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Natureza como Modelo: Explorando o Conceito de Biomimética

Você já ouviu falar em Biomimética, a mais nova área da ciência com horizontes espirituais, filosóficos, econômicos, profissionais, sociais e políticos?

No meio científico, ela surge como um novo ramo, mas quando a gente começa a conhecer seus princípios, percebe logo que o alcance vai mais além dos limites do método da velha ciência. O termo vem da junção de duas palavras gregas, já bem conhecidas: bíos (vida) e mímese (imitação). Assim, biomimética, em um conceito literal é imitar a vida. Mas na prática é muito mais que isso. É um novo jeito de olhar a natureza, encontrando nela os padrões que devem nortear o nosso jeito de existir no mundo.

O fundamento da biomimética é a ideia de que a natureza é sábia, é mestra, já que tem bilhões de anos, e que devemos tê-la como mentora dos nossos padrões de comportamento desde a vida individual e cotidiana, até às dimensões da política, da economia, da sociedade, dos mercados, das relações internacionais e de todos os sistemas da vida humana.

Do alto do Século XXI, podemos olhar para trás e perceber o quanto tem sido desastroso para toda a humanidade os efeitos de padrões que adotamos lá atrás, no surgimento da modernidade. Por exemplo, no começo da modernidade surgiu o positivismo que foi um jeito de olhar para a natureza não como mentora, mas como algo que precisávamos conhecer para poder dominar e utilizar em nossos objetivos. No mesmo contexto, e de forma interligada, surgiu a atual estrutura econômica, que é baseada na exploração da natureza com o objetivo de gerar lucro, que por sua vez depende do consumo. Para manter a máquina funcionando, o consumo não pode parar, por isso se estimula nas pessoas a necessidade de comprar, comprar e comprar cada vez mais. Se as pessoas passassem a consumir somente o necessário, a economia entraria em colapso. Nesse mesmo bojo, a política e às relações internacionais avançaram mais no sentido da competição do que da colaboração.

Esse caminho que tomamos lá no começo da nossa era moderna nos levou a grandes crises humanas, movimentos bruscos na economia, com períodos de excessos, caindo em questão de meses para períodos de escassez; desenvolvimento de doenças psíquicas e psicossomáticas graves relacionadas ao stress, ao medo e à ansiedade; grandes guerras; terrorismos; genocídios; além de enormes desequilíbrios ambientais.

Todos esses padrões causadores de toda essa distopia em que estamos, são padrões antinaturais: o domínio, a exploração e o utilitarismo da natureza coloca-nos numa posição de algozes de um ser que, na verdade, somos nós mesmos. O homem moderno não se vê como integrante de todo o sistema vivo, se vê como um objeto à parte da Natureza. Essa é a sua mais significativa ilusão.

A biomimética traduz um novo paradigma, um novo racionalismo, uma nova ciência. É um jeito do homem do Século XXI se reposicionar no caminho. As dores da modernidade são muito agudas e letais: crises migratórias; corridas bélicas a nível nuclear; ameaças perigosas à perpetuação da espécie; corrupção generalizada no mundo. Diante de uma questão de vida ou morte, esse homem ou encontra um paradigma, uma perspectiva filosófica que o salve ou o seu prognóstico se mostra cada vez mais perigoso.

O que é novo na biomimética é a tomada de consciência, mas essa consciência em si é muito antiga. Os egípcios, por exemplo, viam o sol como o grande mentor de todo o seu sistema político, econômico e vivencial. As antigas narrativas do judaísmo apontam para uma cosmovisão que funde o homem à natureza, a exemplo da narrativa da criação de Adão no Gênesis. Adão significa barro. Nessa perspectiva, o homem é natureza, é barro e ar animado por uma essência divina. Na República de Platão, toda a lógica da cidade ideal atende a padrões da natureza, nesse sentido o governante está para o grupo social como o sol está para todo o seu sistema estelar. Os filósofos do estoicismo entendiam virtudes como a penetração do ritmo da natureza no homem. Nós é que perdemos essa visão no meio do caminho, e isso tem nos levado a grandes tragédias humanitárias desde então, e o que complica mais ainda é que elas estão travestidas de progresso, de avanço.

Mas de novo, retornamos aos poucos à visão dos antigos. Estamos lentamente refazendo o caminho, e esse novo ramo científico, a biomimética, é uma sinalização disso, uma luz no fim do túnel. Nossos jovens que já não se encontram mais na política, nem na lógica de mercado, já começam a demonstrar interesse pela natureza. Seja pelo discurso da sustentabilidade, da ecologia, da preservação do meio ambiente, etc. Porém, este é um volver-se ainda tímido, precisamos de muito mais. Não significa destruir a modernidade, mas ressignificá-la. Não significa destruir os negócios, mas tomar consciência de que o melhor negócio é não ir na contramão da natureza, e sim se enquadrar na harmonia dos seus padrões.

Biomimética é olhar para o Sol e perceber seu ritmo, observando que ele gera as estações do ano e, conectados conscientemente a esses padrões, traduzi-los em nossa existência. Ordenar nossa psique como o Sol ordena os períodos climáticos, isso é imitar a natureza na perspectiva de biomimética. Observar que somos seres comunitários, que nossas ações devem acontecer considerando o outro, assim como uma colméia de abelha ou um formigueiro. A pandemia que estamos vivendo do coronavírus nos leva a essa descoberta, ainda que de forma bem indesejável. Um padrão de comportamento diante da contaminação na China ou na Itália deve ser considerado aqui no Brasil, porque somos uma espécie única, uma única família. Observar que assim como tudo na natureza está vibrando e em movimento, também devemos nos ativar o tempo todo. Isso é biomimética.

A natureza é muito sábia, a vida tem bilhões de anos. Você faz ideia do que é isso? Sistemas vivos, padrões de existência que tem bilhões de anos? Não podemos viver na contramão disso, não podemos vê-los como nossos escravos, ou nossa zona de exploração. Fazer isso é ignorância. Devemos olhar para uma floresta e enxergar ali a manifestação de um mistério profundo, e perceber que este mistério também se manifesta em nós.

Cultivemos essa reflexão da biomimética como se faz com um jardim, regando, apreciando e cuidando todos os dias, no ritmo da Natureza. Com certeza, a nossa vida, e a de todos, se tornará muito melhor.

(Este texto foi inspirado em uma entrevista da biomimeticista Carol Freitas no programa da professora de filosofia Lúcia Helena Galvão em 2019, disponibilizada na plataforma AcropolePlay)

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