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Todas as nossas certezas podem ser comprovadas cientificamente? 

“O ser humano está destinado a saber”. Essa é uma frase escrita há mais de dois mil anos pelo filósofo grego Aristóteles. Em seu discurso, o tutor de “Alexandre, o Grande” nos ensina que todos nós, desde que começamos a respirar, passamos a buscar o conhecimento. Ele nos explica, por exemplo, que o saber evolui a partir de graus e que, quanto mais subimos nesses níveis de conhecimento, mais profunda é nossa relação com o saber. No ponto mais elevado destes graus, está a sabedoria, a finalidade de todo filósofo que busca alcançar a verdade. E quais os meios que hoje utilizamos para acessar o conhecimento?

Fonte: Freepik.com

É indiscutível que nos dias atuais a ciência é o grande motor do saber da humanidade. Seu método de investigação tem se aprimorado graças ao rápido desenvolvimento tecnológico que enxergamos nos últimos 300 anos, sendo, ao mesmo tempo, a causa e o efeito desse avanço civilizatório. Se antes as explicações sobre o mundo, o Universo e suas leis operavam apenas ao nível simbólico e abstrato, fruto apenas das especulações e desenvolvimento das ideias, o empirismo científico colocou à prova muitos dos valores e dogmas do passado. Frente a isso, se na antiguidade poderia-se se poderia pensar que a causa dos trovões e relâmpagos era a fúria de um deus, assim como as tempestades em alto mar, hoje é perfeitamente explicável os fenômenos meteorológicos através de estudos da atmosfera e formação das tempestades. 

Nesse novo modelo de investigação o Ser Humano acabou desmistificando o mundo ao seu redor e tornou-se, como a definição renascentista nos diz, a medida de todas as coisas. Assim, alguns dos mistérios da natureza começaram, aos poucos, a serem desvendados e sentimos que a cada ano, a cada nova publicação científica, chegamos mais próximos da verdade, correto?

Há, entretanto, alguns problemas quando nos deparamos com essa percepção do mundo científico. A primeira delas é que a própria ciência é limitada frente ao Universo como um todo. Sabendo de sua limitação, uma das bases científicas se sustenta no princípio do ônus da prova, ou seja, para que qualquer nova teoria ganhe espaço e notoriedade é preciso que ela seja provada, ou que apresente provas mais consistentes do que a teoria anterior. Por meio desse mecanismo, podemos garantir que a ciência está sempre evoluindo, pois modelos explicativos “superiores”, ou pelo menos definidos de forma melhor, substituem os anteriores, garantindo uma progressão do conhecimento. Ao mesmo tempo, toda teoria científica também deve ter como princípio a possibilidade de ser questionada, criticada e repensada, visto que ainda não é um modelo perfeito.

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O que essas duas ideias significam para nós? A rigor, nem a própria ciência está encerrada em si mesma, ou seja, as teorias mais avançadas que possuímos hoje em dia não são vistas como verdades absolutas, pois, se assim o fosse, não existiria mais o progresso científico uma vez que já viveríamos aquela verdade por excelência. Assim, podemos entender que a própria ciência não acredita – ou pelo menos não se propõe – a se fechar em uma única direção. Seus próprios princípios não permitem que a verdade, em seu mais alto grau, seja colocada em uma caixa e que nada mais possa ser acrescentado  a ela. 

Dito isso, por que então buscamos, quase a todo momento, defender nossas próprias verdades de maneira dogmática? Por que é preciso que tenhamos, em algum grau, certeza daquilo que entendemos como uma verdade? Muitas vezes, para sustentar estas verdades, usamos a própria ciência como um balizador de nossas opiniões. Mas será que é possível desejarmos uma verdade absoluta e, ao mesmo tempo, estarmos ao lado da ciência? Esses são questionamentos que valem a pena refletir. Comecemos então entendendo cada um deles. 

Sobre a necessidade de termos certezas na vida, parece-nos que elas são, de fato, fundamentais. Não estamos falando necessariamente de termos plena convicção de todas as leis da natureza ou de como o Universo foi criado, mas de verdades básicas que estruturam nossa vida cotidiana. É fundamental termos certeza, por exemplo, que todos os dias vamos acordar e viver um novo ciclo diário, ou não? Graças a essa “certeza”, programamos nossa rotina, fazemos as atividades programadas para o dia e podemos tornar funcional nossa vida diária, não é? Do mesmo modo, é interessante que possamos caminhar sob uma base sólida de convicções, pois elas estruturam não somente os nossos pensamentos e sentimentos, mas nossa própria maneira de enxergar a vida.

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O problema se dá quando nos fechamos em nosso pensamento e não permitimos que outras ideias entrem em nossa vida. É comum pensarmos que essa mentalidade não é própria de uma mente científica, de alguém que busca se embasar pela ciência, entretanto, nos dias atuais cada vez mais é perceptível um “dogmatismo científico”, em que se acredita que somente a ciência pode nos dar respostas sobre o mundo e, uma vez que ela não tenha provado alguma ideia ou fenômeno da natureza, este não pode existir. Essa postura, além de contradizer os próprios princípios da ciência, vai de encontro com a maior de nossas qualidades humanas que é a de conseguir investigar o universo ao nosso redor. Se nos limitarmos a pensar de modo que só podemos acreditar no que é cientificamente provado sem nos permitirnos permitirmos refletir e considerar novas possibilidades, encerramos nossa experiência em busca do saber que Aristóteles tanto defendeu em sua existência.

Deve-se lembrar de algumas ideias fundamentais quando falamos de ciência e da busca desta verdade absoluta. Uma delas é atribuída a Isaac Newton, um dos mais brilhantes matemáticos que nossa humanidade produziu. Quando perguntado sobre a natureza do conhecimento humano, Newton teria dito que o que sabemos é somente uma gota quando comparado ao oceano de perguntas que se pode existir. A poética frase, além de expressar a beleza e a dificuldade da construção do saber, nos revela que até mesmo nossas mais brilhantes ideias ainda se mostram distantes da Verdade Universal. Por conta disso, é preciso entendermos que a ciência, assim como a religião, a arte e outras formas do saber, é uma ferramenta para se enxergar um pouco além do que nossos olhos conseguem ver. São lentes especiais que permitem ao Ser Humano transpassar seus sentidos e usar a razão para adentrar essa nova dimensão do saber, que entre todos os seres vivos conhecidos só a nós foi permitido utilizar tais instrumentos.

Nesse sentido, acreditar na ciência é antes de tudo um ato de fé não no sentido religioso, mas sim no de compreender que essa ferramenta pode nos levar muito longe e que através dela poderemos ser capazes de desvendar grandes segredos do Cosmos; mas que, ainda assim, não poderemos adentrar ao reino da Verdade somente por seu método científico. Apesar disso, não podemos nos permitir pensar que o fato da ciência não conseguir acessar ou comprovar certas ideias não as diminui, mas sim prova-se como uma limitação do método que, como fruto de seres limitados como nós, também são igualmente limitados.

Um exemplo disso são as ideias que os filósofos chamam de metafísica, um campo da filosofia que se preocupa com as causas primeiras, o que se esconde por trás da materialidade do Universo. Altamente profundo e acessado através da reflexão, os temas metafísicos não podem ser alcançados pela ciência, uma vez que o método científico não tem, de forma objetiva, como alcançar a Deus e seus mistérios. Nesse sentido, uma pessoa que se fecha em dogmas científicos se limita a entender a vida somente através desse ponto de vista e não se permite investigar, mesmo que de forma especulativa, sobre uma realidade interna, capaz de gerar novas percepções do mundo. 

Sendo assim, é preciso estarmos atentos para que não caiamos nesses problemas. Deve-se buscar sempre razões sólidas que estruturem nossos pensamentos e convicções, mas não ao ponto de nos tornarmos intransigentes com o pensamento alheio, muito menos de considerarmos que assuntos que não podem ser empiricamente comprovados não possuem valor. Lembremos, enfim, de uma das maiores pérolas de sabedoria proferida por Sócrates: “só sei que nada sei.” Se aceitarmos esse fato, poderemos, a todo momento, aprender e nos aperfeiçoar. Portanto, continuemos na busca pela sabedoria, pois, como Aristóteles aponta, esse é o nosso destino.

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