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 Curta “O Dia dos Mortos”: Uma Reflexão sobre a Eternidade

Quantas vezes já ouvimos conversas, histórias, e lemos livros e reflexões sobre a morte? Por mais que falemos do assunto durante nossa vida, a morte nunca deixa de ser um grande mistério para todos nós. Porém, às vezes sendo retratada de forma leve, conseguimos compreender melhor alguns aspectos da realidade. Por isso hoje trazemos a dica de curta: “O Dia dos Mortos.”

Através do premiado curta-metragem de animação, de Ashley Graham, Kate Reynolds e Lindsey St. Pierre, podemos compreender que a morte, mesmo sendo um tema que a maioria de nós considera triste, pesado, ou até mesmo tenebroso, é inevitável e faz parte do ciclo natural da vida e de seus mistérios.  A produção conta a história de uma jovem que descobre que sobre a morte não há o que temer, ou com o que se entristecer. Pois todos aqueles que foram levados por “ela” continuam vivos em nossas memórias e em nossos corações.                          

Nesse curta, veremos a jovem que perde a sua querida mãe para a implacável e misteriosa morte, e que, no tradicional “Dia dos Mortos” Mexicano, enquanto ela está triste e sofrendo com a ausência de sua saudosa mãezinha, e enquanto presta as suas sinceras homenagens junto a seu túmulo, descobre que “do outro lado da vida” está acontecendo uma grande festa que celebra a eternidade. Com essa descoberta, ela pode seguir feliz e em paz pelos seus caminhos com a certeza de que a vida continua.

O “Dia de Finados” no Brasil acontece no dia 2 de novembro, porém é celebrado em todas as partes do mundo. Nos países latino-americanos católicos, esta tradição mobiliza milhões de pessoas motivadas pelas suas crenças, religiões, ou mesmo por suas superstições. O grande número de latino-americanos e seus descendentes residentes nos Estados Unidos faz com que essa tradição seja celebrada também naquele país. Mas é o México, sem sombra de dúvidas, o país onde o “Dia de Finados” se celebra de forma única, com força e tradição cultural, onde os sentimentos e rituais trazidos por essa data estão mais presentes na vida de todo o povo.   

Os mexicanos têm uma relação com a ideia da morte que para nós pode parecer no mínimo estranha. Para a nossa cultura, do nosso ponto de vista, reverenciar a morte parece ser algo bizarro. Mas, se fizermos uma pequena pesquisa, encontraremos fontes que podem nos revelar que várias sociedades e culturas ao redor do mundo encaram a morte com uma inacreditável tranquilidade. O que, para leigos sobre a tradição, pode parecer frieza e até falta de respeito. Apesar disso, o fato é que muitos povos promovem dias de festas para homenagear os seus entes falecidos. Algumas sociedades chegam a manter os cadáveres de seus parentes em suas casas por longos períodos (meses), até que se cumpram todos os rituais necessários para o sepultamento. E mesmo depois de concluídos todos os rituais fúnebres, a reverência para com os mortos continua.

Para a Cultura Mexicana, cuja tradição sobre a morte tem origem na civilização Asteca, na morte há a relação de honra, respeito e reverência para com os seus antepassados. Esta tradição resiste até os dias atuais e ganha cada vez mais força junto aos descendentes daquele povo. No México Pré-Colombiano, durante todo o mês de outubro, os Astecas promoviam um verdadeiro festival dedicado aos seus mortos. Eles construíam altares para fazer oferendas e acendiam velas em honra à memória dos seus entes falecidos. Vestiam-se com roupas coloridas e usavam uma maquiagem especial para a ocasião. Música, dança, todas as formas de manifestações artísticas faziam parte dos “festejos”. Tudo isso para tentar agradar aos que já haviam partido da vida no plano material. De acordo com a tradição, aquela época do ano era o período perfeito e apropriado para que os “mortos” pudessem voltar à Terra e receber os presentes que lhes eram oferecidos. Vale acrescentar que aquela era uma civilização original, que até então não havia sofrido nenhum tipo de interferência ou influência de nenhuma cultura externa. Mas, a partir do final do século XV, com a chegada dos espanhóis, a cultura asteca começou a ser “contaminada”. O festival dedicado aos mortos, que durava um mês inteiro, foi reduzido a apenas dois dias de celebrações. A Igreja Católica, trazida pelos colonizadores, fez com que os costumes e rituais dos Astecas passassem a ser celebrados apenas nos dias 1 e 2 de novembro, Dia de Todos os Santos e Dia de Finados respectivamente.        

A tentativa de catequizar o povo Asteca funcionou, mas apenas em partes. A importância desta tradição era tão grande para eles, que a Deusa-Mãe Coatlicue — Deusa Asteca da Vida e da Morte, que era reverenciada nos seus festivais — foi com o tempo sincretizada com a Nossa Senhora de Guadalupe, atual padroeira do México, como uma forma de disfarçar os rituais e não deixar morrer a tradição ancestral.  A fusão entre a divindade Asteca e a Santa Católica deu origem à Santa Muerte. A ela são atribuídos inúmeros milagres e graças alcançadas por parte de seus devotos. Uma curiosidade interessante é que o aspecto sombrio e tenebroso da imagem da Santa Muerte, representada por uma caveira, fez com que ela fosse “eleita” a padroeira dos criminosos, das prostitutas, das pessoas de poucas posses e dos residentes em áreas pobres e violentas — daquele que é o único país latino localizado no norte do continente americano. Em outras palavras, para os mexicanos, a Santa Muerte é oficialmente a padroeira dos excluídos e marginalizados.

Na atualidade, a globalização e seus efeitos conseguiram acrescentar mais um dia de festa às celebrações que os mexicanos mantêm e dedicam aos seus Finados. O famoso Halloween, que acontece no dia 31 de outubro, e que a partir dos Estados Unidos se tornou conhecido e passou a ser comemorado também no restante do mundo, agora também faz parte dos festejos que são dedicados aos mortos no México. Depois de sofrer tantas influências e passar por tantas adaptações, a antiga tradição mexicana hoje em dia acontece nos dias 31 de outubro, 1 e 2 de novembro, e se transformou em um verdadeiro festival dedicado à memória dos mortos. Com certeza muita gente deve participar dessas celebrações com a única intenção de encontrar entretenimento e diversão; provavelmente não tem o menor conhecimento de suas origens ou propósitos, mas culturalmente falando, o que importa é o seu sentido. É uma lembrança ao homem de sua própria mortalidade, uma reflexão sobre o que é eterno. 

O mais importante que podemos observar, oriundos desses costumes, é, sem sombra de dúvidas, a força de uma tradição ancestral e o simbolismo nela contido. Se não houvesse um sentido maior por trás desses acontecimentos que vem se repetindo por séculos, com certeza eles já teriam se perdido através do tempo, principalmente depois de terem sido contaminados e até mesmo combatidos tão fortemente por outras Culturas. Sem falar que a identidade de um povo está presente e é representada pelas suas crenças e seus costumes, e isso é praticamente impossível de se apagar da memória de seus descendentes. Símbolos e tradições não são apenas parte de uma herança cultural, mas também demonstram e representam o que aquele povo acredita, e o que ele de fato é.         

O que podemos aprender com esse curta-metragem, que nos mostra costumes que para nós parecem ser tão estranhos ou mesmo tão extremos? Aprendemos que, desde as mais antigas civilizações, homens de todos os tempos sempre tiveram a certeza de que a morte é natural e de que, quando se está com a consciência tranquila, não há o que se temer em relação a ela. Fica claro que o nosso grande temor, na verdade, não é com o fenômeno da morte física em si, mas sim com o que nos espera “do outro lado”.                                                                               

Assim como os mexicanos, não são poucos os povos que sempre souberam que a vida é um ato contínuo e que está sempre se manifestando de todas as formas. Sabendo disso, nós, assim como eles, devemos celebrar a vida. Devemos aproveitá-la em cada detalhe. Todas as nossas experiências, os nossos ganhos e as nossas perdas são antes de tudo o que formam as estruturas que alicerçam o nosso Ser, intelectual e moralmente. Assim, aprendemos que aqueles que já partiram para outro plano de existência continuam ligados a nós, pelos laços e vínculos que desenvolvemos juntos enquanto tivemos a oportunidade de conviver “por aqui”. Além disso, aprendemos que a imortalidade está em nós, nos nossos sentimentos, nas nossas lembranças, nas nossas emoções e intenções.  

Tudo aquilo que o homem pode alcançar com o seu pensamento em algum momento irá se manifestar, ou já esteve manifestado em sua vida. De acordo com o Imperador e Filósofo romano Marco Aurélio: “Nada acontece ao Homem que não seja próprio do Homem”. Logo, se somos capazes de imaginar que a morte como a conhecemos — ou como acreditamos que ela seja — não existe, é porque de alguma maneira nós sabemos disso. Esses mistérios que envolvem a história da humanidade ainda podem demorar muito tempo para serem desvendados, mas no fundo dos nossos “Eus”, sabemos que a eternidade existe.                                                                                                              

Por isso, é importante celebrar o Dia da Morte, o Dia dos Mortos, o Dia de Finados (como quiser chamar). Portanto, ao lembrar dos que já foram, reforçamos os laços invisíveis do amor, que não se perdem com o tempo, e com isso, vemos um relance da eternidade.   

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