Ano galáctico: o eterno movimento do nosso Cosmos

O que é o tempo? Certamente essa é uma pergunta que podemos achar fácil e difícil, ao mesmo tempo. Fácil porque, querendo ou não, estamos a todo momento pensando sobre o tempo. Comumente, falamos frases como “estou sem tempo para nada!” Ou ainda “precisamos ver um tempo para conversarmos”. A todo momento, sentimos as marcas do tempo em nossas vidas, seja porque lembramos de um período de nossas existências, ou porque precisamos planejar o futuro ou ainda por necessitarmos viver o presente e todas as suas demandas. Assim, tal qual no mito de Cronos, o titã do tempo que engolia seus filhos, sentimo-nos, a todo momento, perseguidos por esse gigante que uma hora há de nos devorar.

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Entretanto, deixando um pouco a poesia e a mitologia de lado, o que é o tempo, objetivamente? Por definição, “tempo” nada mais seria do que a sucessão de eventos que ocorrem indeterminadamente, ou seja, que está sempre a passar e faz com que os Seres Humanos o definam através de três conceitos: passado, presente e futuro. Como o tempo não para e segue sua jornada ao futuro, a todo momento, estamos vivenciando um pouco destes três mundos. Por causa dessa característica, acabamos separando o tempo naquilo que já passou, no que está sendo e no que virá, porém, essa percepção do tempo é algo propriamente humano, uma vez que racionalizamos essa realidade da natureza. 

Dessa maneira, os animais, as plantas e os demais seres do Universo, por exemplo, não vivem ansiosos pelo futuro, ou nostálgicos com o passado. Eles estão vivendo simplesmente o momento presente, sem desconfiar que um dia serão vencidos por essa força da natureza. O tempo, em sua condição mais sublime, portanto, está diretamente relacionado à consciência, pois é através dessa percepção de que “tudo passa” que podemos lidar com questões profundas acerca da vida, como a morte por exemplo. Assim, o tempo é, em última análise, uma percepção humana de uma realidade cósmica, uma dimensão na qual podemos nos debruçar sobre o que vai além da nossa própria existência. 

Não por acaso, todas as grandes civilizações humanas desenvolveram formas de lidar com o tempo e sua marcação. Calendários, divisão do ano em estações, Mitos e Deuses voltados para esse elemento da natureza, além das próprias angústias causadas pelo temor do futuro incerto, da falta de tempo e outras tantas questões que, até hoje, nos fazem pensar sobre o assunto. Assim, o tempo é uma categoria que faz parte não apenas da natureza, mas, principalmente, da maneira como nos relacionamos com o mundo.

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Porém, todos os artifícios que criamos para a contagem e o “controle” do tempo são, em síntese, arbitrários. Definimos o que chamamos de “dia” ou “ano” a partir do movimento de rotação e translação da terra, porém, outros planetas e corpos celestes estão se movimentando de maneira similar, mas com durações distintas. Assim, sabemos que cada planeta do nosso sistema solar, por exemplo, tem um período de rotação e translação distintos, fazendo com que, aquilo que chamamos de “dia” e “ano”, não passem de posições relativas.

Não nos entenda mal, os calendários e demais ferramentas que usamos para determinar nosso tempo são preciosos, porém, quando ampliamos nossa visão para o Cosmos, percebemos que não é possível enquadrar o tempo em uma forma única, muito menos linear, como estamos acostumados. Diferentemente disso, uma das principais marcações temporais da natureza se baseia não em uma linha, ou seja, no contínuo avanço rumo ao futuro, mas sim em ciclos, sendo um movimento eternamente de repetições.

Para ficar mais claro, pensemos nas estações do ano: há a primavera, depois o verão, outono e por último o inverno, não é mesmo? O que ocorre após o inverno? Um novo ciclo se inicia com a primavera. Assim caminha a natureza, dando passos firmes através de movimentos cíclicos. Em nossa experiência humana, quando nos relacionamos com os anos o fazemos de modo que um ano suceda o outro, como um movimento linear. Assim, caímos na ilusão de que o ano de 2022, por exemplo, está muito à frente do ano 1022, ou mesmo 2022 a.C. 

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Pensamos, de maneira quase fantasiosa, que o fato de estarmos no “futuro” nos torna seres humanos melhores, mais capacitados e, em resumo, mais desenvolvidos do que as pessoas que viveram há milhares de anos. Essa é a falsa ilusão do tempo linear. Achamos que, por estarmos em um momento em que a terra deu mais voltas em torno do sol, isso nos torna melhores do que quem viveu no passado. Para corroborar com essa visão, utilizamos alguns critérios, como o avanço da tecnologia para “provar” que somos mais evoluídos. Se essa, porém, fosse uma verdade em si, por que não há, em nosso momento histórico, pensadores tão sofisticados quanto Platão, Pitágoras, Aristóteles, Sócrates e tantos outros que viveram na Grécia Antiga, por exemplo?

Poderíamos passar uma centena de páginas debruçados sobre essa questão do tempo, sempre tão interessante e fascinante para os mais diversos ramos do conhecimento. Porém, partindo da percepção de que a sua natureza é cíclica, hoje apresentaremos uma ideia advinda da física, chamada de “Ano Galáctico”. O ano galáctico, em resumo, é o tempo em que o sol, o nosso “astro-rei”, leva para completar uma volta ao redor do centro da nossa Galáxia. Sim, o sol, assim como tudo no Universo, está em um eterno movimento baseado na lei da gravitação universal, ou seja, assim como o nosso planeta é atraído pela massa do sol e tende a órbita-lo, o sol, por sua vez, é atraído pela massa do centro da galáxia e também a orbita.

O tempo, porém, para transcorrer um ano galáctico é extremamente alto, sendo marcado em 230 milhões de anos terrestres. É através dessa unidade de medida, por exemplo, que podemos fazer grandes cálculos e conhecer a História do Universo, que teria apenas 61 anos galácticos, ou 13 bilhões de anos. Entretanto, buscar esses grandes ciclos da natureza não é uma novidade para a humanidade. Hoje, através da ciência, somos capazes de estipular, com precisão, esses tempos que, para os Seres Humanos, beira o infinito, mas em tradições antigas já se buscavam, de igual modo, essa mesma medida. Na Índia Antiga, por volta de 3.000 a.C., falava-se na ideia dos Yugas ou nas idades da humanidade. Os Yugas nada mais eram do que etapas de um grande ciclo, chamado de MahaYuga, em que a humanidade, assim como o Universo, completaria sua experiência neste plano. Esses ciclos, porém, voltariam a se repetir inúmeras vezes a partir da respiração de Brahma.

Colocando em seu contexto para entendermos, Brahma era o Deus principal da religião Hindu, responsável pela criação do mundo. Frente a isso, os antigos Indianos acreditavam que quando Brahma expirava, o mundo (e tudo que compõe o universo) passava a existir. A esse movimento, eles chamavam de Manvantara. Porém, após sua expiração, o Deus inspirava e assim recolhia-se toda a matéria do Universo para dentro de si, e esse movimento era chamado de Pralaya. Desse modo, tal qual uma respiração humana, a respiração do Deus era responsável pela expansão e retração do Universo. O tempo, que são os Yugas, aconteceriam no intervalo entre a expiração e a inspiração de Brahma. 

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Essa é uma visão simbólica de uma lei da natureza – a lei dos ciclos. Podemos perceber que, até certo ponto, a ciência moderna corrobora com essa ideia. É certo que não pensamos que esse movimento seja realizado por um Deus, mas também é fato que a expansão do Universo, um dia, chegará ao fim e ele irá se recolher, de acordo com as algumas teorias científicas, até o seu ponto inicial, o Big Bang. Assim, os anos galácticos, usados como a marcação desses grandes ciclos, podem ser comparados aos Yugas Hindus, determinando etapas desse movimento dual.  

Partindo dessa perspectiva, é fundamental percebermos os ensinamentos que o tempo pode nos revelar. Por mais que falemos de datas, anos e ciclos, o verdadeiro aprendizado do tempo para nós está na nossa consciência. Não por acaso, há momentos que ficam gravados em nossa alma, como um registro atemporal de um aprendizado ou sentimento. O tempo, que a todo momento busca nos devorar, não alcança essa dimensão na qual reside a consciência. Por outro lado, quantas vezes passaram-se dias, semanas e até mesmo anos de maneira tão rápida que, quando voltamos nossa atenção, sentimos que nada aprendemos e que o tempo, tal qual a água que tentamos segurar em nossas mãos, escorria pelos nossos dedos?

Portanto, não nos preocupemos, enfim, com os grandes ciclos. Os anos galácticos, por mais longos e demorados, chegarão e talvez nos caiba apenas um vislumbre de como o mundo será até lá. Acima disso, é fundamental percebermos que essa dimensão temporal, um dia, irá destruir nossa carne, nossos ossos e tudo o que criamos. Porém, ela nunca poderá alcançar o nosso espírito que voa imortal perante as águas do tempo e do espaço. 

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