um incentivo de que os “senpais” participem da formação dos alunos novatos, transmitindo o que já aprenderam, sendo assim uma titulação não somente pelo fato de estarem à frente, mas também por terem a responsabilidade de transmitir seus ensinamentos. Isso indica que os iniciantes necessitam de figuras mentoras ou mais experientes para os nortearem, tirarem as suas dúvidas e os ajudarem na resolução de eventuais conflitos. Significa claramente que escolas japonesas incentivam um elo de responsabilidade entre as gerações mais velhas e as gerações mais novas que vai se consolidando numa espécie de compromisso tácito e numa unidade social, que é o símbolo desta nação.

Outro tipo de honorífico bastante usado é o “Sama”, geralmente quando tratamos com alguém bem mais velho ou que denota um tipo de sabedoria. Há outros honoríficos, mas não precisamos nos estender sobre eles para compreender seu real significado: demonstração de respeito para com os demais, considerando sua posição social e seu conhecimento.

É interessante notarmos que esse processo de educação não acaba na fase escolar, mas estende-se por toda a vida, afinal, os valores que são desenvolvidos nesses primeiros anos são os ideais que cada indivíduo busca perseguir ao longo da sua existência. Nesse aspecto, a educação japonesa busca formar um ser humano imbuído de valores e não necessariamente um indivíduo técnico, que possui habilidades e detém meios de executar trabalhos importantes em sua vida profissional. Essa visão de mundo é fundamental para entendermos que somos muito mais do que agentes ativos no mundo do trabalho: somos seres humanos integrais, que precisam desenvolver-se nos mais distintos campos do conhecimento.

Diante do quadro exposto acima, o que se percebe é que o sistema educacional infantil japonês proporciona às crianças um modelo de formação integral, baseado em ricos e profundos valores humanos, sem negligenciar em nenhum momento a formação técnica para atender as necessidades do mundo atual. Os costumes e hábitos aos quais as crianças japonesas são submetidas – como os trabalhos e as responsabilidades que os alunos têm na limpeza ou manutenção de suas escolas – têm provado que, longe de debilitar a psique dos futuros cidadãos, as fortalecem e as ajudam na busca de uma unidade social. 

Por fim, a consequência dessa formação é uma estrutura social composta por indivíduos fortes, unidos e resilientes às adversidades e dificuldades que porventura venham sofrer. A confiança e o equilíbrio que o país demonstra ter todas as vezes que precisa enfrentar uma catástrofe natural advêm de uma formação de caráter sólida dos indivíduos que, desde crianças, desenvolvem habilidades mentais, emocionais ou físicas para lidar com as adversidades da vida. Que possamos aprender com eles!

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