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Medo? Seja um Sol Nessa Escuridão!

Pobres das flores dos canteiros dos jardins regulares.

Parecem ter medo da polícia…

Mas tão boas que florescem do mesmo modo

E têm o mesmo sorriso antigo

Que tiveram para o primeiro olhar do primeiro homem

Que as viu aparecidas e lhes tocou levemente

Para ver se elas falavam…

Alberto Caeiro

Quem pode vencer o medo? Olhe pela janela do seu quarto. O deserto das ruas parece sentenciar: o medo nos venceu. Trancados no silêncio de nossas salas, nós olhamos atônitos as notícias da TV. Morremos aos montes todos os dias. Há um fato que não pode ser negado: alguns inimigos invisíveis atribulam nosso corpo e nossa alma. Lá fora, um novo vírus nos mantém em casa, aqui dentro, um velho vírus quer sair. Sobre o primeiro, que esvazia nossas estradas, a ciência já deu cabo de descrever. Mas, e sobre aquele que tumultua nossas mentes? Para este, a poesia é a melhor mensageira. Ah! Poesia… Essa luneta que nos deixa ver diretamente a fonte de toda a sabedoria humana. Não precisa do pensamento calculado, mergulha diretamente no centro da alma humana e colhe frutos que adorna com a rima e a métrica que o poeta puder dar. E é a poesia quem nos fala desse perigoso inimigo íntimo: o Medo. Shakespeare colocou nos lábios de Hamlet a mais pela representação do que é o medo da morte, que nos paralisa em vida, que nos contamina com uma dúvida infértil. Ser, ou não ser, eis a questão. Eis sempre a questão, a única que realmente importa.

Do que você tem medo agora? Tem medo de morrer? Justificável. Mas, já considerou temer nunca ter vivido? Ter passado pela vida e ter sido apenas mais um número, mais um CPF, mais um nome sem sobrenome que mereça ser lembrado?

Apressa-te a viver bem e pensa que cada dia é, por si só, uma vida.

Sêneca

Assim, o estóico Sêneca nos aconselhava a viver a vida. Uma frase aparentemente frugal, mas, profundamente inspiradora. Toma cada dia da tua vida com se fosse a tua vida inteira. Porque de fato, o é. Uma vida é vivida cada dia por vez. E daí, se os teus vinte, ou quarenta, ou 70 e tantos anos anteriores não foram lá muito virtuosos? Você ainda tem o dia de hoje! E como vai vivê-lo? Tal como viveu os de ontem? Preso na armadilha do acordar, ganhar dinheiro, dormir, gastar dinheiro? Apressa-te! Essa etapa da vida não é eterna. Imaginas que, se foste uma semente plantada neste mundo, o que vais florescer?

Tristemente, muitos de nós florescerão ervas daninhas. Seus frutos serão o ódio, a divisão, a crítica, a violência, a desesperança. Talvez, esses ainda não tenham percebido que são flores. E porque não perceberam isso, só germinam espinhos. E a vida vai ficando feia, cinza, sem cor. Agredimos uns aos outros, às vezes achando que o ataque é a melhor defesa. E não é exatamente isso que faz um animal amedrontado? Foge, ou ataca. Não é de se espantar que nós estamos brigando na fila do supermercado pelo último pacote de papel higiênico. Temos muita coisa a ser limpa dentro de nós mesmos.

Lembra-te do que disse o poeta, as flores mesmo com medo da polícia, florescem, porque são flores. Se não o fizessem, isso sim seria antinatural. E tu? Não é natural de ti, nascer amor, fraternidade, compaixão, disciplina, equilíbrio? A flor deverá vencer a gravidade para tal. Valentemente, ela segue para cima, em busca da luz do sol. Já tu, terás que lutar contra teu próprio medo e tua própria ignorância. E se tiveres a valentia de uma planta, nada te interromperá. Se o terreno é deserto, te faças cacto, se é fértil, cresça jatobá, mas, cresça! Não se esqueça que quanto maior a planta, maior deve ser a raiz. Então, não expanda apenas externamente. Cultive uma vida interior, conheçe a ti mesmo, desenvolve as virtudes que somente o ser humano pode ter. Esse sim é o viver bem a que Sêneca se refere na frase anterior. Quer saber quem pode superar o medo? O ser humano que conquistou a si mesmo, que entendeu seu papel na vida, aquele que aceitou que a vida segue seu rumo, imparável, soberana, bela.

“o que lhe pode acontecer ao boi que não seja próprio do boi ou a abelha que não seja próprio da abelha, e ao homem próprio do homem?”

Marco Aurélio

Assim, outro filósofo estóico Marco Aurélio escreveu em seu diário. Nada pode acontecer ao homem que não seja próprio do homem. Simples assim. Não existe tal coisa como “isso não deveria ter acontecido comigo”. Se aconteceu, foi por uma necessidade de experiência. Mas é necessário compreender que há coisas que controlamos e coisas que não controlamos. O medo geralmente é das coisas do segundo grupo.

Não tente fazer com que os fatos aconteçam como você quer, mas deseje que aconteçam como eles acontecem e você se sairá bem.

Epíteto

Epíteto, mais um filósofo romano daquela escola estóica. Aceitar o que não podemos mudar e mudar o que podemos. Está aqui uma forma de vencer o medo. Provavelmente, não está nas suas mãos mudar o ritmo e a direção de toda uma pandemia. Mas, certamente tem muita coisa que você pode fazer, ainda que no confinamento de sua casa.

O mundo lá fora escurece. Por que você não traz sol para a sala de jantar? Seja um sol no meio dessa escuridão. Se te cabe ser a estrela de sua casa, ilumine-a com a luz da virtude. Comece a viver bem, a viver como um Ser Humano. Isso pode significar várias coisas: tratar com mais fraternidade sua esposa, ou ser generoso com a vovó, ou adotar hábitos novos: ler, ouvir uma boa música, manter a casa limpa. Da varanda da sua casa, você pode manter o mesmo sorriso antigo. Que tal se inspirar no exemplo da mulher deste vídeo?

Ela é uma prova viva de que é possível dar o melhor de si, com amor e boa vontade, de que ser humano não depende das condições externas, mas somente do tamanho interior. Uma mulher italiana resolve entregar o que tem de mais belo para seus vizinhos de isolamentos social. E essa generosidade genuína, pura, só pode soar como uma música aos ouvidos atentos. Ela canta a obra La traviatta, de uma varanda na Itália, mas alcança todas as janelas do mundo. É um sopro de beleza no meio de uma cidade de pedra. Um alento de alívio para o sofrido povo napolitano. E naqueles dias difíceis? Diante da incerteza, do medo e da desesperança, lembra-te do que disse aquele imperador filósofo…

Se te ocorrer, de manhã, de acordares com preguiça e indolência, lembra-te deste pensamento: “Levanto-me para retomar a minha obra de homem”.

Marco Aurélio

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