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Impressões digitais: Qual a nossa verdadeira identidade?

O ser humano é um ser coletivo. Desde o nosso nascimento até o último suspiro estaremos próximos a outras pessoas na qual somos, em algum grau, interdependentes. Por essa dependência criamos laços com familiares, amigos e parceiros e graças a isso fomos capazes, ao longo da história, de criar sociedades e civilizações brilhantes. Entretanto, por mais que seja natural estarmos em uma coletividade, não somos iguais.

Cada um de nós tem uma marca indelével, seja a nível biológico, psicológico ou espiritual. De maneira objetiva, em nosso corpo carregamos nossa identidade através das impressões digitais, tão úteis para a nossa organização e cadastros. Mas o que são as impressões digitais e como elas são formadas? 

De modo geral, o que chamamos de impressão digital, são elevações em nossos dedos feitas de maneira tão aleatória que nos distinguem de todos os outros seres humanos. Por mais que existam mais de 7 bilhões de pessoas no mundo, nenhuma delas possui a mesma digital e isso não é, necessariamente, fruto do acaso. As impressões digitais são feitas a partir do nosso traço genético, o que garante nossa singularidade enquanto Ser Humano. Mesmo no caso de gêmeos univitelinos – que são idênticos – as impressões digitais são distintas, o que possibilita aos médicos diferenciá-los.

Partindo dessa constatação, podemos nos perguntar se essa identidade encontra-se apenas a nível biológico. Se observarmos de modo atento às pessoas ao nosso redor, e principalmente a nós mesmos, logo perceberemos que não. Todos nós temos traços psicológicos que nos definem e, na grande parte do tempo, nos conduzem. Quem nunca se percebeu falando algo como: “Ele é assim mesmo, explode com tudo” ou “é o jeito dele ser assim”. Esses nossos “jeitinhos” muito característicos são, na verdade, hábitos psicológicos que se refletem em nossas ações. Quanto mais “presos” nessas formas nos sentimos e agimos, mais característico – e previsível – será o nosso comportamento. Por isso que quando conhecemos muito bem alguém, no sentido de conviver bastante, sabemos exatamente como ela vai agir em determinada situação, mesmo que a situação em si ainda não tenha ocorrido. 

Entretanto, vale lembrar que esses traços de personalidade, por mais que nos identifiquemos com eles, não nos definem de fato. Se consideramos que estes são hábitos, aprendidos e reforçados ao longo do tempo, eles foram adquiridos e integrados ao nosso comportamento, mas não fazem parte da nossa verdadeira natureza. Existem diversas razões para isso: uma predisposição a agir de acordo com nosso temperamento; traumas do passado; a maneira como fomos educados. Todas essas variantes vão formando nossa postura frente ao mundo e reforçando tais comportamentos. Logo, por mais que essa série de atitudes nos “definam” para os outros, elas não são nossa Identidade.

Sobre isso, a filosofia grega faz uma analogia que ilustra perfeitamente essa situação. Imaginemos que uma estátua de mármore tenha sido lançada ao mar e por lá tenha ficado por muito tempo. Ao longo de sua estadia no fundo do mar diversas algas, crustáceos e outros elementos marinhos foram se acumulando na estátua, de tal modo que toda sua superfície ficou coberta dessa sujeira marinha.

Após esse longo período, um grupo de pessoas retira a estátua, mas apenas enxergam uma grande camada de sujeira, lodo e algas e nada de sua verdadeira forma. O único jeito, portanto, de encontrar a estátua seria, primeiramente, limpar todas as impurezas e elementos que não a compunham inicialmente, ou seja, era necessário retirar tudo que se acumulou ao longo do tempo. Só depois de limpa e purificada poderíamos vislumbrar novamente o mármore e detalhes próprios do monumento.

Segundo a filosofia grega, assim também seria o Ser Humano. Precisamos, antes de tudo, limpar toda sujeira – física e psicológica – que nos foi acumulada ao longo da nossa existência para que nossa verdadeira Identidade seja expressada. Assim, ao sermos pontos de singularidade, cada um de nós representaria a natureza humana a partir da sua marca. A natureza, enquanto expressão de vida no Universo, não repete formas. Por mais que queiramos catalogar animais, plantas e minerais, cada um tem uma singularidade que participa do Universo no que lhe cabe. Por isso, uma antiga frase diz que “por mais que o dia e a noite pareçam sempre iguais, ambos nunca são os mesmos.” O Universo, portanto, segue Leis e cria formas similares, mas cada elemento que o compõe carrega consigo algo único e intransferível. 

Mas, por que não conseguimos expressar nossa Identidade de maneira natural?

Em grande parte, por culpa de nós mesmos. Estamos, incessantemente, procurando nos encaixar em padrões. Seja um padrão de beleza, um padrão de vida ou mesmo um padrão comportamental, buscamos sempre inibir nossa Identidade para fazermos parte de uma coletividade. Pensamos – equivocadamente – que para fazermos parte de um grupo devemos ser iguais a todos e, naturalmente, acabamos deixando de lado o que verdadeiramente somos. Por não sermos desse modo, esse tipo de vida é construída de maneira artifical e de tempos em tempos é preciso modificá-la. Logo, um dia minha Identidade está ligada a certo grupo e com o passar do tempo a modifico para fazer parte de um outro grupo. Assim, portanto, seguimos vivendo e mudando, sempre sendo outro e nunca nós mesmos. 

De igual modo pensemos, por exemplo, na maneira que tratamos grande parte das pessoas ao nosso redor. Buscamos observar suas particularidades e encontrar o que há de único em cada uma delas? Ou, geralmente, assumimos um padrão de comportamento para todos, sem distinguir as condições que o outro se encontra e muito menos tentando enxergar sua natureza?

Quando assumimos um padrão de comportamento comum a todos acabamos por extinguir a chance de nos relacionarmos de maneira única com cada pessoa. Por isso que em nossa vida prática, infelizmente, tratamos as pessoas como números, e não como Seres Humanos. Usamos uma lógica racional para ordenar e sermos eficientes em nossos trabalhos e afazeres, porém, não somos capazes de sentir e integrar o outro em nosso coração. Lembremos sempre da famosa frase de C. G. Jung:

 “Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao   tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana.”

Em poucas palavras, que aprendamos a nos conectar com o que é real e próprio do Ser Humano, não observando-o apenas a partir de suas habilidades ou debilidades, de suas qualidades ou defeitos. Acima disso, sabendo perceber que ali está um igual a você em natureza, mas que possui uma Identidade própria e que deve ser acessada. 

Se nossa impressão digital nos lembra constantemente quem somos por trás de todas as fantasias que vestimos, que a nossa natureza humana possa sempre nos lembrar quem somos e o nosso papel no mundo. A memória de quem devemos ser é a nossa única garantia de que não iremos confundir o lodo acumulado pelo tempo com a estátua de mármore que somos e ansiosamente espera para reluzir outra vez.

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