Ares ou Atena: Como Resolver Conflitos com Sabedoria?

Resolver conflitos faz parte da vida, afinal, o conflito é uma força da natureza que impulsiona o movimento e a transformação no Universo, mesmo quando surge da relação – nem sempre harmônica – entre forças opostas. Assim, para uma galáxia ou estrela ser formada, é necessário a colisão de uma infinidade de elementos químicos que, a todo momento, estão entrando em combate uns com os outros.

Partindo dessa perspectiva, precisamos entender que estar em conflito é, em algum modo, buscar aprender e evoluir – evidentemente, quando é feito com consciência. Desde pequenas discussões até grandes decisões que envolvem muitos interesses, viver é, inevitavelmente, aprender a lidar com o choque entre vontades, perspectivas e emoções. E quando falamos de conflito, não é raro que venham à mente imagens de guerra, confronto, luta; afinal, essas também são expressões de conflitos que chegaram até o extremo. 

Porém, se pensarmos nisso de forma mais simbólica, mais humana e profunda? E se, em vez de apenas falar de brigas ou divergências, falarmos de como enfrentamos esses momentos internamente?

Representação artística de Ares e Atena simbolizando diferentes formas de resolver conflitos
Ares e Atena: forças opostas na gestão de conflitos

Para tanto, precisamos recorrer à mitologia e, nesse caso, usaremos a mitologia grega. Dois deuses representam esse aspecto combativo da natureza: Ares e Atena. Ambos são deuses da guerra, mas suas formas de atuar são completamente diferentes. Ares é o deus da guerra violenta, do combate impulsivo, da fúria; Atena é a deusa da guerra estratégica, da inteligência, da sabedoria e da justiça. São dois modos de encarar o mesmo fenômeno, o conflito, e ambos vivem dentro de nós.

Quem são Ares e Atena?

Antes de refletirmos como podemos usar essas duas ideias em nosso cotidiano, precisamos conhecer mais profundamente cada uma dessas divindades. Na mitologia grega, Ares era filho de Zeus e Hera, e era temido até pelos próprios deuses. Ele representava a guerra em seu aspecto mais brutal e sangrento. Era a sede de destruição, a violência descontrolada, a raiva cega e, ao mesmo tempo, um eterno combatente. Ares gostava do caos e do confronto pelo confronto, estava a todo tempo procurando maneiras de expressar seu desejo de combater. Sua presença nos mitos, muitas vezes, trazia desordem e sofrimento, mesmo para seus aliados.

Já Atena, filha de Zeus, nasceu da cabeça do pai, já adulta e armada, simbolizando a sabedoria que surge da mente, com suas armas prontas para serem empunhadas. Ela era a deusa da guerra justa, da estratégia, da razão. Atena não evitava a luta quando era necessária, mas buscava soluções inteligentes e pensava nos desdobramentos das batalhas. Também era deusa das artes, da justiça e da civilização, o que representava quase um oposto do seu irmão Ares, apesar de ambos lidarem com o mesmo atributo da natureza: a guerra.

Portanto, Ares representa a guerra emocional, visceral, impulsiva, aquela que geralmente nasce do nosso instinto de sobrevivência. Já Atena simboliza a guerra pensada, controlada, estratégica. Ambos têm força, mas de naturezas opostas.

Para alguns, observar os mitos dessa forma pode parecer um tanto quanto ingênuo; porém, a grande beleza da mitologia é que seus mitos não são apenas histórias do passado: são metáforas da alma humana. Quando nos vemos diante de um conflito, seja com um colega de trabalho, um marido ou esposa, um amigo ou até mesmo com um desconhecido no trânsito, Ares e Atena se manifestam em nossa psique.

Imagine a seguinte cena: você está no supermercado, cansado, com pressa, e alguém passa na sua frente na fila. Seu primeiro impulso pode ser gritar, reclamar, empurrar o carrinho na frente da pessoa. Isso é Ares em ação. Quem de nós nunca sentiu esse desejo, principalmente quando estamos com pressa ou focados em algum aspecto de nossa personalidade? Porém, certamente você também pode respirar fundo, refletir, talvez conversar com a pessoa de forma assertiva e educada para resolver a questão. Isso é Atena.

Pessoa irritada em um supermercado versus pessoa respirando fundo para manter a calma
Escolher entre o impulso e a reflexão no dia a dia

Esses dois modos de ação estão sempre disponíveis dentro de nós. O que muda é qual deles escolhemos escutar. E essa escolha pode transformar o rumo das coisas.

Ares: o impulso, a força e o desejo de vencer

Como saber quando estou agindo tal qual Ares? Precisamos observar as características dessa divindade e notá-las em nosso comportamento. Sendo assim, sabemos que Ares age por impulso e representa esse aspecto físico do conflito, o qual tende a resolver as situações por meio da força e da imposição. Em que momentos usamos esse tipo de atitude para resolver um problema?

DALL·E 2025 05 14 14.06.52 A digital artwork of Ares the Greek god of war standing in an imposing stance in a bright ancient Greek environment at midday. He is wearing dark o
Ares

Em geral, quando nos sentimos desrespeitados, humilhados ou ameaçados, é comum que a energia de Ares tome conta de nós. Ele nos leva a atacar antes mesmo de pensar ,e o instinto de sobrevivência acaba se misturando com orgulho e raiva. O resultado final dessa combinação, em geral, não é positivo e traz uma série de consequências negativas: brigamos com nossos amigos, podemos entrar em um conflito violento com outra pessoa e, em geral, nos sentimos mal após tomar tais atitudes.

O problema de agirmos tal qual Ares é que, embora a sensação momentânea seja de alívio ou superioridade, principalmente quando saímos vitoriosos desse conflito, frequentemente nossa relação com os outros piora. A outra pessoa se sente atacada e reage também no modo Ares, criando um efeito devastador e que, muitas vezes, nos faz perder amigos, cortar relações e criar muros ao invés de pontes em nosso convívio social.

Na prática, agir no modo Ares, muitas vezes, é sinal de que estamos fragilizados. Em vez de pensar, reagimos. E pagamos o preço por isso: nos relacionamentos, na saúde emocional, na vida profissional.

Atena: a estratégia, o diálogo e a busca por solução

Atena, por outro lado, nos convida a pensar. Devemos alertar que não podemos pensá-la como uma divindade passiva, ou seja, que aceita o conflito e apenas absorve de modo a não agir. Atena é, acima de tudo, uma divindade guerreira e, por isso, está sempre no campo de batalha. Ela luta, mas apenas quando necessário. E quando luta, faz isso com sabedoria, calculando os riscos, buscando o melhor desfecho possível para todos os envolvidos.

Atena
Atena

Um exemplo prático de como podemos ser guiados por Atena para a dissolução de conflitos é este: Imagine que você tem um colega de trabalho que constantemente faz comentários que te incomodam. Enquanto Ares quer que você o confronte na frente de todos, com raiva, Atena sugere que você converse em particular, explique como se sente e proponha uma mudança de comportamento. Qual dessas opções tende a resolver o problema de forma mais eficaz e respeitosa, sem causar danos a ambos os lados?

Atena surge quando temos consciência de nós mesmos. Quando respiramos antes de reagir, quando pensamos no que queremos construir, e não apenas no que queremos destruir. Visto isso, escolher Atena não é ser fraco, mas sim ser forte o bastante para não se deixar dominar pela raiva; é ser maduro o bastante para saber que, muitas vezes, o verdadeiro poder está em construir pontes, não em erguer muros.

É preciso discernir sobre como devemos agir

É importante dizer: Ares não é “o vilão”, nem Atena, “a heroína”. Ambos são arquétipos importantes. Há momentos em que é preciso firmeza, energia, coragem para agir, assim como em muitos momentos é preciso ter uma estratégia e criar uma oportunidade valiosa para atuar. Além disso, essas duas maneiras de agir precisam estar a serviço de algo maior: a resolução do conflito de maneira harmônica. Por isso, a rigor, é fundamental que sejamos guiados pela sabedoria de Atena.

O segredo está no equilíbrio. Saber quando calar e quando falar, quando recuar e quando avançar, quando ceder e quando impor limites. Em alguns momentos, é natural que precisemos do impulso de Ares para sair de uma situação de abuso ou injustiça, quando algo está em um ponto-limite em que precisamos nos defender fisicamente de outra pessoa. Porém, para manter uma relação saudável ou tomar uma decisão com clareza, Atena precisa estar no comando.

Balança simbolizando o equilíbrio entre emoção e razão na resolução de conflitos
O equilíbrio entre emoção e razão para resolver conflitos

Visto isso, podemos entender que Ares e Atena não são apenas deuses cultuados na Antiga Hélade. Pelo contrário, se reconhecemos seus símbolos, podemos percebê-los a todo momento, dentro de cada um de nós Toda vez que nos sentimos provocados, temos uma escolha: agir com raiva ou com sabedoria, com impulso ou com estratégia, com gritos ou com argumentos.

Por fim, é fundamental entender que escolher Atena é escolher uma vida mais consciente, mais justa, mais construtiva. Não é negar o conflito, mas enfrentá-lo de forma a transformá-lo, não destruí-lo. Já Ares, se usado sem controle, tende a nos aprisionar em um ciclo de reações que apenas agravam o que queríamos resolver. Com essas ideias em mente, que cada conflito da vida – grande ou pequeno – seja uma oportunidade para refletir: qual deus vou deixar agir em mim hoje? Espera-se que, mais vezes, a resposta seja Atena.

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