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Os Efeitos da Música no Cérebro

Refletir sobre os efeitos da música no nosso cérebro no contexto atual em que estamos vivendo, é mais do que uma mera curiosidade intelectual, é quase um dever.

Neste momento, milhões e milhões de pessoas em todo o mundo estão confinadas há dias em suas casas, suas rotinas foram alteradas bruscamente, uma recessão econômica a nível global se aproxima, os especialistas de todas as áreas preveem um prognóstico aterrorizante, enquanto isso, ao ligar a televisão, deparamo-nos o tempo todo com notícias horríveis e ao sair de casa para qualquer necessidade básica, temos que tratar tudo e todos como uma ameaça em razão do alto risco de contágio.

Não precisa ser um especialista para concluir que este é um ambiente muito fértil para as neuroses, para os distúrbios psíquicos como depressão, transtornos de ansiedade, de pânicos, etc.

É urgente encontrar, em meio a esse caos, uma forma de tranquilizar a alma, de encontrar uma via de acesso à paz interior, à beleza, à harmonia e à ordem. É urgente estruturar nossa mente para resistir a esses dias, pois corremos o risco de perdermos a saúde psicológica, ainda antes de sermos afetados pelo vírus. E a ciência, a filosofia, a cultura e as formas religiosas sinalizam ao longo dos séculos, que a música apresenta-se como uma via de acesso à essa conquista interna.

Os estudos no campo da neurociência vêm falando muito de um fenômeno chamado “Neuroplasticidade”, que é a capacidade do sistema nervoso de se alterar, adaptando-se a nível estrutural e funcional, quando sujeito a novas experiências. Essa descoberta é só a ponta de um iceberg, é um descortinar de uma realidade muito abrangente que aponta para várias direções. Se nossas estruturas neurológicas se alteram diante das circunstâncias, se reestruturando, isso permite novas descobertas em vários outros campos. Doenças, idade, stress, ambientes, sons… Tudo, em alguma medida, afeta o cérebro.

Mas nesse universo de fatores que alteram a estrutura cerebral, interessa-nos neste momento especialmente a experiência musical. De que forma a música interfere na plástica do cérebro? Há experimentos para todos os gostos, há experiências em escolas constatando que ao inserir apreciações musicais periódicas, a produtividade e a criatividade dos alunos foram aprimorada; há experimentos com músicas em programas de reabilitação de pessoas que sofreram acidente vascular cerebral, há experimentos em clínicas psiquiátricas, todos apontando para os efeitos curativos e potencializadores da música na estrutura cerebral.

Essas descobertas da ciência se harmonizam com as narrativas das diversas culturas e das religiões a respeito dos efeitos da música. No judaísmo, por exemplo, a música era utilizada como forma de acalmar as pessoas que estivessem possuídas por maus espíritos, conforme se verifica na história do Rei Saul, contada no velho testamento, o qual sempre que era atormentado por “maus espíritos”, só conseguia se acalmar quando Davi tocava em sua harpa, belas canções. O lugar da música na cultura judaica está muito relacionado também a efeitos cerebrais ligados à força, à alteração de consciência, à êxtase e à quietude da alma. O Velho Testamento está cheio de narrativas construídas em torno desse fenômeno, a exemplo da história da conquista de Jericó, em que sete sacerdotes dão sete voltas ao redor dos muros da cidade tocando sete cornetas sem parar durante sete dias, e ao final do processo os muros caem. Toda essa narrativa é simbólica, e o referencial simbólico aponta para o efeito da força que é decorrente da música.

Nas religiões africanas, a música é usada em rituais a fim de preparar os participantes para o transe, para a alteração de consciência. Já o movimento Hare Krishna acredita que a repetição constante da música maha-mantra Hare Krishna é o melhor remédio para libertar a mente de doenças e problemas da vida material. No islamismo, a leitura do Corão e o chamado à oração são realizados na forma cantada, como meio de levar o adepto a uma forma de contemplação. Entre os evangélicos, a música é uma forma de adoração a Deus, levando o homem a estados de quebrantamento interior, de consolação, de alegria e de transformação.

A ciência e a religião apontam para efeitos da música na alma humana, os quais a filosofia antiga, dos tempos de Sócrates e Platão, já havia refletido a respeito. Pitágoras, por exemplo, via uma linguagem matemática na estrutura musical, e Platão ao construir uma cidade ideal no livro a República, condicionou a existência da classe de guardiões à apreciação de músicas eruditas. Com isso ele quis dizer que se imaginássemos uma cidade, na qual houvesse uma classe formada por seres humanos ideais, justos, bem-educados, essa classe só seria possível se as músicas que eles ouvissem tivessem ordem e harmonia em sua estrutura. Músicas tristes, feias ou mal executadas seriam destrutivas para essa classe de guardiões, e não seria possível mantê-la com tais músicas.

Já o neoplatonismo, que é um movimento filosófico do começo da era cristã, que tem como ícone o filósofo Plotino, via a música como uma espécie de mensageiro de algo mais profundo. Para Plotino, o estímulo do som, ao se encontrar com o nosso órgão auditivo produzindo o fenômeno da sensação, funcionava como um condutor de um símbolo, ou de uma mensagem, para a qual precisaríamos ter um certo grau de discernimento ou inteligência, no sentido tradicional do termo, para compreender o significado.

Desde que o homem existe que a música participa de sua construção. Todos os nossos elementos culturais, religiosos, artísticos e filosóficos apontam para isso. É intuitivo que a música bem ordenada e harmoniosa propaga essa harmonia e essa ordem em nossas estruturações neurológicas e psíquicas.

Por isso, diante da conjuntura em que estamos, o melhor negócio neste momento é ouvir boas músicas, concentrando-se na melodia, sentindo a ordem, contemplando a beleza e deixando que a sensação nos alcance por dentro. Esse é o momento da música, temos que parar e ouvir música, bastante. Quem toca algum instrumento, ou quem canta, deve fazê-lo neste momento com mais frequência e propagar isso para a humanidade. Que sejamos invadidos por uma musicalidade profunda nesta fase e que essas músicas despertem em nós harmonia, paz, inspiração, amor e beleza.

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