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O filme “Queen of the Desert”, nos afirma que sim. Produção americana e estreado no início de 2015, sob a direção de Werner Herzog, o drama biográfico é uma boa oportunidade para conhecer um pouco da Vida de Gertrude Bell. Uma antropóloga e escritora britânica que teve um papel importante na configuração geopolítica das fronteiras entre países como o Iraque e a Jordânia, no contexto da primeira guerra mundial. A sua atuação, protagonismo e articulação política entre os povos árabes foi muito importante para a época, ressaltando a importância do papel político da mulher, num mundo ainda fechado para a participação feminina.

O Drama biográfico foi estreado no Brasil no início de 2018 com o título “Rainha do Deserto”. Em linhas gerais, o filme narra a forte influência e participação de Gertrude Bell, que é interpretada por Nicole Kidman, na criação dos estados da Jordânia e do Iraque. Apesar de ter nascido na Inglaterra, a antropóloga ficou conhecida no mundo inteiro pelos os seus trabalhos no Oriente Médio. Possuidora de uma exímia habilidade diplomática e gozando de uma boa relação com os vários povos árabes, foi convidada a trabalhar como representante do governo britânico na região. É nesse contexto que ela conhece e logo faz amizade com Lawrence da Arábia, interpretado por Robert Pattinson, uma figura que também teve uma forte influência naquele local.

Para alguns críticos, o diretor Werner Herzog fez a opção de apresentar no filme uma versão muito romântica e libertária de Gertrude Bell, privilegiando o seu papel enquanto filha, mulher e amante, em detrimento de seu papel político e histórico. A forma como os fatos foram organizados e encadeados na trama, sugerem ao telespectador a personalidade de uma mulher que varia entre uma menina mimada, que sai da casa de seus pais para explorar o mundo, até uma mulher passional que vive com intensidade suas relações amorosas.

A aposta nessa versão romanceada, rendeu a Herzog algumas críticas não só de críticos de cinema, mas de vários estudiosos que acreditam que a contribuição de Gertrude Bell para a comunidade internacional foi de suma importância no início do século XX. E, minimizar esse papel não seria justo com quem dedicou a Vida a um trabalho que foi fundamental para as várias culturas do mundo árabe. O estudo e atuação desta grande mulher contribuiu muito para a desconstrução de certos preconceitos que a Europa insistia em ter em relação àqueles povos.

Mesmo levando em considerando todas as críticas feitas ao filme, ainda assim podemos aproveitar esta grande obra do diretor Werner Herzog, pois ela nos coloca em contato com este brilhante personagem histórico que foi Gertrude Bell.

Ainda hoje, pouco se sabe sobre as culturas que coexistem no Oriente Médio, e sobre as suas complexas relações geopolíticas. Conhecer Gertrude Bell, e o seu papel nessas culturas, pode nos ajudar a compreender um pouco melhor a realidade desses povos e os conflitos políticos que perduram até hoje.

Segundo alguns biógrafos, desde cedo Gertrude decidiu questionar os limites que se impunham às mulheres do seu tempo. Nunca lhe bastou fazer sempre a mesma coisa, nem ficar muito tempo no mesmo lugar. Foi uma das primeiras mulheres a se formar em História pela Universidade de Oxford, e provavelmente foi lá onde os seus interesses pelo Oriente Médio surgiram. O professor de Arqueologia da Universidade de Newcastle, Mark Jackson, que é responsável pelo arquivo fotográfico de Gertrude, em uma de suas entrevistas ao jornal Evening Gazette, afirma que “ela era uma mulher forte e determinada que nasceu para influenciar o mundo”.

Ela viajou o mundo inteiro, e para isso teve que enfrentar diversos preconceitos da sociedade de sua época. No Oriente Médio dedicou-se ao estudo de línguas nativas, conheceu a Síria, Palestina, Jerusalém, Bagdad e Damasco. Em 1915, devido ao seu conhecimento da região, foi convidada pelo governo britânico para trabalhar no departamento de assuntos árabes e se tornou a primeira mulher com funções políticas entre os militares ingleses. Possuidora de um carisma e simpatia invejáveis, Gertrude foi capaz de conquistar os sheiks mais violentos da região e apaziguar os beduínos mais sanguinários do deserto. A convite de Churchill, o então secretário das colônias inglesas, em 1921 fez parte do grupo que decidiria o futuro da Mesopotâmia, região onde hoje fica o Iraque, parte da Síria e parte do Irã. A sua influência foi decisiva na definição das fronteiras do Iraque e na escolha do seu governante.

Christopher Hitchens, na revista norte-americana The Atlantic, na edição de Junho de 2007, escreve um artigo sobre a antropóloga, que tem como título: “Gertrude Bell: Queen of the Desert, Shaper of Nations”. Neste artigo, ele comenta: “Bell fez de Bagdad a sua casa, contribuiu para organizar eleições e ajudou a escrever uma constituição para o país, desenhou umas fronteiras um tanto quanto vacilantes com a Arábia Saudita e o Kuwait, fundou o Museu Nacional do Iraque e […] também acompanhou e persuadiu o rei Faisal, que fundou uma monarquia constitucional que durou de 1921 a 1958, algo impressionante para os padrões da região.”

Acredita-se ainda, que todo o seu trabalho e dedicação na região se deu porque ela estava determinada a combater todos os políticos ingleses que se referiam aos árabes como “animais” e que buscavam influenciar os líderes desses povos para dominar a região. Como mulher, provavelmente ela também sofreu preconceito parecido, talvez isso deva ter inspirado nela uma necessidade de enfrentar todo tipo de discriminação injusta. Como conhecedora da estratégia diplomática britânica e estudiosa da cultura local, sabia que, ao menos em parte, poderia lutar pelos povos e intervir em nome dos árabes, povo que escolheu como sua família e pelo qual dedicou-se durante anos de sua Vida.

Assim, mesmo que por vezes o filme se foque apenas em aspectos superficiais da Vida desta grande dama, vale a pena conhecer a sua história e se inspirar com a força desta mulher, que sempre se guiou por um espírito de investigação, por um Amor pela cultura árabe, por um forte senso de Justiça e cujo protagonismo político foi decisivo para a História.

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