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Curta “Partly Cloudy”: Você Enxerga o Diferente?

A animação Partly Cloudy – parcialmente nublado – escrita e dirigida por Peter Sohn, em 2009, brinca um pouco com as duas faces da realidade que nos hospeda e o faz de maneira tão sutil e tão graciosa que, de início, nem dá para perceber a profundidade filosófica subjacente. No entanto, aos poucos a historinha vai deixando sua mensagem.

Você já observou que há uma dualidade em todas as coisas? Numa floresta, tem árvores altas e outras rasteiras; no planeta, tem regiões frias, geladas, como a Rússia e tem lugares muito quentes como os sertões brasileiros; no oceano, tem regiões muito profundas, algumas até escondem navios inteiros naufragados há centenas de anos, mas tem lugares que mal cobrem os nossos tornozelos; tem o movimento e tem o repouso; tem o dócil e tem o agressivo, e assim sucessivamente. Imagine um dia ensolarado, quente, perfeito para uma praia. Agora lembre-se que nem sempre é assim, não é mesmo? Pois o inverno chega e nele os dias são cinzentos, as ruas ficam alagadas, surge uma série de transtornos, chegamos atrasados no trabalho ou na faculdade, ficamos gripados e, às vezes somos obrigados a ficar confinados em casa, mesmo tendo uma enorme quantidade de compromissos. Imagine um gatinho dócil, fofinho, agora imagine um animal selvagem, um tigre ou um leão, belos, mas selvagens e perigosos. Essas polaridades demonstram que a realidade toda é feita de coisas opostas.

O filme de Peter Sohn começa mostrando nuvens claras, ensolaradas, dóceis, criando bebês de gatinhos fofinhos e entregando-os a cegonhas, as quais transportam no bico até os futuros pais, mas, em dado momento, a animação troca de cenário e aparece a nuvem Gus, que é uma nuvenzinha cinzenta que, diferente das outras nuvens claras, cria animais nada dóceis, como jacarés, tubarões, etc. E a cegonha Peck é encarregada de transportar também os animais criados por Gus, e aí começa o seu sofrimento.

Nesse enredo, a nuvem Gus representa o lado adverso, aquele que não desejamos, mas que acontece. Como o dia de chuva em contrário ao dia de sol; a reprovação no exame em contrário à aprovação; a doença em contrário à saúde, etc. Já a cegonha Peck é a representação de todos nós. Somos como Peck, sofremos com a adversidade em tudo que fazemos. Todas as nossas ações sofrerão resistência, isso é uma lei da natureza, não é possível alterar isso. Se você planejar acordar amanhã bem cedo para caminhar no parque, terá uma série de resistências a isso, o corpo vai querer ficar mais um pouco na cama, a mente vai começar a elaborar desculpas para adiar, etc. Esse é o lado Gus da vida.

No entanto, a adversidade é tão necessária à existência quanto os jacarés e tubarões são necessários ao esquema da natureza. Imagine se todos os animais que existem fossem somente gatinhos dóceis? Isso causaria um enorme desequilíbrio ecológico. Os tubarões têm mais de 450 milhões de anos de existência. Por que esses seres estão a tanto tempo na natureza? Porque eles são extremamente importantes para o equilíbrio da vida nos oceanos, eles são predadores de espécies cuja proliferação causaria o desaparecimento de diversos tipos de peixes. Os jacarés também são extremamente necessários à vida humana, eles se alimentam de moluscos que são hospedeiros de doenças perigosas aos homens, seu desaparecimento poderia levar ao desaparecimento da vida humana.

A historinha de Peter Sohn, aparentemente tão ingênua, retoma um aspecto muito profundo da filosofia antiga: a ideia de harmonia entre os contrários. A cegonha Peck dá um jeito de atender à nuvem Gus, pois precisa trazer à vida não somente gatinhos dóceis, mas jacarés e tubarões, mesmo sendo tão sofrível fazê-lo. Os filósofos antigos chamavam isso de “a lei secreta do mundo”, em que os opostos são interdependentes, embora estejam em constante tensão. Assim, o dia só existe por causa da noite; o descanso, por causa do cansaço; o prazer, por causa da dor; o frio, por causa do quente; o baixo, por causa do alto, de tal modo que nada existiria se não existisse o seu contrário.

Quando começamos a lançar luz sobre isso, a adversidade, o trabalho, a beleza e o sofrimento começam a ganhar outra cara. A beleza é decorrência do que é útil. A nuvem Gus é belíssima, pois faz o trabalho mais necessário que é o de trazer à vida seres que estão no topo da cadeia alimentar e que são imprescindíveis ao equilíbrio ecológico. O trabalho da cegonha Peck tem um valor enorme, mesmo não trazendo conforto e nem sendo tão apreciável, isso nos ensina que o trabalho tem valor não pelo que nos gera de sentimentos, mas pela sua necessidade. Adversidade é geradora da realidade, pois nada existe sem que haja tensão.

Para nós, essa animação nos deixa a lição de olharmos a adversidade de uma forma diferente. Ao invés de sempre fugir dela, buscando o caminho mais fácil, devemos encontrar a melhor forma de encará-la, sempre que necessário. E, por que não, aprender a enxergar o bem e as belezas que ficam escondidas por suas nuvens escuras?

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