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Os Vícios: Somos Livres para Decidir o que Queremos Viver?

Você tem algum vício? Provavelmente sim, mesmo que seja considerado “inofensivo” e comum. Nos dias atuais associamos a palavra “vício” ao uso abusivo de drogas e substâncias ilícitas. Entretanto, não estamos falando somente desse contexto.  Na verdade, queremos ampliar a discussão e entender, de maneira geral, como se instala um vício em nossas vidas e o que podemos fazer para nos livrarmos dele.

A grosso modo, caracteriza-se como vício algum hábito que fazemos recorrentemente em busca de prazer. Quando passamos muito tempo em frente à TV ou jogando videogames, por exemplo, estamos alimentando hábitos que podem se tornar vícios. O vício, portanto, está associado não apenas ao uso de substâncias químicas, mas relaciona-se com toda a ação que fazemos de maneira compulsiva e que não conseguimos exercer controle sobre ela. Em resumo, gostamos tanto de realizar essas tarefas que acabamos por deixar que elas conduzam nossas vidas.

Em muitos casos, o vício passa a ser o centro da nossa rotina e fazemos de tudo para viver cada vez mais esses momentos. Podemos imaginar, por exemplo, uma pessoa que se esforça no trabalho somente para ter dinheiro e gastá-lo comprando jogos. Da mesma maneira, se passamos o dia inteiro esperando pelo momento de assistir a um programa de TV, ou se ignoramos nossas responsabilidades para assistir uma série que prendeu nossa atenção, podemos  identificar a instalação de um vício, uma vez que deixamos nossa vida girar em torno disso. Após essas considerações, podemos nos perguntar: será que temos domínio sobre o que gostamos ou, no fim das contas, são nossos desejos mais profundos que conduzem nossas ações?

Para responder essa pergunta, devemos compreender, antes, o que gera os nossos desejos. A nível fisiológico, existe um neurotransmissor que é responsável, entre outras funções, por nos fazer sentir prazer: a dopamina. Ela está presente em diferentes partes do nosso cérebro e atua principalmente através do sistema de recompensas. Em linhas gerais, esse sistema funciona da seguinte maneira: quando estamos com sede e tomamos um copo d’água, sentimos naturalmente um alívio e também um prazer por realizar isso. Quando “matamos nossa sede” o sistema de recompensa atua. A dopamina gera a sensação de prazer e entendemos, a partir desse comando, que tomar água quando estamos com sede é bom e prazeroso. Desse modo, o prazer ajuda a realizarmos ações que nos mantêm vivos e que são necessidades básicas do nosso corpo.

Por outro lado, por vezes a dopamina pode ser estimulada a partir de outros fatores. O uso de drogas é um desses casos. Em grande parte, o efeito dessas substâncias altera a dopamina, gerando um prazer prolongado e a sensação de bem-estar. Como a sensação causada é prazerosa, passamos a querer repeti-la. Quando se estabelece, portanto, uma dependência, é porque nosso corpo ficou condicionado a ter aquela sensação, fruto do estímulo. O poder das drogas, nesse caso, é nocivo por alterar diretamente a dopamina, por isso tende a ser altamente viciante. A ação da dopamina em nosso cérebro, entretanto, não se limita ao sistema de recompensa. O neurotransmissor também altera o nosso humor, a nossa atenção e, principalmente, as nossas emoções. Quem de nós não fica alegre, por exemplo, ao sentir o gosto da comida favorita? Ou quando pratica um esporte que adora? Esse tipo de atividade também ativa a dopamina e, como consequência, sentimo-nos bem. 

O problema nasce quando nos tornamos dependentes dessas sensações. A partir desse momento, buscamos estimular o prazer a todo custo e ficamos condicionados a procurar essa sensação de bem-estar nas atividades que no passado nos geraram essas emoções. Para exemplificar, podemos pensar no café: seu gosto amargo não é, na grande maioria dos casos, motivo de prazer nas primeiras vezes que o experimentamos. Entretanto, ao consumirmos com regularidade, nosso corpo acaba se condicionando ao estímulo gerado pela cafeína e, como resultado, acabamos nos tornando dependentes dessa substância. Passamos, então, a consumir sempre que necessário e, em alguns casos, alguns dias sem café pode gerar crise de abstinência. O que se começa como uma busca pelo prazer, passa a ser uma verdadeira prisão. O vício rouba-nos a liberdade de escolher, pois nos condiciona a optar sempre pela busca das boas sensações.

Além do vício, há o hábito por trás que pode lhe dar forças. De maneira geral, hábito é uma ação mecânica que costumamos realizar sem consciência. Podemos relacionar diretamente os nossos vícios com a falta de consciência das nossas ações. Ao gerar o condicionamento, abrimos mão do discernimento, adotando, assim, uma ação pré-estabelecida. No caso dos vícios, isso torna-se ainda mais potencializado por buscarmos o prazer, ao ponto de compreendermos seus malefícios e ainda assim não conseguirmos parar de realizar certas atividades.

Não é novidade que o vício em jogos ou séries, por exemplo, diminui nossa produtividade e atenção. Há quem sacrifique horas de sono e trabalho para dedicar-se a esses hobbies. Também há quem coloque em risco a própria saúde em busca do prazer ao utilizar substâncias, lícitas ou ilícitas, diariamente. Esse tipo de comportamento deixa claro que essas pessoas não estão discernindo suas escolhas, portanto, não estão verdadeiramente escolhendo o que vivem. Como esse não é um processo puramente racional, argumentar com alguém que é viciado sobre esse problema é uma tarefa complexa. Na grande parte das vezes, inclusive, a pessoa não reconhece que isso é um problema. Como podemos, então, começar a lidar melhor com nossos vícios?

Um primeiro passo nesse processo é o autoconhecimento. Se começarmos a observar, em nós mesmos, quais são os nossos hábitos e possíveis vícios já estaremos caminhando para o domínio próprio. Como diz uma antiga frase, “não há como combater um inimigo que não estamos vendo.” Após identificar nossas debilidades, devemos reconhecê-las, ou seja, assumir que esse é um aspecto que não controlamos. O ato de reconhecer traz esses vícios à luz de nossa consciência e nos dá a capacidade de combatê-los. Essa não é, definitivamente, uma tarefa fácil. Há, entretanto, a possibilidade de contarmos com a ajuda de pessoas e profissionais para nos auxiliar em nossa batalha.

Um outro passo fundamental no processo de tomada de consciência é a educação. Não estamos falando de uma educação informativa, como fazemos nas escolas e universidades, mas de educar a nós mesmos. Podemos caracterizar essa educação a partir de dois aspectos: a disciplina e o refinamento do gosto. A disciplina nos possibilita fazer o que definimos como prioridade, não cedendo às necessidades e gostos que apareçam em nosso caminho. Do mesmo modo, ao refinar o nosso gosto pessoal, podemos abandonar os padrões antigos, que nossa mente insiste em reforçar e buscar, e substituí-los por elementos que nos enobrecem, causando efeitos positivos para o nosso corpo e mente. Não podemos confundir refinamento com algo “chique” ou exagerado. Nesse caso, falamos de refinamento como a busca daquilo que nos faça bem, ou seja, em outras palavras, temos que aprender a gostar do que faz bem tanto para o nosso corpo, como para a nossa mente e igualmente para a nossa psique, para assim podermos ter uma vida saudável e harmônica. 

Coloquemos isso em um exemplo: se temos vício em fast-food e, na maior parte da semana, nos alimentamos desse tipo de comida, podemos nos comprometer a refinar, ou seja, melhorar nossa alimentação. Passar a comer menos esse tipo de comida é, inicialmente, um primeiro passo. Colocar em nossa rotina novas comidas, naturais e saudáveis, é um outro passo. Além disso, ter a disciplina de manter-se em uma dieta e reeducar nosso paladar é, por fim, um outro passo. Aos poucos, vamos tomando mais consciência desse problema e resolvendo-o com ações mais conscientes e benéficas para o nosso organismo. 

Em linhas gerais, podemos aplicar esse “caminho mental” para todos os nossos vícios. Qual será a diferença entre vencer ou perder essa batalha? A nossa Força de Vontade. Sem a Vontade de vencermos a nós mesmos e retomarmos o controle sobre nossa própria vida, jamais superaremos os vícios. Esse é o primeiro passo para que possamos alçar vôos de liberdade e escapar dessa prisão psicológica que alimentamos diariamente. Lembremos que a verdadeira liberdade consiste em escolher conscientemente o que queremos viver. Logo, um Ser Humano livre não pode ter vícios, seja qual for. Sejamos Homens e Mulheres livres e com posse de nós mesmos.

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