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Festas Mais que Religiosas

As pessoas mudam, os tempos são outros, mas é incrível como a busca pelo Divino é algo atemporal. É como se cada indivíduo tivesse uma certa saudade de algo que não conhece e então se reúne com outras pessoas para que juntos possam encontrar o “caminho de volta para casa”. Uma das versões sobre a origem da palavra “religião” explica muito bem isso: o termo teria origem na palavra latina “religare” (religar) e seria então essa força que une as pessoas entre si e faz com que se reconectem com Deus. 

A espiritualidade sempre moveu os povos e conduziu a história, por isso alguns dos maiores e mais belos eventos do mundo são relacionados à religião. Independente de qual seja a sua crença, é possível apreciar a Beleza que há nessas festividades que unem as pessoas em torno de boas ideias. Todos nós, de forma direta ou indireta, conhecemos e celebramos festividades religiosas, mesmo que não tenhamos um credo definido. Esses eventos, de forma geral, despertam uma série de sentimentos distintos como alegria, felicidade, amor, união, prosperidade  etc. Por isso, talvez, mesmo que não sejamos adeptos da doutrina que produziu essa festividade, ainda assim achemos que suas formas são uma verdadeira expressão do belo, e isso nos toca profundamente.

Mesmo diante desses argumentos, para aqueles verdadeiramente céticos na compreensão profunda desses momentos, resta os benefícios materiais dessas festividades. Querendo ou não, tais momentos movimentam parte da sociedade, geram emprego e renda e aquecem o comércio, além das próprias festas como uma ocasião social por excelência. Esse aspecto mais “físico” acaba, inevitavelmente, se mesclando com o sentido sagrado da festividade e, por vezes, o sagrado e o profano acabam se tornando quase uma mesma realidade. De acordo com Mircea Eliade, grande filósofo do século XX e estudioso da religião, essas duas categorias são inseparáveis, uma vez que uma gera a outra. Assim, ao falarmos do aspecto sagrado de um local, ambiente ou mesmo uma festa, naturalmente estamos apontando que também existem festas, locais e ambientes que não são sagrados – nesse caso, chamados de profanos.

Quanto a isso, o filósofo aponta que dentro da condição humana existem duas capacidades: a de sacralizar um espaço ou um momento e a de profaná-lo, ou seja, de torná-lo comum, puramente material. Assim, há quem sinta uma forte ligação com o divino ao celebrar as festividades religiosas como o Natal, o São João e tantas outras festas. Outros indivíduos, porém, percebem e vivem esses momentos apenas como mais um “feriado” ou festa em que poderá se divertir, comprar presentes e estar próximo de quem gosta.

Dessa maneira, algumas festividades que nasceram com o intuito religioso acabaram ganhando outras proporções, tanto que passaram a ser parte do calendário oficial de diversas nações ao redor do mundo. O Natal e o carnaval, por exemplo, são duas festividades que, em grande parte, se tornaram muito maiores do que o seu sentido religioso e hoje em dia são, praticamente, festividades muito mais “públicas” e “mundanas” do que necessariamente religiosas. Trouxemos abaixo algumas outras festividades religiosas que também ganharam essa proporção ao redor do mundo, vamos conhecê-las?

Loy Krathong (Festival das Lanternas) / 23 de Novembro

Vamos começar falando do Loy Krathong, o festival de luzes da Tailândia. Ele é celebrado anualmente em todo país na noite de lua cheia do décimo segundo mês do calendário lunar tradicional tailandês (normalmente coincide com o mês de novembro do nosso calendário). Nesta celebração, a população honra e agradece ao Buda pela vida soltando lanternas de papel no ar e, nos rios, pequenas balsas com velas acesas. Esse ato representa também para cada indivíduo o desprendimento de todos os problemas do passado e a renúncia dos próprios defeitos, a fim de começar uma nova etapa da vida livre de toda a negatividade.

Seu sentido principal está na renovação das pessoas, dos seus sentimentos e pensamentos, marcando assim o fim de um ciclo. Em um ato simples e extremamente simbólico, o festival de luzes se tornou popular e hoje se tornou uma grande festa antes do momento mais esperado, que é o lançamento dos “balões” de luzes no céu. Cada pessoa decora seus balões à sua maneira, apesar da maioria optar pelos tradicionais e simples balões de papel branco.  

Ano Novo Chinês / 16 de Fevereiro (2018)

Como podemos ver, as culturas orientais são riquíssimas, principalmente quando se trata de comemorações. Uma das maiores e talvez a mais famosa delas, é o ano novo chinês. O evento que a cada ano tem uma data diferente por causa do calendário lunisolar, é uma festa familiar de muita alegria. É tradição reunir os parentes para tirar fotos, trocar presentes, doar dinheiro, cantar músicas de ano novo e se vestir bem. Outra particularidade da festa é a de que cada ano é representado por um animal, que seriam os que teriam atendido ao chamado de Buda para uma reunião, sendo eles: rato, búfalo/boi, tigre, coelho, dragão, serpente/cobra, cavalo, carneiro/cabra, macaco, galo, cachorro/cão e javali/porco (2018 é o ano do cão). Celebrar as passagens dos ciclos é uma forma de respeitar e se integrar às leis da natureza, algo precisa terminar para que algo novo se inicie. O ano novo, então, também é uma forma de se desapegar do passado, ter esperança no futuro e ser eternamente grato por tudo que a vida nos trás.

Hajj (Peregrinação à Meca) / 19 a 24 de Agosto

Sem dúvida um dos mais belos eventos religiosos do mundo, o Hajj é a peregrinação que milhões de muçulmanos fazem todos os anos até a cidade de Meca, na Arábia Saudita. No ano de 628 d.C o próprio Maomé fez a peregrinação e levou com ele 1.400 seguidores, mas a origem vem desde muito antes, sendo feita por outros profetas mais antigos. O Hajj, que deve ser feito ao menos uma vez na vida por um muçulmano adulto, é um ritual de desapego, arrependimento e reflexão. Esse evento é um dos cinco pilares da religião islâmica, os outros quatro são o testemunho, a reza, a esmola e o ramadã. A liturgia desta cerimônia é muito longa porém muito bonita, pois inicia com o niyya, que é a manifestação do desejo de efetuar a peregrinação. A decisão de partir em peregrinação não deve prejudicar a vida da pessoa a ponto de ter que contrair dívidas ou ter que negligenciar suas responsabilidades com a família e, acima de tudo, essa deve ser uma expressão do livre-arbítrio do indivíduo. Se não for dessa forma, o Hajj é inválido, pois se entende que a vivência da espiritualidade jamais pode ser forçada, bem como seria incoerente se alguém buscasse a divindade às custas do prejuízo de outros.

Círio de Nossa Senhora de Nazaré / 14 de Outubro (2018)

Pode não ser a data religiosa mais importante para os cristãos, mas o Círio de Nazaré (círio é uma procissão ou festa de romagem a algum santuário), que acontece no estado do Pará, isso mesmo, aqui no Brasil, é a maior romaria do mundo! Inclusive, desde 2013 é considerada pela Unesco um Patrimônio Imaterial da Humanidade. A procissão que só em 2017 reuniu aproximadamente 2 milhões de pessoas de todo o mundo nas ruas de Belém é a maior celebração da fé do povo paraense. Um dos símbolos mais importantes da procissão é a corda: com 400 metros e quase 700kg, antigamente servia para puxar a berlinda com a imagem de Nossa Senhora de Nazaré e tornou-se símbolo de fé aliada ao sacrifício daqueles que vão para pagar promessas. Acima de tudo, a corda representa a união entre todos os romeiros ligados à Maria como um cordão umbilical. Fiéis e promesseiros, jovens e idosos, se espremem para tentar acompanhá-la do início ao fim. Apesar de ser uma procissão católica, evangélicos de outras igrejas de fundamentos cristãos se unem e prestam assistência aos romeiros, seja distribuindo água, ou dando suporte nos primeiros socorros. Quer maior demonstração de amor por Deus que unir povos de diferentes culturas e vertentes religiosas e, ainda assim, conviver em harmonia, respeitando as diferenças? Ao final da celebração todos vão para suas casas almoçar em família com diversos pratos típicos da culinária paraense.

Dia de los Muertos / 02 de Novembro

Embora hoje seja celebrado no mesmo dia que as festividades do Dia de Todos os Santos – da Igreja Católica – o Dia de los Muertos é uma comemoração com mais de 3 mil anos, criada por indígenas da América Central e até hoje é comemorada em países da região, principalmente no México e em alguns estados dos EUA. Os povos antigos acreditavam que nesse dia os mortos teriam permissão divina para visitar parentes e amigos. No dia da festa, reune-se a família, enfeita-se a casa e devem ser preparados os alimentos preferidos dos já falecidos. A festa nos lembra que não devemos ficar tristes por aqueles que já partiram, mas sim comemorar tudo aquilo que nos deixaram de bom e celebrar também a força que, de alguma forma, eles continuam nos transmitindo até hoje.

Vesak / 08 de Abril (2018)

É incrível como os povos antigos tinham uma grande capacidade de entender o real significado da morte e sabiam que apesar do luto, o fim da vida também deve ser comemorado. O Vesak mostra muito bem isso, pois comemora ao mesmo tempo o nascimento, a iluminação e o falecimento do Buda Sidarta Gautama. Neste dia, na lua cheia de maio, os budistas procuram viver de forma mais plena, sendo pessoas melhores e aproveitam para levar alegria aos outros, fazendo visitas a idosos, deficientes e enfermos. Dizem que nesta data o iluminado está mais próximo da Terra, por isso os fiéis aproveitam para reforçar os laços com o Mestre. Eles vão aos templos antes do amanhecer e levam oferendas, tais como flores e velas, que são bastante simbólicas. Assim como a vida humana, essas oferendas tem um curto tempo de vida diante da eternidade. Mas mesmo assim, nesse breve período, uma vida pode ter muito significado se servir para iluminar e embelezar o mundo ao redor. Em outras palavras, o Vesak é uma festividade que, ao celebrar a vida do Buda, serve para que as pessoas possam evoluir e servir melhor à Humanidade.

Festa de São João / 24 de Junho

Por ser uma das festas mais tradicionais aqui no Brasil, principalmente nos estados do nordeste, a Festa de São Jõao parece ser tipicamente brasileira, mas engana-se quem pensa assim. Na verdade, como o Dia de los Muertos, ela tem origem num período anterior ao cristianismo, a diferença é que seu berço foi a Europa e está relacionada com as celebrações de solstício das culturas pré-cristãs. Existe uma questão interessante a se observar: quando no hemisfério norte se celebra o solstício de Inverno, o hemisfério sul está passando pelo solstício de verão, e vice-versa. No Natal, apesar de estarmos iniciando o verão aqui no Brasil, imitamos os europeus e usamos todos os símbolos de inverno, como o pinheiro, a neve e o Papai Noel. Já com as festas juninas brasileiras, os símbolos parecem ser mais coerentes com os ciclos da Natureza, pois, assim como nas antigas tradições, acendem fogueiras, soltam balões, estouram fogos, etc. Sabe por que de tudo isso? O solstício de inverno é a noite mais longa do ano, o Sol demora para ressurgir e isso representa um momento de trevas e dificuldades. Por esse motivo é uma celebração com muitas luzes e sons, estes são como chamados para que o Sol “acorde” e volte a nos iluminar. Lógico que se ninguém fizer nada disso, o astro-rei continuaria a fazer o mesmo percurso no céu. O que verdadeiramente se busca despertar através destes símbolos é o Sol que existe dentro de cada indivíduo, essa fonte de luz e vida que só se expressa para o mundo se estivermos muito conscientes e nos esforçarmos bastante. No Brasil a festa reúne amigos, familiares e até mesmo desconhecidos para dançar quadrilha, comer e se divertir, deixando de lado quaisquer diferenças.

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