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Quando o Sol derrete nossas ilusões: o que podemos aprender com ele?

A vida na Terra depende do Sol. Essa é uma afirmação um tanto quanto óbvia, mas, por vezes, esquecemos disso. Achamos, em nossa ingênua “sabedoria” comum que o astro-rei é apenas um corpo celeste que produz calor. Porém, se realmente pararmos para refletir sobre o Sol entenderemos o porquê de todas as civilizações antigas o adorarem como uma divindade e o colocarem no posto mais alto de todos os deuses. 

Hoje a ciência moderna nos fala que o Sol é uma estrela. Sua massa densa é responsável por atrair todos os objetos do sistema solar, fazendo com que girem em torno de sua órbita. Porém, apesar de ser o coração do nosso sistema solar, o astro-rei foi reduzido a visão de um corpo inerte. Porém, como algo inerte pode gerar tanta vida e ser responsável pela existência de tantas formas do nosso planeta? Talvez estejamos esquecendo algo fundamental sobre o Sol, que está para além dos seus aspectos objetivos. Precisamos mais uma vez resgatar seus símbolos como outrora as antigas civilizações fizeram.

Primeiramente, é fundamental entendermos que quanto mais estudamos cientificamente o Sol, mais o nosso olhar para a Vida vai amadurecendo. Se conseguirmos perpassar o senso comum e entendermos suas propriedades, poderemos compreender a função essencial do astro-rei em nossas vidas e refletirmos como ele está constantemente nos ensinando. Existem três grandes ilusões com as quais convivemos, mas que não resistem diante das descobertas sobre o Sol: a ilusão de grandeza, a ilusão de independência e autonomia, e a ilusão de que a Vida na Terra é para sempre.

Façamos um pequeno exercício: imagine a vastidão dos oceanos e as cadeias de montanhas mais altas do mundo. Imagine a diversidade de plantas, animais, solos e climas que temos em todo o planeta. Quantos países, quantas línguas, quantas formas religiosas, quantos povos, quantos sistemas políticos nós temos? Imagine o emaranhado de relações humanas neste universo de mais de sete bilhões de habitantes, todos os fatos históricos de todos os séculos e milênios, todas as grandes construções arquitetônicas e todos os avanços tecnológicos a que chegamos. Essa percepção, gostemos ou não, nos leva a um estado de grandeza. Sentimos que somos superiores, evoluídos e que, aparentemente, nada poderá deter a força da humanidade. Também, por isso, sentimos a partir dessa complexidade que somos um sistema humano e planetário colossal, evoluído, autônomo e que existirá para sempre, atingindo cada vez mais patamares muito altos, provenientes de infindáveis avanços tecnológicos, populacionais etc. 

Esse jeito de olhar para o mundo acaba refletindo em nossas relações diárias com as pessoas, com o trabalho, no trânsito, nas filas de supermercado etc. Nós nos sentimos grandes, autônomos, independentes, temos uma ilusão de conforto e perenidade, vivemos como se o Universo inteiro girasse ao nosso redor e todos os seres existissem para nos servir. O imediatismo nos leva a esses equívocos, assim um olhar rápido para o Sol nos leva à sensação de que ele é menor do que nós e que ele existe apenas para nos servir, nos aquecer e clarear o nosso dia, inclusive nos queixamos quando o tempo está nublado e precisamos ir à praia. É como se tudo tivesse que nos servir, como se tudo estivesse ao nosso dispor.

Mas a primeira descoberta que fazemos quando nos deslocamos da visão imediata para um estudo mais aprofundado sobre o Sol é que aquele pequeno disco fulgurante que surge no horizonte todos os dias às cinco da manhã representa nada menos que 99,86% de toda a massa do sistema solar. Isso significa que se pegássemos todos os planetas do nosso sistema, inclusive a Terra, todas as luas, asteróides e cometas, bem como todo e qualquer corpo celeste que existe dentro da nossa vizinhança solar, e fundíssemos tudo formando uma massa única, isso representaria apenas 0,14% de todo o sistema, pois os outros 99,86% são o Sol. A massa da Terra é matematicamente desprezível dentro do próprio sistema planetário, imagine em relação à galáxia e sucessivamente ao Universo. Essa é a primeira ilusão que se desfaz, a ilusão de grandeza. Não somos tão grandes quanto pensamos, devemos ter a humildade de aceitar que o Sol e todo o Mistério que o rodeia é infinitamente maior que todos nós juntos. E que, por isso, devemos mudar nosso jeito de nos relacionar com todas as coisas. Se somos tão pequenos, por conseguinte, dependemos muito de quem é tão grande, e isso nos leva à derrubada da segunda ilusão: a independência e a autonomia.

Há duzentos e quarenta anos, um cientista chamado Jan Ingenhousz observou que uma vela acesa dentro de um frasco fechado não se apagava, desde que dentro deste frasco estivessem partes de plantas e que houvesse incidência de luz solar. Ou seja, na presença da luz, as plantas liberam oxigênio, que mantém a vela acesa. Esse processo se chama fotossíntese: um processo físico-químico em que a luz do Sol reage com a água e os sais minerais presentes na planta produzindo a energia necessária para elas crescerem e se reproduzirem. Como os vegetais estão na origem da cadeia alimentar dos principais animais, inclusive o Homem, podemos dizer que é da luz solar, em certa medida, que vem a energia que move toda a vida animal no planeta. Isso nos mostra que não somos tão independentes assim; nossa Vida é integralmente dependente da luz do Sol, desde a nossa alimentação até a respiração e tudo que nos mantém vivos. 

Os estudos científicos sobre esse grande astro estão bem avançados hoje. Em dezembro de 1995, a NASA lançou uma sonda espacial chamada Solar and Heliospheric Observatory (SOHO), que está até hoje a 1,5 milhões de quilômetros da Terra, transmitindo imagens do Sol. A partir dessas imagens, um grupo de cientistas estuda a evolução solar. Descobriu-se que o ciclo de vida desse astro é estimado em 14 bilhões de anos, que ele surgiu de um colapso em uma nuvem molecular há 4,5 bilhões de anos e que neste momento se encontra em uma fase de crescimento. Seu sistema de vida acontece a partir de uma fusão nuclear que transforma hidrogênio em hélio. A cada quatro segundos, mais de quatro milhões de toneladas de matérias são convertidas em energia dentro do centro solar. Por esses cálculos, os cientistas estimam que em cerca de cinco bilhões de anos, o hidrogênio presente no núcleo solar esgotará. Nessa fase, o Sol atingirá o ponto mais alto de sua evolução, tornando-se o que os astrônomos chamam de gigante vermelho. A temperatura do núcleo se elevará muito, e a tendência é haver superaquecimento do nosso planeta, de forma que toda a nossa água poderá evaporar e parte da atmosfera se difundirá no espaço – e há previsões de que a Terra será engolida pelo Sol. 

Essas descobertas nos levam a perceber que vivemos uma ilusão de segurança na matéria, e é aí que é quebrada a nossa terceira premissa. Enquanto matéria, somos seres finitos, fracos, dependentes e caminhamos inexoravelmente para um colapso. Não viveremos neste mesmo estado para sempre, por isso, não podemos ter segurança alguma. Curiosamente, todas as culturas e tradições da Humanidade olharam para o Sol e viram algo muito Misterioso e Profundo. Os egípcios atribuíam ao Sol características de um Deus; as culturas mesoamericanas da mesma forma. Mesmo não tendo sondas espaciais ou telescópios potentes como os atuais, essas culturas tinham conhecimentos avançados sobre o Sol e o representavam como o centro, o ponto que gera todas as coisas e que governa tudo.

Como podemos perceber, o Sol é um rei em nosso sistema solar, e quando comparamos nosso planeta com ele, percebemos que somos praticamente insignificantes. Mas essa não é a lição mais importante que devemos aprender com ele. Nas antigas tradições da humanidade, fala-se que o Sol é uma divindade, pois é graças a ela que existe a Vida, o calor e todas as formas que habitam em nosso sistema. Assim, O simbolismo do Sol nos diz que somos pequenos, dependentes e finitos, mas diz também que há uma inteligência que governa todos os ciclos. Essa inteligência transcende a humanidade, que ainda não consegue compreendê-la, mas que consegue identificar suas evidências. Diante disso, devemos nos colocar diante do Mistério que rege o Universo com Humildade, Respeito e Devoção, prontos para Servir, gerar Vida, aquecer e traduzir Beleza no mundo.

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