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Desenvolvida há dois mil anos, o Cristianismo é a maior religião do mundo, atualmente. De acordo com os últimos números, cerca de 34% da população que se diz crente em alguma religião se identifica como cristãos. No Brasil, como bem sabemos, essa realidade é muito similar, sendo a grande maioria do nosso povo praticante do catolicismo ou do protestantismo, as duas grandes vertentes da doutrina cristã.

Frente a isso, é quase impossível não conhecermos a história de Jesus Cristo e sua importância para o mundo. Não por acaso, nossa própria contagem do tempo está relacionada com a sua vida, sendo demarcado pelos termos “Antes de Cristo – a.C.” e “Depois de Cristo – d.C.”. Acima de sua importância histórica, os ensinamentos que Jesus buscou viver e transmitir aos habitantes da Judeia são exemplos vivos e guiam bilhões de pessoas ao redor do mundo. Lições de Amor, Compreensão, Abnegação e Fé, por exemplo, são recorrentes na Bíblia e em toda trajetória do Messias. 

Porém, como nos conta a história bíblica, Jesus foi capturado pelas autoridades romanas que, na época, governavam a região de Jerusalém e toda a província da Judeia. Incriminado como um subversivo, pregando que não existiam vários deuses, mas apenas um, a sua doutrina foi levada à cruz, na qual ele foi pregado e morto. Esse episódio, porém, é o início da transformação do Messias em um verdadeiro ser Divino, uma vez que seu maior milagre, entre tantos outros realizados, foi o da ressurreição no seu terceiro dia.

Aqui não pretendemos colocar em xeque a validade ou não desse episódio, pois entendemos que seu valor está muito mais no sentido simbólico do que necessariamente no que de fato ocorreu. Considerando seu simbolismo, que é a morte do mundo físico para alcançar a plenitude da vida espiritual, Jesus, ao ressuscitar, teria alcançado o patamar Divino, sendo ele próprio um aspecto da Divindade. Neste sentido, o profeta se tornou o próprio Deus para os seus seguidores. 

É neste contexto em que a nossa indicação de hoje se passa. Estamos falando do filme “Ressurreição”, lançado em 2016 e que conta a história de um soldado romano que precisa encontrar o corpo de Jesus e desmistificar o filho de Deus. O filme faz parte do catálogo da plataforma de streaming Netflix e conta com um elenco de peso, como Joseph Fiennes, Cliff Curtis, Tom Felton, Maria Botto entre tantos outros atores que reconstroem a cidade de Jerusalém, no século I d.C., e os conflitos entre romanos e judeus. 

É importante conhecermos um pouco do contexto histórico em que a narrativa se passa, mesmo que essa seja uma das histórias mais contadas em nossos dias. Lembremos, portanto, da força do Império Romano sobre o seu território, que ocupava três grandes regiões: o norte da África, a Europa e parte do Oriente Médio. Para administrar todas as regiões, com povos distintos e culturas diversas, os romanos levaram as leis e sua administração rigorosa para manter a população local sob controle. Desse modo, as leis eram absolutas e quem atentasse contra elas pagaria um alto preço. Neste cenário de controle social, a região da Judeia, no extremo Oriente do Império, mostrou-se uma das principais áreas de revoltas que precisavam ser contidas pelos imperadores. Foi neste local conturbado socialmente que nasceu Jesus, e que contribuiu ativamente para a construção de uma nova religião, baseada no Amor, na Fé e na Empatia com o próximo. 

Como podemos perceber, a influência do Messias passou a gerar uma instabilidade social, tanto para o governo romano, sob o comando de Pôncio Pilatos, como também  para os patriarcas do judaísmo, que passaram a perder seguidores a partir da revelação de Jesus. Frente a isso, após a morte do Messias e o boato de sua ressurreição, torna-se urgente para os governantes da Judeia que o corpo de Jesus seja achado, pois isso provaria que ele não era um Deus, mas sim mais um mortal. A trama do longa-metragem se desenvolve, portanto, na busca pelo corpo de Jesus para acalmar os seus seguidores e evitar um conflito na província romana.

Ao longo do filme, o centurião, de nome Clavius, passa a ver os sinais de que Jesus realmente tenha ressuscitado e seja, como dito pelos seus seguidores, o filho de Deus. Deixemos claro, de antemão, que o filme é uma narrativa fictícia e que tal perseguição ao corpo de Cristo jamais ocorreu. Ainda assim, o filme nos leva a refletir sobre uma questão mais profunda do que a própria crença ou não na ressurreição, que é a linha tênue entre a fé e o ceticismo.

De acordo com o senso comum, o ceticismo é um modo de vida em que busca basear-se apenas no que pode ser provado. Entretanto, nem mesmo o mais fiel seguidor dessa conduta pode viver sem a fé, que nada mais é do que a capacidade de acreditar em algo que ainda não se pode ver ou provar. O cético, se levar à ferro e fogo suas convicções, poderá concluir que não podemos provar quase nada, uma vez que até os nossos sentidos são falhos e limitados. Neste sentido, terá que admitir que nada sabemos e, portanto, a vida não faria sentido de ser vivida dessa maneira. Por acreditar em algo, mesmo que seja na sua própria forma de descobrir o mundo e suas leis, é que o ceticismo em si não é uma realidade. 

Por outro lado, uma pessoa com fé absoluta também é algo quase impossível de existir, pois teria tanta convicção em suas crenças que nenhuma dúvida lhe passaria pela mente. E como sabemos, quantas dúvidas temos por dia? Inúmeras. Neste sentido, todos nós estamos navegando entre um lado e outro desta corda esticada na existência. Deixemos claro, então, que fé não é apenas uma questão religiosa, mas sim uma forma de condução humana, pois todos nós precisamos acreditar em algo para seguirmos evoluindo. 

Assim, é importante relembrar o sentido da palavra “acreditar”, que nada mais é do que “dar crédito”. Ou seja, dar um voto de confiança, seja em uma doutrina, um estilo de vida ou nas pessoas. Dentro dessa percepção, Clavius, o protagonista do filme, passa a viver nessa dualidade entre o ceticismo e a fé, pois à medida que sua investigação avança, suas convicções ficam menos claras. Com o tempo, após uma série de desventuras e pistas “falsas”, o soldado romano começa a desconfiar que, de fato, é possível que Jesus tenha ressuscitado. 

O filme, apesar da sua roupagem religiosa, acaba nos mostrando uma série de pontos de reflexão sobre como é difícil mudarmos nossa opinião. Quanto mais cristalizadas algumas ideias estão em nossa mente, mais árduo é o processo de colocá-las à prova. Por vezes, nem desejamos pensar sobre determinados assuntos pois sabemos que, uma hora ou outra, precisaremos encarar esse severo juiz que é a nossa consciência. Assim, deixamos nossas crenças estáticas, pois confrontá-las, seja para confirmá-las ou mudar de opinião, é um grande esforço.

Considerando tais perspectivas, indicamos “Ressurreição” como um bom filme para refletirmos. Sua temática religiosa, muito bem exposta, ao longo da narrativa, não diminui sua mensagem, que, acima de qualquer crença, busca atingir o valor humano de sempre buscar a transformação a partir de uma mudança de perspectiva. 

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