O amor sempre foi uma fonte de inspiração humana. Graças a essa força misteriosa que tende a unir todos os seres vivos, fomos capazes de desenvolver arte, ciência, filosofia e criar conexões humanas tão reais que o próprio tempo não foi capaz de destruí-la. Assim, não é exagero falar que na causa de todas as nossas descobertas e avanços está um profundo sentimento de busca e construção de maior entendimento sobre o que não podemos ver, tocar ou perceber através dos nossos sentidos.
Como expressão dessa vida invisível, a arte talvez seja o canal mais direto que usamos para expressar tais sentimentos. Por exemplo, ouvimos músicas que, mesmo sem dizer uma palavra, nos tocam profundamente e nos remetem a uma experiência, uma lembrança ou mesmo o desejo de viver algo que ainda não possuímos. Essa sutileza só pode ser alcançada quando o artista expressa por meio de sua obra esse sentimento.
É possível que ninguém tenha feito essa ponte de maneira tão perfeita quanto Ludwig Van Beethoven. Nascido em 1770, na atual Alemanha, esse grande músico marcou a história com suas composições, criando um novo estilo de música erudita e impactando ainda hoje milhões de pessoas. Porém, o público geral pouco conhece sua vida pessoal, seus desafios enquanto ser humano, e se viveu grandes ou pequenos amores.

Saber um pouco dos bastidores de uma grande obra, da trajetória de um artista é parte fundamental para entender sua obra. Por isso, recomendamos hoje o filme “Minha Amada Imortal”, que foi produzido em 1994 e se debruça sobre a vida pessoal de Beethoven. Já adiantamos que este é um belíssimo filme, sensível e, ao mesmo tempo, reflexivo.
Quem foi a Amada Imortal?
No filme, após a morte de Beethoven, um de seus amigos, Anton Schindler, encontra em meio aos seus pertences um testamento entregando tudo à uma pessoa que é chamada somente de Amada Imortal. Sem saber quem é a amada, Schindler sai à sua procura. Ao longo dessa busca, o filme nos leva à descoberta de vários momentos da Vida deste grande gênio da música, que finalizou sua maior obra, uma das maiores sinfonias do mundo, completamente surdo.
Enquanto percorre os caminhos do passado de Beethoven, ou seja, suas paixões, suas perdas, seus conflitos familiares e sua dolorosa luta contra a surdez, o filme nos mostra muito mais do que apenas cenas de uma vida comum. O longa revela, na verdade, o retrato de um homem complexo: um gênio musical, profundamente humano, porém atormentado por sua enfermidade e vulnerável por não poder estar com sua amada.
Vale destacar que até hoje não se sabe de fato quem foi sua Amada Imortal. Essa mulher misteriosa e que foi preservada nos escritos de Beethoven seguiu anônima pela vida; porém, cumpriu um papel inspirador como musa desse grande artista. Mesmo após séculos de sua partida, alguns historiadores tentam rever a trajetória de Beethoven para encontrar a Amada Imortal. Alguns afirmam que não tem como saber, ou seja, que essa informação se perdeu nas areias do passado; outros, entretanto, mais ousados, sugerem nomes de mulheres que eram próximas dele, com quem ele trocava cartas, mas não há consenso sobre a misteriosa dama que inspirou este gênio da música.
Apesar de não sabermos quem foi a Amada Imortal em vida, é fato que o músico estava perdidamente apaixonado por essa pessoa. Em uma de suas cartas, Beethoven escreveu:
“Meu anjo, meu tudo, meu próprio Ser! Podemos mudar o fato de que és inteiramente minha e eu inteiramente teu? Fica calma, que só contemplando nossa existência com olhos atentos e tranquilos podemos atingir nosso objetivo de viver juntos. Continua a me amar, não duvide nunca do fidelíssimo coração de teu amado L., eternamente teu, eternamente minha, eternamente nossos.”
Como podemos compreender, é muito provável que esse romance fosse impossível, visto que apenas a troca de olhares entre os dois era o ápice dessa relação, como consta no fragmento. Assim, até para preservar a segurança de sua própria amada, seu nome não foi escrito nas cartas.
A grande Amada: a música!
É fato que houve uma dama que inspirou Beethoven e o fez sentir o amor. Entretanto, podemos apontá-la como a única música do artista? É evidente que não. Um antigo músico uma vez comentou que quem se casa com um amante da arte musical sempre terá uma rival: a própria música.
Dito isso, não podemos esquecer que a grande realização da vida de Beethoven foi a música que, mesmo nos seus piores momentos, nunca o abandonou. Isso fica claro quando conhecemos sua biografia, pois ao chegar próximo do fim, o músico estava surdo, com poucos recursos e quase ninguém ao seu lado. Uma situação terrível para muitos e, sem dúvida, nada confortável para o artista. Ainda assim, foi capaz de produzir, nas condições adversas em que se encontrava, uma das pérolas de sua extensa obra.
Visto isso, é possível afirmar que a Amada Imortal foi sua única fonte de inspiração? Onde mais este gênio se inspirava? A única conclusão a que podemos chegar, ao conhecer sua vida e obra, é que a música para ele era muito mais do que sons: era composta de ideias. Afinal, como se compõe uma obra-prima musical sem escutá-la?

Talvez Beethoven, muito mais do que escutar os sons, conseguisse enxergar as ideias. De alguma forma ele “via” as ideias da Beleza, da Ordem, da Harmonia Perfeita, e a forma que ele conseguia expressá-las era através da composição, dos arranjos musicais. Quem não se sente profundamente tocado e inspirado ao ouvir a sua 9ª sinfonia? O efeito que ela causa em nossas mentes e corações é muito maior do que o efeito de uma música comum, é o mesmo efeito que as ideias causam quando a mente consegue acessá-las.

Assim como Sócrates, que mesmo sem ter muito estudo, se tornou o mais sábio da Grécia; como Mozart, que começou a compor músicas antes de aprender a ler; e como Michelângelo, que disse que ao fazer Davi só fez tirar os excessos do mármore, Beethoven entrou na lista desses grandes personagens, que saíram de uma esfera comum e acessaram uma esfera maior, o Mundo das Ideias. É por isso que as obras de todos eles se eternizaram na História, e mesmo passando os séculos, continuam como referência para todas as áreas de estudos.

Talvez seja esta a Amada Imortal de Beethoven. Será por isso que nunca encontraram ela? Seria ela a própria Beleza, ou seja, esse Ideal que nunca morre, que é Imortal, e que por ele era tão amada, que o inspirava em suas obras, que fez parte de toda a sua história, e por isso, no fim de sua vida, ele dedica tudo a ela?
Como nós não conseguimos ver esse ideal de Beleza Imortal que o inspirou, pelo menos apreciamos sua obra tentando absorver ao máximo a Harmonia das notas. Não deixe de ver o filme, escutar algumas de suas músicas e se Inspirar!
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