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Os limites da visão humana e a verdadeira beleza

Uma antiga frase de Confúcio, um dos maiores sábios da humanidade, diz o seguinte: “Tudo tem sua beleza. Mas nem todo mundo consegue enxergá-la”. Talvez um leitor atento possa pensar que o sábio chinês possa estar enganado, afinal, não precisamos ir longe para enxergar algo negativo no mundo. Um olhar rápido pelo noticiário já seria o suficiente para encerrarmos o assunto, correto? Pois bem, talvez não tenhamos a capacidade de enxergar com clareza tudo que nos ocorre e, desse modo, estamos impossibilitados de ver a beleza que há no mundo, mesmo nas situações desagradáveis que vivemos.

Não queremos questionar a realidade dura que muitos de nós presenciamos quando não vivemos, porém, mesmo nesses cenários difíceis, existem leis do Universo que operam e fazem as experiências que vivemos serem justas. No Oriente, fala-se de Karma, uma lei de ação e reação que explica que tudo que nos ocorre tem uma finalidade: nos levar em direção ao nosso destino, o Dharma. 

Desse modo, quando vivemos tais momentos na vida, deveríamos buscar enxergar os ensinamentos que estão ocultos por trás dos resultados objetivos de nossas ações. Para sermos capazes disso, é preciso, antes de mais nada, refletirmos sobre nossa maneira de observar a vida, nós mesmos e tudo que nos ocorre. Devemos, em resumo, começar a entender que nossa visão física é limitada e devemos também começar a enxergar com os olhos do coração, que é a morada de nossa alma.

Vamos explicar um pouco mais sobre isso. Pensemos primeiramente em quantas vezes em nossas vidas não nos deparamos com cenários de tirar o fôlego: um nascer do Sol, uma flor, um céu estrelado à noite, uma criança sorrindo. Nessas horas, apreciamos a beleza, mas não lembramos de que é graças à nossa visão que conseguimos enxergar tantos elementos.

No pôr do Sol, às vezes, observamos uma coloração mais alaranjada; outras vezes, mais rosada, ou arroxeada, ou azulada, tonalidades de cores sempre muito diversas e que mudam de acordo com a luz e o local. Essas simples percepções de cores e tons acontecem graças a dois tipos de células específicas da nossa retina: os cones e bastonetes. Curiosamente, apesar de termos essas mesmas células, algumas vezes nossa visão nos prega peças, e um mesmo objeto pode ser visto por cores diferentes. Quem lembra da polêmica de alguns anos atrás do vestido branco e dourado que para alguns aparecia como azul e preto?

Quais cores você enxerga?

Apesar de nossos olhos agirem como máquinas perfeitas, a nossa visão não é 100% confiável. Existem ilusões de ótica, ângulos, luz, e uma série de outros fatores que podem distorcer a imagem que visualizamos. Graças a essa ideia, já podemos entender que, de fato, nossa visão física é extremamente limitada e não podemos confiar no que os olhos nos mostram. É evidente que, como um dos sentidos do nosso organismo, ela se faz essencial em nossa maneira de lidar com o mundo, porém isso não é o bastante para os seres humanos. Para além do que nossos olhos conseguem captar, existe um mundo invisível e sutil que nos rodeia. Nesse exato momento, por exemplo, estamos sendo atravessados por uma série de raios e ondas que, em diferentes níveis vibratórios, são invisíveis aos nossos olhos. Do mesmo modo, há na palma de nossas mãos um número incontável de microrganismos que vivem e interagem com o nosso corpo, mas que sem um microscópio seríamos incapazes de percebê-los. Desse modo, tanto ao olharmos para os céus e as suas grandezas inimagináveis quanto tentarmos entender o Universo microscópico que existe ao nosso redor, perceberemos que estamos em uma encruzilhada entre esses dois mundos invisíveis aos nossos olhos.

E que bom que isso acontece! Afinal, já imaginou o quão difícil seria para nós lidar com tantas informações ao mesmo tempo? Observar a beleza física é uma tarefa pequena quando comparada ao verdadeiramente belo, aquilo que está para além do visível e mensurável. De acordo com Platão, filósofo grego do século IV a.C., todo o mundo manifestado, ou seja, material, é apenas a sombra imperfeita de um outro mundo que ele chamou de mundo das ideias. Para ele o mundo que vivemos é apenas uma forma última, ou seja, uma representação final e imperfeita de um modelo celeste, que é perfeito.

Para entendermos Platão, podemos usar como exemplo uma situação cotidiana: observe o lugar em que você está nesse momento. Se estiver em casa, veja uma cadeira. Ela tem uma forma específica, e há diferentes tipos de cadeiras no mundo, constituídas de diferentes materiais, meios de fabricação etc. Sendo assim, há no mundo manifestado uma série quase infinita de formas de cadeira, mas todas nasceram de uma mesma fonte: a ideia da cadeira. Por mais distintas que sejam, todas foram criadas a partir de uma necessidade e de uma finalidade. Logo, o resultado final, que é a cadeira objetivamente, é apenas o fruto imperfeito de uma ideia.

O mesmo Platão foi além e nos ensinou através de sua filosofia que as coisas que percebemos com os sentidos são simplesmente sombras de uma realidade muito mais duradoura. Os sentidos, portanto, jamais serão capazes de captar esse mundo das ideias, pois eles estão voltados totalmente para a experiência material. A razão, que é uma das faculdades mentais dos seres humanos, porém, não participa diretamente do mundo físico, mas sim o interpreta e raciocina sobre seus elementos. Para Platão é a razão que pode levar os seres humanos a perceber a verdadeira beleza que há no mundo, afinal, qualquer objeto ou ação que designamos como “bela” está no mundo manifestado e é a representação desse outro mundo mais metafísico.  Assim, para desenvolvermos um olhar transcendente e ilimitado, que possa enxergar a beleza que está para além das formas físicas, é preciso que desenvolvamos a razão.

Mais uma vez podemos colocar essa ideia em exemplos comuns. Pensemos em um pôr do Sol, por exemplo. Não há dúvidas de que ele é belo, harmônico e que, em geral, a maioria das pessoas ficam em transe ao observar tamanha beleza natural. No entanto, há dias em que observamos o pôr do Sol e ele não nos toca ou não nos sentimos tão impactados como em outro momento ao vê-lo. Por que isso ocorre? Podemos dizer que estamos vendo o mesmo pôr e nossos olhos captam a mesma imagem, mas o que faz com que fiquemos impactados com ele é a ideia ou a percepção de uma ideia que está por trás do que estamos vendo fisicamente. 

Sobre essa mesma ideia, há uma frase de Tolstói, escritor russo, que revela a essência do que estamos querendo dizer: “Há quem caminhe por uma floresta e veja apenas lenha para suas lareiras”. Do mesmo modo, há quem veja um pôr do Sol e pense apenas que é mais um dia que nasce e somente isso. Para enxergamos, portanto, a verdadeira beleza há de se esforçar e usar a razão. Esta, por sua vez, não se trata somente de pensar, mas também de conseguir ser sensível aos aspectos sutis da vida, de conseguir perceber o seu entorno e tomar consciência do que se passa ao redor e dentro de si mesmo. 

Quando passamos a ver o mundo por essa ótica, percebemos que a beleza do mundo material, que enxergamos com nossos olhos físicos, é infinitamente inferior à verdadeira beleza, que existe num plano superior, num plano espiritual, no Mundo das Ideias. Na obra “O Banquete”, o personagem Sócrates argumenta no diálogo que a Beleza é um atributo divino, e que todos os humanos estão em busca dela. Porém, a pessoa vulgar só é capaz de perceber a beleza dos corpos, mas não nos níveis mais sutis, como por exemplo: na experiência e sabedoria de um ancião, na bondade de um ato generoso, na harmonia das forças da Natureza, a nobreza de um indivíduo que não se corrompe etc.

(Créditos: Mundo Educação)

Já dizia o ditado que “os olhos são as janelas da alma”. Não seria uma dica sobre o invisível por trás do visível? Se os objetos concretos trazem consigo beleza, imagine a beleza da ideia que os gerou! Vivemos num momento em que todas as nossas atenções estão voltadas para as aparências e, consequentemente, esquecemos da importância das essências. Será que não temos dedicado nossa energia de forma contrária e focado somente naquilo que os olhos físicos podem ver?

Talvez seja a nossa verdadeira meta passarmos a enxergar não somente com os nossos olhos visíveis, mas principalmente com o nosso coração. Lembremos o que Exupéry nos ensina com o Pequeno Príncipe: “O essencial é invisível aos olhos”. Então, vamos tentar enxergar melhor o mundo com os olhos da alma.

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